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Febre hemorrágica brasileira: a doença rara e isolada que fez uma vítima em SP

Doença não era registrada no país havia mais de 20 anos; infectologista destaca que não há registros de transmissão entre humanos.

27 jan 2020 - 14h39
(atualizado às 16h31)
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Todos os casos já identificados no Brasil foram provocados pelo arenavírus, uma variante do vírus sabiá
Todos os casos já identificados no Brasil foram provocados pelo arenavírus, uma variante do vírus sabiá
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No dia 11 de janeiro, morreu em São Paulo um homem de 52 anos, vítima de febre hemorrágica brasileira, doença rara, isolada e de alta letalidade, que não era registrada no país havia mais de 20 anos.

De acordo com o Ministério da Saúde, o paciente, morador de Sorocaba, começou a apresentar os sintomas no dia 30 de dezembro de 2019 e passou por três diferentes hospitais, dois nas cidades de Eldorado e Pariquera-Açu, ambas no Vale do Ribeira, e um na capital paulista, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFM-USP).

Durante seu atendimento foram realizados exames para identificação de várias patologias, como febre amarela, hepatites virais, leptospirose, dengue e zika, com resultados negativos para todas.

Exames complementares foram realizados no Laboratório de Técnicas Especiais do Hospital Albert Einstein, que identificou o arenavírus, causador da febre hemorrágica brasileira.

Posteriormente, ainda houve confirmação por parte do Laboratório de Investigação Médica do Instituto de Medicina Tropical do HFFM-USP e do Instituto Adolfo Lutz.

Em nota, o governo afirma que, até o momento, não está confirmada a origem da contaminação do paciente. Contudo, segue tomando as medidas de investigação e monitoramento do vírus.

Também estão sendo monitorados, forma preventiva, os profissionais da saúde e os familiares que estiveram em contato com a vítima. O caso foi comunicado à Organização Mundial de Saúde (OMS) e à Organização Pan-americana da Saúde (OMS/OPAS), conforme protocolos internacionais estabelecidos.

Paciente passou por três hospitais e foi testado por diversas doenças até que se descobrisse a febre hemorrágica, que não era registrada havia mais de 20 anos
Paciente passou por três hospitais e foi testado por diversas doenças até que se descobrisse a febre hemorrágica, que não era registrada havia mais de 20 anos
Foto: Divulgação / BBC News Brasil

"É muito importante que as pessoas saibam que não há motivo para preocupação ou para correria até os postos de saúde. Essa é uma doença rara, restrita aos ambientes silvestres e sem registros de transmissão entre humanos", afirma Helena Sato, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo.

O que é a febre hemorrágica brasileira?

É uma doença provocada por vírus da família Arenaviridae. Na literatura médica, foram registrados há mais de 20 anos quatro casos humanos, sendo três adquiridos em ambiente silvestre, no Estado de São Paulo, e um por infecção em ambiente laboratorial, no Pará. Todos eles foram provocados pelo arenavírus, uma variante do vírus sabiá.

Como explica Silvia Maria Gomes de Rossi, infectologista e professora de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR), a transmissão da febre hemorrágica brasileira se dá por inalação de partículas provenientes de urina, fezes ou saliva de roedores infectados.

"Os hospedeiros dos vírus são roedores silvestres, ou seja, que vivem em ambiente de mata e com alta densidade de vegetação. Por isso, o risco é maior no interior e em áreas rurais", explica a médica.

O Ministério da Saúde relata que pode haver a transmissão entre seres humanos quando há contato muito próximo e prolongado com pessoas doentes, sobretudo em ambientes hospitalares, e se não forem tomadas medidas de prevenção ou usados os equipamentos de proteção necessários.

"Ainda assim, não há motivo para pânico, já que não temos nenhuma notificação do tipo", pontua Silvia.

Quais são os sintomas da doença?

Os principais são febre, mal-estar, dores musculares, manchas vermelhas no corpo, dor de garganta, dor de estômago e atrás dos olhos, dor de cabeça, tonturas, sensibilidade à luz, constipação e sangramento de mucosas (boca e nariz, por exemplo).

"Inicialmente, a febre hemorrágica pode ser confundida com outras doenças, como febre amarela e dengue", adverte Helena Sato.

Conforme o quadro evolui, há risco de comprometimentos neurológico (sonolência, confusão mental, alteração de comportamento e convulsão) e hepático (hepatite).

'Os hospedeiros dos vírus são roedores silvestres, ou seja, que vivem em ambiente de mata e com alta densidade de vegetação. Por isso, o risco é maior no interior e em áreas rurais', diz médica
'Os hospedeiros dos vírus são roedores silvestres, ou seja, que vivem em ambiente de mata e com alta densidade de vegetação. Por isso, o risco é maior no interior e em áreas rurais', diz médica
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O início dos sintomas se dá de 6 a 14 dias, podendo variar de 5 a 21 dias, após a exposição ao vírus - esse intervalo de tempo é chamado de período de incubação.

Como é o tratamento?

Silvia, infectologista e professora FEMPAR, diz que ainda não existem tratamentos específicos ou vacina para a febre hemorrágica brasileira.

"O que se faz é administrar medicamentos conforme o quadro clínico e os sintomas que o paciente apresenta", informa a médica.

Como se prevenir da doença?

A melhor forma de prevenção é evitar o contato com roedores silvestres encontrados em áreas rurais e de mata, salientando que lixões e locais com acúmulos de itens como lenha, produtos agrícolas, palha e feno são os habitats preferenciais desses animais.

Também é importante manter os ambientes limpos, sem poeira, lixo e entulhos, arejar e se possível molhar o chão de galpões ou abrigos que tenham permanecido fechados por muito tempo ou apresentem sinais evidentes de presença de roedores.

Aos profissionais de saúde, o Ministério da Saúde recomenda o uso de equipamentos de proteção individual, como luvas, gorros, aventais descartáveis, óculos protetores e máscara N95, bem como a desinfecção das mãos, que deve ser realizada antes e após o contato com os pacientes.

Ao apresentar algum dos sintomas, o que fazer?

Nesta situação, deve-se procurar atendimento médico e relatar ao profissional se teve contato com roedores silvestres, pessoas doentes ou ainda história de viagens, presença em fazendas, parques ou atividades de ecoturismo.

O diagnóstico da doença é feito por exame de biologia molecular, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) — as amostras da rede privada deverão ser encaminhadas à rede pública.

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