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Dieta da vez é apostar dinheiro para emagrecer

25 mar 2009 - 10h20
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Daniela Talamoni Verotti

Kika Gianesi apostou com o sogro Wilson e ganhou R$ 1000
Kika Gianesi apostou com o sogro Wilson e ganhou R$ 1000
Foto: Marcelo Pereira / Terra

Depois de se fartarem com as tentações gastronômicas de um hotel-fazenda, durante uma viagem de família, nora e sogro chegaram à conclusão de que precisavam emagrecer urgentemente. Ele, sempre brincalhão, sugeriu uma aposta: quem perdesse mais peso até o final do ano ganharia R$ 1 mil. Quatro meses depois, ela ficou com o dinheiro, mas ambos comemoraram (em um bom restaurante, claro!). Juntos, eles ficaram livres de 21 kg - 13kg dela e 8kg dele.

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Quem achou a idéia original pode se surpreender. A atitude da diretora de arte Kika Gianesi, de 33 anos, e do empresário Wilson Roberto de Souza, 55 anos, de São Paulo, já virou a mais nova estratégia de luta contra a balança não só aqui no Brasil. Segundo matéria publicada em fevereiro na versão eletrônica do jornal americano The New York Times, fechar a boca para não ter que colocar as mãos no bolso é cada vez mais comum entre colegas, especialmente em escritórios.

Nesses locais, colocar o salário em jogo em nome de uma silhueta mais esguia, portanto, parece ser a única motivação para alguém começar a se mexer. Prova disso foi o que ocorreu na aposta dos funcionários de uma empresa de internet nos Estados Unidos. Entre o esforço da equipe e tentativas de boicotes - como deixar um chocolate tentador na mesa do concorrente -, a competição ficou acirrada quando um colega da turma emagreceu e ainda ganhou US$ 20 por isso. "Não sou competitivo, mas, depois disso, comecei a levar a sério", disso Samwoo Ee, um dos participantes, de acordo com informações do NYT.

O impacto positivo dessas apostas - ao menos a curto prazo - foi até comprovado cientificamente. Estudo publicado em dezembro de 2007 pelo Journal of the American Medical Association mostrou que incentivos financeiros aumentam as chances de alguém emagrecer. Em quatro meses, cerca da metade dos voluntários (47,4% de um grupo, 52,6%, de outro) que iriam receber recompensa em dinheiro caso emagrecessem conseguiu perder peso contra apenas 10% das pessoas que não tinham qualquer motivação econômica para isso.

Quando todos vencem

A endocrinologista Anete Hannud Abdo, do Projeto de Atendimento ao Obeso (Prato), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, é a favor das apostas em algumas situações. "Dependendo de como são feitas, elas são válidas e podem até servir de estímulo a mudanças de atitude", garante. Exemplo disso é a experiência bem-sucedida de um paciente, o empresário Alexandre Ferrari. Durante uma consulta, ele contou para a médica Anete que, após sugerir em sua empresa de produtos de beleza uma aposta para emagrecer, uma de suas funcionárias, com formação em nutrição, se dispôs a dar palpites no processo de emagrecimento e no cardápio do almoço e na hora do cafezinho.

Desde então, não faltam saladas de frutas à tarde, sucos light e outras opções magrinhas à disposição dos funcionários. A mudança de hábito no escritório afetou a vida fora dele. "Todo mundo está se mexendo. Alguns foram procurar tratamento médico para perder peso, outros começaram a fazer exercícios. A aposta despertou uma consciência coletiva para a qualidade de vida", conta Alexandre, que passou do manequim 56 para o 48, ao perder 18 quilos com essa iniciativa.

Hoje, a recompensa financeira oferecida a cada dois meses para o funcionário que mais emagrece é tão empolgante quanto outras conquistas - físicas e emocionais - propiciadas pela mudança. Para a médica Anete, nesta empresa, ocorreu justamente o inverso do que demonstrou certa vez um artigo publicado em revista estrangeira, afirmando que a obesidade (entenda-se os maus hábitos associados à doença) é contagiosa. "Neste caso, foi o comportamento mais saudável de cada "competidor" que acabou contagiando o grupo", afirma.

Como em toda aposta, há riscos

De acordo com outros especialistas, essas apostas podem sair muito mais caro do que as pessoas imaginam. Para o endocrinologista Márcio Mancini, presidente da Associação para o Estudo da Obesidade (ABESO), a maioria desses "competidores" não conseguirá uma redução de peso a longo prazo. E pior: pode recuperar rapidamente os quilos perdidos.

"Não há uma preocupação em cultivar hábitos saudáveis para a vida, mas em conseguir vencer e ficar com o dinheiro no final. Muitas pessoas podem recorrer a métodos para acelerar o emagrecimento, como o uso de laxantes e diuréticos", explica o médico.


Mancini também chama a atenção para o fato de as pessoas ainda encararem o excesso de peso como algo que depende apenas da vontade de emagrecer - e que dispensa cuidados médicos . "Ninguém aposta com o colega quem irá conseguir reduzir os níveis de colesterol ou açúcar no sangue, por exemplo. As pessoas buscam tratamento para isso", explica. De acordo com o médico, o dinheiro apostado seria melhor investido em uma mudança de comportamento - que inclui a consulta a um endocrinologista ou nutricionista.

Já o psiquiatra Ezequiel Gordon, do Projeto de Atendimento ao Obeso (Prato), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, se preocupa com o efeito emocional negativo que o resultado da aposta pode provocar em certas pessoas. "Quem perde e tem o histórico de baixa auto-estima pelo excesso de peso e pelas tentativas frustradas de emagrecimento poderá sofrer com uma sensação ainda maior de culpa e fracasso", alerta o médico.

Fonte: Redação Terra
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