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China recomenda cloroquina contra covid-19, mas rejeita hidroxicloroquina

Embora sejam medicamentos com benefícios clínicos parecidos, a hidroxicloroquina costuma ser vista como mais segura por possuir menos efeitos colaterais; remédio não tem eficácia comprovada contra covid

21 ago 2020 - 10h38
(atualizado às 11h13)
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Nas novas diretrizes de tratamento e diagnóstico contra covid-19 publicada na quarta-feira, 19, a China rejeitou o uso de hidroxicloroquina para tratar a doença, mas recomendou a cloroquina, informa o jornal South China Morning Post. Os medicamentos não possuem eficácia comprovada contra o novo coronavírus.

Tradicionalmente usados contra malária, os dois remédios têm formulações diferentes, entretanto usam a mesma substância - cloroquina - e possuem benefícios clínicos parecidos. A hidroxicloroquina, no entanto, é comumente vista como mais segura por provocar menos efeitos colaterais.

"O uso da hidroxicloroquina, ou o uso em combinação com a azitromicina, não é recomendado", publicou a Comissão Nacional de Saúde chinesa na primeira atualização das diretrizes contra o novo coronavírus desde 3 de março. Documentos anteriores não mencionavam o remédio. A publicação também acrescenta que a cloroquina pode continuar a ser administrada a pacientes da doença.

"Algumas drogas podem demonstrar algum grau de eficácia em estudos de observação clínica, mas não há antivirais efetivos confirmados por estudos duplo-cego e controlado por placebo", afirma a comissão.

Por não apresentar benefícios contra a covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) descontinuou as pesquisas com a hidroxicloroquina em junho. No mesmo mês, a agência reguladora de drogas dos Estados Unidos, FDA, revogou a autorização para uso emergencial da cloroquina e da hidroxicloroquina.

No Brasil, estudo realizado com 667 pacientes demonstrou que a hidroxicloroquina não funciona para casos leves e mderados da doença. Ainda assim, o Ministério da Saúde liberou a administração do medicamento para todos pacientes de covid-19. Embora já tenha admitido que não há comprovação científica dos benefícios, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) continua a defender o remédio no tratamento contra o novo coronavírus.

O cientista e médico Zhong Nanshan, responsável pela descoberta do coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (Sars) e referência em tratamento respiratório na China, também é um defensor da cloroquina. Em maio, Nanshan publicou uma pesquisa revisada por pares na revista científica National Science, afirmando que em testes com 197 pacientes, o remédio pareceu ter benefícios contra a doença.

Entretanto, neste estudo, os resultados foram comparados com dados históricos de outros pacientes, ao invés da comparação com um grupo randomizado que recebeu placebo, método que é considerado o padrão de ouro para testes clínicos.

Especialista em medicina respiratória da Universidade Chinesa de Hong Kong, David Hui Shu-cheong disse que a cloroquina e a hidroxicloroquina são similares, o que torna as novas diretrizes contraditórias.

"Os dois medicamentos são iguais. Três organizações já abandonaram o uso da hidroxicloroquina. Essas incluem a OMS e o estudo clínico britânico Recovery, já que testes mostraram que não há benefícios" afirmou Hui ao South China Morning Post.

Remdesivir e dexametasona

Glicocorticoides permanecem nas diretrizes de tratamento da China, mas não há referência específica à dexametasona, medicamento recomendado pela OMS e que reduziu mortes entre pacientes graves em um terço num estudo em larga escala controlado realizado pela Universidade de Oxford.

Outras drogas recomendadas na lista foram interferon e umifenovir, também ribavirina em conjunto com lopinavir ou com ritonavir.

Remdesivir, um antiviral desenvolvido pela farmacêutica norte-americana Gilead e aprovada pelos Estados Unidos, Europa e Hong Kong no tratamento de covid-19, não está no documento atualizado.

Cientistas chineses conduziram testes duplo-cego do medicamento com número limitado de pacientes, mas não encontraram benefícios, segundo estudo publicado na revista científica The Lancet em abril.

Estadão
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