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Contra o preconceito, homem trans recebe homenagem da família; assista vídeo

Richard Alcântara sonha em retirar os seios e parentes apoiam a identidade de gênero do rapaz: 'A gente quer ver você feliz'

8 out 2019 - 14h11
(atualizado em 9/10/2019 às 11h14)
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Richard Alcântara (magro, de óculos e bermuda azul) com os familiares homens que o homenagearam com fitas no peito, em São Paulo.
Richard Alcântara (magro, de óculos e bermuda azul) com os familiares homens que o homenagearam com fitas no peito, em São Paulo.
Foto: Instagram / y_almeidx / Estadão

A rejeição de transexuais é algo recorrente em parte das famílias brasileiras. De 2008 a 2016 foram registrados 868 assassinatos dessas pessoas no Brasil, e a negligência dos parentes é, muitas vezes, um dos motivos para nove a cada dez transexuais entrarem para a prostituição no Brasil, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais.

No entanto, há quem fuja dessas estatísticas por meio do carinho de quem está longe do preconceito. Foi o caso de Richard Alcântara, um trans que recebeu uma homenagem de sua família em São Caetano do Sul, na grande São Paulo.

Richard costuma andar sem camiseta e cobrindo os mamilos, pois ainda não fez a cirurgia de retirada dos seios - mastectomia. Assim,os outros homens da família decidiram imitá-lo para mostrar que todos são iguais a ele, independentemente de terem nascido ou não com o sexo biológico masculino. "[Essa homenagem] é para você, cara. Você é igual a nós. Você merece. Nós é [sic] homem, maluco", disse um parente enquanto o abraçava.

O jovem então se emocionou e recebeu ainda comentários de apoio. "Chora, não. A gente quer ver você feliz e não chorando", falou outro.

Sua namorada, Yuri Almeida, compartilhou o momento nas redes sociais. Ela afirmou que o seu parceiro sofreu com a depressão e já tentou tirar a própria vida quando temia a rejeição da família. Deixou também uma mensagem para pessoas que usam a religião ou fé para justificar a discriminação: "para quem acha que para pessoas [trans] falta Deus, estão enganados. Elas possuem mais Deus no coração do que muita gente".

"[Foi] uma demonstração de amor incondicional de uma família que mesmo com tanta diversidade, sempre colocou o amor e a união acima de tudo. [É uma família na qual] a felicidade, a conquista e a realização do sonho de um integrante é compartilhada e vivida por todos", escreveu.

Assista:

A atitude da família foi elogiada pela maioria dos internautas. No entanto, alguns demonstraram desconhecimento sobre o assunto com argumentos sem base científica.

"Ela ainda engravida, entra em ciclo menstrual e a progesterona ainda toma conta do seu corpo. Seja o que quiser ser. Mas aceitando sua natureza inicial. Homossexualismo [sic] é um mundo triste, não tem nada de se gloriar como se fosse algo de benéfico pra vida dela", escreveu um usuário do Facebook.

Além de demonstrar ignorância sobre o tema, a afirmação do rapaz contradiz estudos de décadas sobre a transexualidade - reconhecidos pela comunidade acadêmica. Em entrevista ao E+, o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, explica que algumas pessoas nascem transgêneras.

Segundo o médico, tudo começa ainda no útero. Por volta da décima semana de gestação, as células que vêm formando o feto desenvolvem a genitália. A princípio, pênis indica um menino e vagina, uma menina. Depois, pela vigésima semana, a área do cérebro ligada à identidade de gênero começa a se formar. Se coincidir com o sexo biológico, nascerá uma pessoa cisgênero, ou seja, que se reconhece no sexo previamente formado. Se houver incongruência, nasce uma pessoa transgênero (leia mais aqui).

Estadão
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