O que é a Síndrome do Coração Partido e como tratá-la? Veja o que diz a ciência
Ensaio clínico pioneiro mostra que terapia cognitivo-comportamental e exercícios físicos podem ajudar pacientes com a cardiomiopatia de Takotsubo, conhecida como síndrome do coração partido
Quando ouvimos a expressão "coração partido", logo pensamos em decepções amorosas. No entanto, existe uma condição médica real com esse nome: a síndrome do coração partido, ou cardiomiopatia de Takotsubo. Ela acontece quando o coração sofre alterações temporárias após uma descarga intensa de hormônios do estresse, como adrenalina e noradrenalina. Esse processo afeta o ventrículo esquerdo (principal câmara de bombeamento do coração) e leva a sintomas muito semelhantes aos de um infarto: dor no peito, falta de ar, palpitações, tontura e fadiga.
Apesar da semelhança, a síndrome não está ligada à obstrução das artérias coronárias. O coração fica temporariamente enfraquecido, mas pode se recuperar em poucas semanas com acompanhamento adequado.
O estudo que reacende a esperança
Pesquisadores da Universidade de Aberdeen, na Escócia, realizaram o primeiro ensaio clínico randomizado do mundo para avaliar tratamentos eficazes contra a síndrome de Takotsubo. O estudo acompanhou 76 pacientes, a maioria mulheres acima dos 60 anos, e testou três tipos de intervenção:
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC): 12 sessões individuais semanais, com suporte extra se necessário;
- Programa de exercícios físicos: natação, ciclismo, caminhada e treinos aeróbicos supervisionados durante 12 semanas;
- Tratamento padrão: com os cuidados habituais recomendados pelos cardiologistas.
Os resultados surpreenderam: tanto a TCC quanto o programa de exercícios melhoraram significativamente a energia do coração. Pacientes da TCC aumentaram a distância percorrida em seis minutos de 402 para 458 metros, enquanto os do grupo de exercícios passaram de 457 para 528 metros. O consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) também melhorou em até 18%, sinal claro de maior capacidade cardiorrespiratória.
Apresentados no congresso anual da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Madri, os achados sugerem que integrar saúde mental e atividade física pode reduzir sintomas e até o risco de morte associado à condição.
Emoções intensas como gatilho
A síndrome de Takotsubo é mais comum em mulheres após a menopausa, mas pode afetar qualquer pessoa exposta a situações de estresse agudo - como luto, traumas, discussões familiares ou crises financeiras. Curiosamente, emoções positivas também podem desencadear o problema. Esse fenômeno mostra que o coração reage não apenas à tristeza, mas a qualquer emoção muito intensa, da euforia à dor.
Diagnóstico e tratamento
No pronto-socorro, a síndrome pode ser confundida com infarto, já que os sintomas e alterações no eletrocardiograma são semelhantes. O diagnóstico definitivo exige exames como o cateterismo cardíaco, que descarta obstruções nas artérias, e o ecocardiograma, que mostra o padrão característico da contração do ventrículo.
O prognóstico costuma ser positivo: na maioria dos casos, a função cardíaca retorna ao normal em algumas semanas. No entanto, o acompanhamento cardiológico é indispensável para prevenir complicações como arritmias e insuficiência cardíaca. Além do cuidado médico, hábitos saudáveis e suporte emocional desempenham papel importante na recuperação. A síndrome do coração partido é um lembrete de que corpo e mente estão profundamente conectados, e que o equilíbrio emocional é essencial para a saúde do coração.