Famílias multigeracionais exigem assistências domiciliares pensadas para todas as gerações
Assistências residenciais têm de atender avós, pais e netos com soluções mais amplas, inclusivas e tecnológicas
Com o aumento da longevidade e a necessidade de compartilhamento de moradia entre avós, filhos e netos, cresce também a demanda por assistências residenciais adaptadas às necessidades de diferentes gerações. Serviços como conserto imediato, orientações tecnológicas e cuidados intergeracionais tornam-se, assim, fundamentais.
“Estamos vivendo um fenômeno que já era comum em países asiáticos e latinos, mas que agora ganha força no Brasil: a casa multigeracional. Isso muda completamente a forma como pensamos em assistência domiciliar, porque são três ou até quatro perfis distintos de moradores sob o mesmo teto”, explica o antropólogo e pesquisador de dinâmicas familiares Marcelo Tavares.
Cresce número de lares multigeracionais no Brasil
Dados censitários apontam que, em 1970, cerca de 17% dos brasileiros viviam em lares que contavam com mais de duas gerações — esse número subiu para 25% em 2010, reflexo de transformações demográficas importantes.
Além disso, mesmo que ainda em proporção menor, a composição multigeracional tem seguido em alta conforme a longevidade aumenta e o papel dos idosos na família se redefine.
A geração intermediária sobrecarregada
Segundo o antropólogo, muitos lares multigeracionais são sustentados por uma “geração sanduíche” — os filhos adultos que, além de cuidarem dos pais e dos netos, ainda enfrentam pressões financeiras, emocionais e de tempo.
“A geração intermediária acumula responsabilidades e acaba sobrecarregada. A assistência residencial pode atuar como uma rede de apoio, oferecendo desde manutenção prática até soluções que poupem tempo e energia desse grupo”, diz.
Idosos como apoiadores – e vulneráveis
Por vezes, os idosos não apenas recebem cuidados, mas também contribuem financeiramente ou emocionalmente para a família. No entanto, muitos vivem em condições de vulnerabilidade — com baixa escolaridade, limitado acesso à internet, baixa renda e maior risco de isolamento social.
Embora quase 70% dos idosos brasileiros já naveguem na internet — alcançando mais de 24,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, segundo a PNAD Contínua 2024 — muitos ainda se sentem inseguros diante da modernização dos eletrodomésticos, telas sensíveis ao toque e assistentes por voz.
Isso evidencia a necessidade de serviços de assistência tecnológica domiciliar: tutoria remota, explicações simples, ajustes de dispositivos e suporte para tornar a casa mais acessível — especialmente para quem vive em lares com várias gerações.
Assistência residencial multigeracional: o que deve incluir
Para atender de forma eficaz famílias que reúnem avós, filhos e netos sob o mesmo teto, os serviços de assistência residencial precisam ser pensados de maneira ampla, contemplando as necessidades específicas de cada geração. A seguir, alguns pontos essenciais:
Idosos:
- Suporte no uso de tecnologias e eletrodomésticos modernos.
- Treinamentos básicos e configurações simplificadas para facilitar a adaptação.
- Atendimento humanizado que também reduza o isolamento digital e social.
Geração intermediária (pais/filhos adultos):
- Serviços ágeis de manutenção e pequenos reparos.
- Orientações claras e práticas para otimizar tempo.
- Flexibilidade de agenda para conciliar cuidados da casa e da família.
Netos e crianças:
- Instalações seguras e adaptadas para evitar riscos no lar.
- Interfaces intuitivas e acessíveis no contato com a tecnologia.
- Orientações sobre segurança digital e incentivo à convivência harmoniosa entre as gerações.
A coexistência entre avós, filhos e netos impõe a necessidade de serviços residenciais integrados, que atuem como facilitadores da vida em múltiplas gerações. Assistências que considerem tecnologia acessível, bem-estar emocional dos idosos e o alívio das responsabilidades da geração intermediária serão cada vez mais indispensáveis.
“Quando a assistência residencial se torna multigeracional, ela não é apenas um serviço, mas um elo que conecta e dá suporte às famílias contemporâneas”, resume Tavares.