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4 em cada 5 crianças e adolescentes se exercitam menos de uma hora por dia

Taxa brasileira de inatividade física (83,6%) é maior do que a média mundial, e as meninas fazem menos exercícios do que os meninos, segundo estudo divulgado pela Organização Mundial de Saúde. Tempo em frente às telas ajuda a explicar sedentarismo

22 nov 2019 - 20h56
(atualizado às 23h56)
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SÃO PAULO E SOROCABA - Quatro em cada cinco crianças e adolescentes brasileiros entre 11 e 17 anos realizam menos atividade física do que a uma hora diária recomendada. A porcentagem constatada no País (83,6%) é maior que a média mundial de 81%, de acordo com estudo divulgado nesta sexta-feira, 22, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na revista científica The Lancet, e realizado em parceria com Imperial College London e Universidade da Austrália Ocidental. Para a OMS, ações urgentes são necessárias, como políticas voltadas ao aumento da atividade física, principalmente para garotas.

Os dados mostram que em 15 anos, entre 2001 e 2016, a realidade brasileira pouco se alterou, passando de 84,6% para os atuais 83,6% de jovens sem a frequência de exercícios recomendada. Entre os meninos, as atividade físicas são mais frequentes, mas 78% ainda não as realizam dentro do padrão recomendado. Entre as meninas, esse número chega a 89,1%, seguindo uma tendência mundial que a OMS pretende combater. Para isso, a organização pede políticas específicas para promover, atrair e manter garotas ligadas a essas atividades.

No mundo, a variação ao longo das duas últimas décadas foi mais significativa entre os garotos do que entre as garotas. No sexo masculino, a falta de atividade passou de 80,1% para 77,6%, enquanto que no sexo feminino a queda foi de 85,1% para 84,7%. O estudo alerta que, se a tendência continuar, a meta estabelecida de se reduzir 15% não será alcançada até 2030.

"Em todas as regiões (do mundo), meninas foram menos ativas que meninos, com diferenças significativas em sete de nove regiões", detalha o estudo. Foi nas Filipinas que a falta de atividade física acabou mais sentida entre os meninos (92,8%); já na Coreia do Sul foi onde o porcentual para as meninas foi o mais alto (97,2%). Bangladesh é o lugar onde os jovens mais praticaram atividades. Mesmo assim, ainda há 66,1% de crianças e adolescentes longe de atingir a meta estipulada.

Os pesquisadores destacam que os benefícios de um estilo de vida fisicamente ativo são bem conhecidos. Eles incluem a melhora cardiorrespiratória e muscular, além de efeitos sobre os ossos e o metabolismo. Os benefícios para a saúde se estendem da adolescência para a vida adulta, com impacto ainda sobre a atividade cognitiva e a sociabilidade comportamental.

Padrão urbano

O endocrinologista Mario Carra, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), vê os números ligados a um padrão mais urbano de vida. "As crianças ficam mais isoladas e se dedicam a fazer as coisas mais fáceis, passando muito tempo em frente a telas, seja de televisão, computador ou videogame", disse. A rotina, explicou, pode levar a uma ingestão calórica maior. "O maior problema da falta de atividade é o fato de isso ser o primeiro passo para o aumento de peso, podendo levar a uma série de eventos associados à obesidade, como hipertensão, diabete. A atividade física ajuda a manter os padrões metabólicos estáveis."

Família de Patins

Enquanto os amigos preferem jogos eletrônicos, Loene, de 9 anos, prefere a liberdade de andar de patins. "Muito melhor. Não gosto de ficar muito parada", disse. Os pais de Loene, Herbert de Jesus, de 33, e Lucinei Dias, de 34, incentivam a aptidão para atividades físicas da filha. "A gente não gosta muito de tecnologia. Então, preferimos sair com ela para brincar no parque", conta.

Estudante da 1.ª série do ensino médio, Isabela Letícia Fogaça, de 16 anos, sonha em ser bombeira militar, mas antes precisa vencer seu reconhecido sedentarismo. Nesta sexta, caminhava com a mãe nos jardins do Paço Municipal de Sorocaba, onde mora. "Vim porque minha mãe me puxou. Por mim, estaria em casa estudando", disse.

Cláudio Fernandes, coordenador da área de esportes da Escola Stance Dual, percebe na prática como o apelo da tecnologia e de uma vida mais automatizada reflete na propensão ao sedentarismo dos adolescentes. "Antigamente, quando as escolas iam formar times esportivos para as competições, de futsal, vôlei e basquete, sempre tinham mais interessados do que vagas. Hoje, é bem diferente, se você tem 15 vagas em um time, aparecem 10 alunos", contou.

Ainda assim, Fernandes enumerou uma série de ações que a escola em que trabalha promove para quebrar o sedentarismo ou reduzi-lo. "Nós levamos alunos do 8.º e 9.º ano para correr no Ibirapuera, por exemplo. Eles saem da rotina e isso é muito importante."

O estudo destaca a necessidade de se identificar, entender e intervir nas causas sociais, econômicas, culturais e tecnológicas que podem perpetuar os baixos níveis de participação e as diferenças entre os sexos. As políticas, apontam os pesquisadores, devem promover o aumento da atividade física em todas as suas formas, incluindo esportes, brincadeiras e recreação, assim como a mobilidade a pé e em bicicleta. "A ação requer engajamento e resposta coordenada de múltiplos setores, como escolas, famílias, planejadores urbanos e líderes comunitários e da cidade."

Preste atenção

1. Exercício mínimo

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que adolescentes pratiquem um mínimo de 60 minutos de atividade física por dia em uma intensidade de moderada a vigorosa.

2. Efeitos sobre a saúde

O sedentarismo tem efeitos já reconhecidos sobre a deterioração da saúde, como o desencadeamento de processos de sobrepeso e obesidade e consequências relacionadas à hipertensão e diabete, por exemplo. No lado oposto, a atividade física tem efeitos positivos sobre o metabolismo e o desenvolvimento cognitivo que se estendem da infância e adolescência para a idade adulta.

3.Em frente a telas

Um dos principais fatores relacionados ao sedentarismo de crianças e adolescentes são telas de televisão, computadores e videogames, apontam especialistas. Estudos mostraram que o tempo excessivo gasto em frente a esses aparelhos pode ter efeito sobre o desenvolvimento dos jovens.

4.Políticas e soluções

A OMS diz que alterar essa realidade exige esforços em diversas frentes, de políticas de incentivo à prática esportiva ao engajamento de líderes comunitários e profissionais em escolas. Identificar, entender e intervir nas causas culturais, sociais e econômicas são passos necessários.

Estadão
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