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Engajada na defesa do direito das mulheres, a psicanalista Manuela Xavier ajuda mulheres nas redes

Assuntos que vão do feminismo a psicanálise surgem como ferramentas para empoderar mulheres e livrá-las da objetificação e submissão

23 set 2022 - 10h47
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Em um mundo saturado por padrões e narrativas pré-determinadas ao comportamento feminino, Manuela se coloca tal qual um furacão, forte e desobediente aos ditos do patriarcado. "Com a internet eu fui me infiltrando, no sentido da água que vai batendo pelas brechas", diz. "Eu costumo dizer que o trabalho que faço é construído em coletivo, há um espaço de muitas trocas com pessoas que estão em momentos diferentes da vida."

Manuela reviveu sua história em um relacionamento abusivo para escrever seu último livro, destinado a alertar outras mulheres quanto aos sinais. "Se não falamos de relacionamento abusivo vamos continuar empobrecendo as mulheres. A quantas violências institucionais e sociais somos submetidas. Acho que é importante rompermos o silêncio."

"Sou feliz fazendo o trabalho que faço na internet, porque é como se eu pudesse tirar as vendas dos olhos das mulheres", descreve a psicanalista Manuela Xavier que, no seu perfil do Instagram, se dedica a despertar a potência feminina que existe em cada uma de nós. Foi por intermédio de seus conteúdos sobre feminismo e psicanálise que Manuela já atingiu mais de 400 mil seguidores na rede social, transmitindo autoconhecimento ao democratizar a informação e trazer uma visão crítica sobre a realidade das mulheres.

Engajada e politizada, Manuela se apropria de seus espaços e abre caminhos para outras mulheres que, assim como ela, possuem a força do próprio desejo para alcançar lugares tidos como limitados. "Ao longo do caminho fui me sentindo mais convocada a alcançar mais pessoas, porque entendi que existia uma narrativa dominante, que quer colocar a gente nesse lugar de submissão, de objetificação e de um lugar menor", destaca.

Com o público majoritariamente feminino, a interrogação que se apresenta à maioria das mulheres nas conversas com Manuela diz respeito aos relacionamentos. E é partir dessas angústias transmitidas por seu público que a psicanalista traz reflexões importantes sobre as origens de suas inseguranças e seus medos, sensações que acompanham as mulheres ao longo da vida.

"A grande queixa é a insegurança e a baixa autoestima, vinculadas ao medo do abandono, ao medo da rejeição e do fracasso. Há muitos relatos também de 'síndrome da impostora', mas eles são apresentados de muitas formas, muito ancorados na questão dos relacionamentos - e isso vai fazendo a mulher se sentir insegura para seguir sozinha o caminho em que acredita."

Acolhimento

Durante a pandemia, o número de casos de violência doméstica aumentou - muitas mulheres tiveram de conviver num mesmo espaço com seus agressores. Ao identificar essas notificações, e a fim de oferecer apoio gratuito e acessível às vítimas, Manuela criou os projetos Escuta Ética e Nós, Seguras!, coletivos que ofertam atendimento psicológico e jurídico às vítimas de violência doméstica e vulnerabilidade social. Em 2021, foram mais de mil mulheres atendidas. Os coletivos também atuam em regime de plantão em datas comemorativas e feriados.

"Isso veio de uma urgência mesmo. Pensei que nós precisávamos de algum lugar de acolhimento, de prática", afirma. "A mulher pode ter acesso a um lugar em que poderá contactar uma advogada e também ter acesso a uma psicóloga que vai atendê-la e poder trabalhar esses traumas e essas dores. Todas essas vias servem para liberar cada mulher de um lugar em que esteja capturada. Então, meu trabalho na internet é muito pensado em quem são as pessoas que precisam."

Autoconhecimento

Por meio das leituras dirigidas de livros como Mulheres Que Correm com os Lobos e Complexo de Cinderela, a psicanalista traduz conceitos importantes que as mulheres podem levar para a vida prática e, dessa forma, modificar a forma como enxergam as próprias questões. "As mulheres pensam que é um problema delas, como a dependência emocional. Não, você não tem. Dependência emocional é algo implantado nas mulheres. Se fosse de todos, por que os homens não têm? Algum babado tem aí."

Dessa maneira, a partir do entretenimento, Manuela ressalta a importância de trazer conteúdos leves e divertidos sobre temas complexos. "Fui adaptando meu conteúdo de modo que ele pudesse ser claro, porque comecei a ter esse incômodo também na universidade. Na psicanálise há conceitos muito complexos. Como você diz isso para uma pessoa que não estuda esse assunto?"

Estadão
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