'Precisamos enaltecer quem doa', diz Fabiana Justus, que teve leucemia e passou por transplante
Convidada do 'Retratos do Câncer', ela falou sobre o susto no diagnóstico, a solidão do tratamento e o propósito ao divulgar a doença
A criadora de conteúdo digital Fabiana Justus destacou em entrevista no evento "Retratos do Câncer", realizado nesta quinta-feira, 31, em São Paulo, a importância de valorizar e incentivar a doação de sangue, medula óssea, plaquetas e órgãos. Ela enfrentou uma leucemia em 2024 e precisou passar por um transplante de medula.
"É fácil, mas não é tão fácil, então nós precisamos enaltecer quem doa. A pessoa para um tempo ali na vida dela para doar", afirmou. "A doação de medula óssea é mais fácil do que a gente imagina e você pode salvar vidas", enfatizou.
Segundo Fabiana, seu doador de medula é um homem de 25 anos dos Estados Unidos, com quem ela tinha 100% de compatibilidade. "Foi um milagre", disse. "Meu irmão por parte de mãe era 50% compatível comigo e os médicos disseram que ele poderia fazer o transplante se não achássemos um de 100%, mas nós achamos."
Eles trocaram cartas por meio dos médicos, sem saber a identidade um do outro, já que a identificação só pode ocorrer após o término do tratamento e apenas se doador e receptor autorizarem a revelação.
"Foi muito emocionante falar com o homem que doou a medula para mim. Os médicos disseram que eu só tinha seis linhas para escrever para ele e eu fiquei pensando 'como vou dizer em seis linhas tudo o que estou sentindo e o quanto sou grata?'", afirmou. "Eu atualizava o e-mail sem parar, esperando pela resposta dele, parecia começo de namoro (...) A resposta foi linda, não consigo nem descrever."
Ela contou que pretende conhecer o doador ao término do processo, se ele também desejar o encontro. "Pela resposta dele, acho que ele vai querer, sim", disse. Apesar de já não apresentar marcadores da doença, Fabiana ainda é acompanhado pelo risco de remissão.
Solidão, filhos e o diagnóstico da avó
Fabiana relatou ter feito exames de rotina meses antes de descobrir o câncer e os resultados não indicaram nada fora dos padrões. Ela ainda estava amamentando seu filho caçula, na época com cinco meses, quando começou a notar mudanças.
Primeiro surgiram sintomas como dores nas costas e enjoo. Quando a febre apareceu, ela decidiu ir ao pronto-socorro — e sua vida mudou. "Tudo aconteceu muito rápido."
O próprio médico do pronto-socorro, que a atendeu com as queixas de dores nas costas, enjoo e febre, deu a notícia de que poderia ser leucemia. O exame de sangue mostrou que cerca de 80% de suas células sanguíneas já haviam sido afetadas.
"Eu não tive chance de voltar para casa e me preparar. Eu já fiquei internada e comecei a quimioterapia", disse. "Fiquei em estado de choque, só pensava nos meus filhos. Tenho três filhos e estava amamentando. Tive que parar de amamentar."
Para contar sobre a doença para as duas filhas mais velhas, então com cinco anos, Fabiana utilizou um discurso lúdico. Disse que seus "soldadinhos estava fracos" e que o "hospital estava ajudando a deixar eles fortes de novo". "Não quis usar a palavra câncer porque eu tinha medo de algum amiguinho da escola dizer que um familiar morreu de câncer e isso assustá-las."
Foram cerca de 40 dias no hospital, tempo em que ela ficou isolada devido à queda na imunidade. "O tratamento da leucemia é muito solitário, por conta dessa necessidade de ficar isolado", comentou.
Fabiana falava com o marido e os filhos pelo telefone e via a família poucas vezes, sempre com a permissão dos médicos. Foi então que decidiu compartilhar nas redes sociais o que estrava passando. "Enxerguei um propósito muito grande."
"Conforme fui compartilhando, fui vendo o poder daquilo na vida das pessoas. Muitas pessoas me procuravam e me diziam que começaram a ver mais valor na vida, gente que estava passando por depressão dizendo que eu as ajudei a sair da cama", contou. Em seu perfil no Instagram, Fabiana acumula 4,5 milhões de seguidores.
As postagens sobre o tratamento ajudaram, inclusive, a avó de Fabiana, que descobriu ter leucemia pouco depois da remissão da doença na neta. "Ela disse que eu dei forças a ela", contou. Também em remissão, a matriarca comemorará 88 anos no próximo fim de semana. E comemorará com a neta.