PUBLICIDADE

Piora na qualidade alimentar pode formar geração de diabéticos e depressivos

Estudo aponta que brasileiro tem ingerido menos alimentos ricos em nutrientes, especialmente os mais pobres, devido à alta dos preços

29 jul 2022 - 05h00
Compartilhar
Exibir comentários
Brasileiro está comprando menos vegetais e mais biscoito e embutidos, mostra pesquisa
Brasileiro está comprando menos vegetais e mais biscoito e embutidos, mostra pesquisa
Foto: Mais Goiás

Um levantamento que analisou 500 milhões de notas fiscais do varejo alimentar revela piora na qualidade das refeições do brasileiro entre janeiro e junho de 2022 em comparação com o mesmo período do ano passado. As pessoas estão consumindo mais biscoitos e salgadinhos e menos verduras, legumes e frutas.

De acordo com o estudo, realizado pela Horus Inteligência de Mercado, esses produtos são mais baratos e, por isso, têm sido mais consumidos por famílias de baixa renda, principalmente entre as classes D e E, apesar do baixo valor nutritivo. Alimentos mais saudáveis, como os legumes, estão com preços cada vez mais altos.

A pesquisa aponta que já é 3,5% maior o volume de biscoitos nos carrinhos de compras dos brasileiros nos períodos comparados, ante uma queda de 2,9% na quantidade de frutas, 1,4% na quantidade de legumes e 1,9% na de verduras. Ainda segundo o levantamento, também tiveram aumentos significativos na mesa do brasileiro alguns substitutos para a carne bovina: ovos, linguiça, mortadela e frango.

Dieta pouco nutritiva

A nutricionista Carolina Pimentel explica que biscoitos e salgadinhos pertencem a grupos distintos das frutas, legumes e verduras, de modo que não são substitutos equivalentes.

"Nada substitui fruta, verdura e legume. Esse consumo de grupos de alimentos deve ser soberano, independentemente da forma de preparo", destaca.

Por outro lado, a nutricionista diz entender que valores e quantidades confundem o consumidor menos informado. 

"É claro que, para uma mãe que alimenta uma família de quatro crianças, ao ver um pacote de salgadinho, de 500g, pelo mesmo preço de uma maçã, ela entende que em volume, alimenta sua família muito mais. Então, é preciso que haja uma educação em relação a isso", explica Pimentel. 

Quem também classifica como prejudicial para o organismo essa substituição de alimentos é o médico Alexandre Duarte, especialista em fisiologia metabólica. Ele lembra que alimentos embutidos, como mortadelas e linguiças, são apontados em diversos estudos como relacionadas ao desenvolvimento de câncer.

"Vemos que a mudança atual do consumo alimentar está levando a população a uma alimentação mais industrializada e mais tóxica", aponta Duarte.

Saúde fragilizada no futuro 

De acordo com o médico Alexandre Duarte, a piora na qualidade da alimentação tem impactos negativos diferentes na saúde. O aumento de peso é uma consequência a médio prazo, enquanto que doenças relacionadas ao sistema metabólico podem surgir a longo prazo.

"Esse tipo de alimento [industrializados] é responsável por causar diabetes, síndrome metabólica e até mesmo câncer, além de estar relacionado com a depressão", acrescenta o fisiologista.

A nutricionista Carolina Pimentel também aponta que uma das principais consequências dessas escolhas é a chamada "fome oculta". Segundo a especialista, isso ocorre quando o indivíduo escolhe alimentos que possuem apenas densidade calórica, e não os nutrientes que o corpo precisa.

"A pessoa vai ter um peso normal ou, muitas vezes, excesso de peso, o que mascara a carência de vitaminas e minerais importantes", complementa.

De acordo com a nutricionista, essa deficiência vitamínica é passada de geração para geração.

"Uma forma de driblar isso é levar esse tipo de informação, que não existe nenhum substituto para esse grupo de alimentos. Precisamos de uma consciência coletiva, em termos de distribuir melhor esses alimentos para todo mundo. Não existe falta de alimentos, existe má distribuição", aponta. 

Educação alimentar

Para a nutricionista Carolina Pimentel, essa substituição se trata de algo que vai além da economia. Em sua avaliação, é "multicausal".

"É claro que o fator econômico existe, mas tem também um olhar cultural, social e uma falta de educação muito importante", diz. 

Os especialistas recomendam que as pessoas passem a, por exemplo, aproveitar os finais das feiras, popularmente chamadas de "xepas". Nesse momento, os preços dos alimentos caem e é possível comprar mais volume pagando menos.

Outras alternativas para não prejudicar a alimentação é evitar alimentos ultraprocessados, procurar carnes mais baratas, como frango ou porco; e apostar em vegetais mais acessíveis, como folhas e raízes. 

*Com edição de Estela Marques. 

Fonte: Redação Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade