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Dia dos Namorados

Namoro em isolamento: os casais de idosos durante a pandemia

Grupo etário com maior risco pela covid-19, os idosos precisam conviver com o medo da doença e a saudade de seus companheiros

12 jun 2020 - 12h00
(atualizado em 30/5/2023 às 09h46)
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A pandemia do novo coronavírus mudou todas as relações humanas  e, principalmente, a vida dos idosos. Considerado o grupo etário mais vulnerável para a covid-19, as pessoas na terceira idade são a grande preocupação da sociedade no momento. Toda a política de isolamento é feita para protegê-los. Mas como estão os casais de idosos que moram separados em tempos de isolamento social? Saudade, solidão e tristeza são sentimentos que se tornaram comuns para quem está nessa situação.

Grupo etário mais atingido pela covid-19. os idosos sofrem com o isolamento social
Grupo etário mais atingido pela covid-19. os idosos sofrem com o isolamento social
Foto: Pixabay

A aposentada Iracilda Portella, 79 anos, moradora do Recife-PE, relata a falta que sente do companheiro, com quem ficou junto no início da quarentena, em seu apartamento, mas depois o deixou para ficar com sua filha no interior. Ela conta que os dois moram em apartamentos separados, porém, no mesmo bairro da capital pernambucana. Mesmo com o convívio conturbado em tempos de pandemia, Iracilda diz que sente falta do namorado, “Estamos juntos há 9 anos, porém, cada um reside em sua casa. Nos finais de semana eu ia para a casa dele. Nos víamos sempre que queríamos. Decidi ficar na casa de minha filha, em Gravatá, uma cidade do interior, mas longe dele fui ficando mais triste e ele reclamando também da solidão. No momento, estou planejando voltar para meu apartamento.”

A situação de Iracilda não é muito diferente do também aposentado Conrado Neto, 60 anos, morador de Campinas-SP e que não encontra com a sua companheira desde o Carnaval. Os dois que também moram na mesma cidade, mas em residências diferentes, e foram cuidar dos pais nesse momento em outras cidades. “A gente sente muita falta de estar junto. Porque pelo menos a gente se via, de uma semana a 15 dias, a gente se via. Agora já são mais de 3 meses”, lamenta o aposentado. No entanto, Conrado diz que a tecnologia e a maturidade facilitam um pouco a passagem por esse momento difícil, “Nos vemos virtualmente todos os dias, ligamos em vídeo e nos vemos um pouquinho, mas a gente está levando de boa, somos duas pessoas maduras.”

Mas a saudade, frequente nos relatos, não exclui a possibilidade de conflito. Por ser um momento excepcional e praticamente sem precedentes para todos, é inevitável que não haja desentendimentos. Foi o que viveu a Iracilda. Ela conta que foi passar os primeiros dias da quarentena com o companheiro, mas não aguentou a sua falta de disciplina, “No início do isolamento, ele não respeitou as regras e ia sempre em meu apartamento. Decidi então ficar na casa dele, mas depois de 15 dias, privados de sair e ele não respeitando as regras, comecei a ficar irritada.” 

A situação da aposentada é típica de relacionamentos da terceira idade e se intensifica em períodos de intensa convivência, como explica o psicólogo Guilherme Affonso, “Conforme a gente envelhece, nós vamos desenvolvendo maneiras de se viver. E esse tipo de hábito desenvolvido ao longo de uma história de vida, quando você vai começar um relacionamento aos 60, aos 70 anos, acaba sendo difícil negociar com o companheiro e realmente traz bastante estresse. O que não quer dizer que você não ama, não goste e não quer estar próximo daquela pessoa. É que talvez a convivência muito próxima fosse complicada.” 

Guilherme, pós-graduado em neuropsicologia com ênfase em envelhecimento, completa que esses conflitos provavelmente já estavam presentes de forma velada e foram catalisados pela situação de estresse da pandemia e do confinamento. “Pessoas que ficam confinadas juntas e tem muitos problemas, provavelmente eram pessoas que tinham alguns problemas velados e que ficaram mais evidentes por conta da convivência obrigatória, mas esses problemas já estavam ali.”

Imaginar a retomada é algo recorrente. Como se darão os encontros? Terão mais valor? Conrado acha que sim: "acho que os encontros serão mais bem aproveitados, tudo será mais bem aproveitado. Claro que você vai valorizar mais os momentos que você tiver com as pessoas que você se relaciona.” O aposentado revela que também sente falta dos filhos e de seu neto, com quem esteve pela última vez em fevereiro. “Nos tornaremos mais companheiros. Teremos mais certeza de que realmente precisamos um do outro”.

Iracilda imagina que as dificuldades do isolamento aumentarão a cumplicidade de seu relacionamento no pós-pandemia. “Nosso relacionamento se fortaleceu, porém é muito sofrido”, completa a aposentada. 

A busca por ajuda psicológica profissional pode se tornar algo comum após a passagem da covid-19. Situações de estresse agudo como a pandemia podem cronificar quadros de tristeza e até um diagnóstico de depressão. “Dependendo também do impacto que o isolamento social trouxe na vida dela, se pessoas ficaram doentes, se pessoas perderam empregos, se pessoas tiveram algum tipo de prejuízo maior. Dependendo disso sim. No pós-isolamento social, a pessoa pode piorar e precisar de ajuda, tanto psicológica, quanto psiquiátrica”, acrescenta o psicólogo Guilherme Affonso. 

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Fonte: Redação Terra
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