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Aos 90 anos, precursora do Braille no Brasil vê com os olhos do coração

28 mai 2009 - 12h56
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Plínio Teodoro

Dorina Nowill, landing + interna
Dorina Nowill, landing + interna
Foto: Divulgação

No ano do bicentenário de nascimento do francês Louis Braille, inventor do sistema de escrita e leitura para cegos, uma brasileira que acostumou a ver o mundo - e a própria deficiência - com os olhos do coração chega aos 90 anos. Dorina de Gouvêa Nowill nasceu em São Paulo no dia 28 de maio de 1919. Aos 17 anos, vítima de uma patologia, a jovem Dorina perdeu a visão.

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"É muito triste abrir os olhos e não ver nada. Ninguém pensa que vai ficar assim e isto causa uma reação em cada tipo de pessoa. Desespero, mudança de temperamento ou, simplesmente, se aceita. Eu sempre fui criada na realidade. Quando minha mãe soube que meu caso era irreversível, ela disse aos médicos: tudo bem, agora vamos lá falar isso para ela."

A cegueira fez com que Dorina enxergasse um lado triste - e, muitas vezes, muito bem mascarado - da sociedade: o preconceito. "Senti muito (preconceito) e em todo canto quando era jovem. Muitas vezes tinha vontade de rir quando ouvia de algumas mulheres da época que gostavam muito de mim, mas tinham medo de me apresentarem os filhos, para eles não casarem com uma cega", lembra.

Porém, o otimismo e a perseverança sempre fizeram com que Dorina visse até mesmo os desafios como algo bom em sua vida. "Sou uma pessoa que acredita no ser humano, feito semelhante a Deus. E esta fé me fez aceitar tudo com tranqüilidade tendo como objetivo sempre a alegria de viver. E não há nada melhor para o coração do que ser útil para alguém."

E foi assim, com os olhos do coração, que ela fundou, em 11 de março de 1946, a Fundação Dorina Nowill para Cegos, que trabalha na inclusão de crianças, jovens e adultos cegos ou com baixa visão ao mundo do conhecimento e da informação por meio de livros e revistas em braille. "A idéia da fundação nasceu da necessidade e quer coisa mais preemente que a necessidade para se criar algo?", indaga.

Dorina Nowill especializou-se em educação de cegos no Teacher´s College da Universidade de Columbia, em New York, nos Estados Unidos. Naquela ocasião, participou de uma reunião com a diretoria da Kellog´s Foundation, expôs o problema da falta de livros em Braille para cegos brasileiros e da necessidade de se conseguir uma imprensa Braille para a fundação que tinha sido criada no Brasil.

Em 1948, a Fundação Dorina Nowill para Cegos recebeu da Kellog's Foundation e da American Foundation for Overseas Blind uma imprensa braille completa com maquinários, papel e outros materiais.

A Imprensa Braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos é uma das maiores do mundo em capacidade produtiva, com produção em larga escala, equipamentos de grande porte, recursos humanos especializados e matéria-prima especial. Nos últimos 60 anos não há no Brasil uma só pessoa cega alfabetizada que não tenha tido em suas mãos pelo menos um livro em braille produzido pela entidade.

"Em tudo na vida eu sempre parto pela fé. E foi esta fé que me deu forças em toda minha vida de lutar para que as pessoas cegas simplesmente possam levar uma vida digna. Trabalhar, sustentar sua própria família e contribuir para a grandeza de nosso país", afirma a - mais que especial - aniversariante.

Primeira aluna cega a ingressar em uma escola pública com alunos sem deficiência, Dorina lutou ainda pela abertura de vagas e encaminhamento das pessoas com deficiência para o mercado de trabalho.

Em 1982, ela apresentou uma proposta de inclusão dos deficientes visuais no mercado de trabalho em uma conferência da Organização Interncional do Trabalho (OIT). Um ano depois, em nova convenção da OIT em Genebra, os representantes do governo brasileiro votaram a favor da proposta do Conselho Mundial para o Bem-Estar do Cego, convocando os estados membros da organização a oferecerem programas de reabilitação, treinamento e emprego para estas pessoas.

Aos 90 anos, Dorina ainda não desistiu de voltar a ver o pôr-do-sol, a natureza e o próprio rosto - já modificado pelos anos, mas com a mesma alegria de criança. "Com o avanço da ciência eu tenho esperança disso. Há sempre estradas a serem abertas. Mas não dirijo minha vida achando que isso vai acontecer".

Para ela, a fé em Deus e nos homens é o que importa para as pessoas que conseguem, apesar de cegas, terem uma visão além de seu tempo, vista pelos olhos da alma. "Nós precisamos ter força para viver, coragem para enfrentar todas as situações. Não voltar atrás, a não ser que se esteja completamente convencido disso. A viagem da vida não acaba nunca e a força de querer viver supera tudo isto. Com estes olhos, podemos atingir coisas impossíveis".

Serviço:

A Fundação Dorina Nowill para Cegos oferece programas gratuitos de atendimento especializado ao deficiente visual e sua família, que inclui programas de avaliação e diagnóstico, clínica de baixa visão, educação especial, reabilitação e orientação e colocação profissional do deficiente visual. Em 2008 foram realizados mais de 20 mil atendimentos.

A instituição disponibiliza através da Biblioteca Circulante do Livro Falado e Digital mais de 1.000 títulos para empréstimo nos formatos MP3 e digital.

Com a maior imprensa Braille da América Latina, com capacidade para impressão de mais 45 milhões de páginas por ano. A Fundação Dorina Nowill produz livros didáticos, literatura e best-sellers. No local também são produzidos cardápios, partituras musicais, catálogos, cartões de visitas e outros materiais de prestação de serviços às empresas e à comunidade.

Atendimento Especializado pelo telefone (11) 5087-0998 ou e-mail: atendimento@fundacaodorina.org.br

Fonte: Redação Terra
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