Como a vulnerabilidade pode ser fonte de autoconhecimento e reconexão
Na coragem de sermos reais, descobrimos a nós mesmos e criamos laços mais profundos com quem nos cerca; escritor reflete sobre o assunto
Vivemos em uma sociedade que exige força e resolução constantes. Ao menor sinal de vulnerabilidade, somos rapidamente rotulados como frágeis, incapazes de lidar com as pressões do dia a dia. Mas será que alguém é realmente forte o tempo todo?
Naquele momento íntimo, só você com você mesmo, será que não se permite sentir, se colocar em posição de vulnerabilidade? Isso não significa assumir um papel de fraqueza, mas sim permitir-se viver suas emoções como elas realmente são. Quando negamos nossas fragilidades, também nos afastamos de partes essenciais de quem somos. Ser vulnerável é, antes de tudo, um ato de coragem e um convite à verdade.
O peso de parecer forte o tempo todo
Desde criança, somos educados a acreditar que demonstrar emoções é sinal de fraqueza, especialmente os homens, que ouviam constantemente a frase: "Homem não chora". As mulheres, por sua vez, eram ensinadas a duvidar das próprias emoções com frases como: "Você está exagerando" ou "Mulher é muito sensível".
O que nos resta, enquanto sociedade? Duvidar do que sentimos por medo de julgamentos. E, pior ainda: vamos nos tornando insensíveis. É como se nossos olhos vestissem uma lente que pouco se sensibiliza com o que acontece ao nosso redor. O mundo pode estar desabando à nossa volta, mas a lágrima permanece presa, porque normalizamos a ideia de que o caos externo não tem nada a ver conosco.
Com o passar do tempo e das experiências que acumulamos, essa postura vai se transformando em uma armadura pesada demais para a caminhada. Essa armadura nos desconecta da nossa essência e, principalmente, da nossa própria humanidade. Dentro desses contextos, criamos várias versões de nós mesmos que se encaixam nos padrões, mas que, infelizmente, poucas ou nenhuma acolhem nossas verdades, nossas dores e nossos silêncios.
Vulnerabilidade como portal para o autoconhecimento
Neste momento que vivemos, permitir-se é um ato de autoamor. Em um mundo onde somos cada vez mais convidados a nos esconder para sermos bem-vistos em contextos sociais, essa permissão é, sim, um gesto de amor-próprio.
Esse processo de nos permitirmos é como destrancar a porta do nosso mundo, onde nos figuramos como personagens ideais de uma história que não nos representa. É se colocar em posição de vulnerabilidade. Ser vulnerável é permitir-se entender que não precisamos ter todas as respostas, e que estar no controle o tempo todo não garante que seremos aceitos ou que tudo dará certo.
Ao retirarmos o espaço para o autojulgamento, começamos a perceber padrões, crenças limitantes construídas, feridas não curadas e nossos verdadeiros desejos que ficaram esquecidos. Neste espaço, entendemos que podemos sentir medo, tristeza ou até mesmo raiva isso não nos torna fracos, nos torna humanos.
Conectar-se com o outro começa ao se conectar consigo
Muitos acreditam que ser vulnerável prejudica os vínculos que criamos, porque podemos parecer fracos ou sensíveis demais, afastando oportunidades. Mas, na verdade, a vulnerabilidade aprofunda nossa relação conosco mesmos e transforma profundamente os vínculos com os outros.
Quando nos permitimos ser acessados de forma mais autêntica, sem medo de expor nossos medos e fragilidades, criamos um espaço onde o outro também pode se revelar. É nesse espaço que deixamos de sustentar relações entre personagens idealizados e passamos a construir vínculos entre pessoas reais, com dores e desafios reais, e que não precisam esconder isso. Ali, tudo o que se pede é que você esteja por inteiro: presente, autêntico e verdadeiro.
É nesse encontro, onde há abertura mútua, que nascem as conexões mais verdadeiras, baseadas na escuta, no afeto e na aceitação do que é, e não do que deveria ser. Finalizo com uma parábola que conversa com o coração do que foi dito - breve em palavras, profunda em sentido. "Um mestre carregava água todos os dias em dois vasos de barro pendurados nas pontas de uma vara. Um dos vasos tinha uma rachadura e, ao final do trajeto, chegava sempre com apenas metade da água. Sentindo-se culpado por sua imperfeição, o vaso rachado pediu desculpas ao mestre. O mestre respondeu para o vaso: Você nunca percebeu? Foi por onde a sua água caiu que floresceram todas essas flores ao longo do caminho."
Sobre o autor
Frederico Henrique Madureira Fernandes nasceu em Mococa (SP) e é bacharel em Administração, pós-graduado em Recursos Humanos e MBA em Liderança, Inovação e Gestão 4.0. Atua como especialista em remuneração, mas encontrou na escrita um espaço de autoconhecimento e expressão. Ao transformar vivências e emoções em palavras, descobriu um caminho de acolhimento e presença, que agora compartilha com o público em Um lugar chamado Eu. Saiba mais nas redes sociais do autor: @_fredhmf_ | @agirdiferente
*Fonte: Frederico Fernandes e LC Comunicação