"Somos resistência", diz Isaac Silva sobre preconceito na moda
O estilista Isaac Silva é uma das vozes mais ativas do novo momento que o SPFW e a moda brasileira vivem. Suas coleções são cheias de significados, guiados pelo lema "Acredite no Se Axé". Desde sua estreia no evento, em 2019, com looks todos brancos e passarela com arruda e sal grosso, até a última apresentação, em que fez uma homenagem à drag paulista Marcia Pantera, Isaac sempre mostra uma moda com propósito.
A festa LGBTQIA+ que proporcionou na passarela do evento de moda de São Paulo é uma prova disso e do ato de resistir e de incluir, à qual muitas grifes têm-se lançado. Além de looks em estilo discoteca anos 1970 e outros com vibe mais relaxada, a coleção foi produzida com mão de obra de homens e mulheres trans. Mais um avanço na cadeia têxtil em relação apenas à vitrine que os desfiles podem se tornar, sem nada efetivo que possa acontecer após o fim da apresentação.
Às vésperas do retorno da Parada do Orgulho LGBTQIA+ na avenida Paulista, dia 19 de junho, da qual o Portal Terra, parceiro do "Elas no Tapete Vermelho", é um dos patrocinadores oficiais, Isaac Silva, cuja marca foi criada em 2015, com o objetivo de desafiar o preconceito racial através de criações repletas de referências afro-brasileiras e indígenas, também fala contra o preconceito de gênero. Confira trechos da entrevista exclusiva que o estilista deu ao "Elas no Tapete Vermelho".
Elas no Tapete Vermelho - No último SPFW, a comunidade LGBTQIA+ esteve representada em quase todos os desfiles, inclusive no seu. Acha que é um grande passo ou falta muito ainda para que se veja com normalidade a inclusão de comunidades até então consideradas minorias na moda, como também negros e plus size?
Isaac Silva - É um grande passo sempre, pois a grande indústria da moda bebe muito da fonte da comunidade. A moda é um setor perfeito, o que faz dela às vezes não dar protagonismo é que algumas marcas e estilistas são cheios de preconceitos e limitados e, às vezes, a grande mídia ajuda e muito a isso se propagar de uma maneira ruim. Sempre estivemos aqui, sempre vamos existir e resistir, o que muda é só o posicionamento.
Elas no Tapete Vermelho - Seu desfile foi um ato de resistência a favor da comunidade LGBTQIA+. Comente um pouco sobre isso, sobre a ideia e como a moda pode ser porta-voz contra o preconceito.
Isaac Silva - A marca Isaac Silva é uma marca política desde sua criação em 2015. Temos um posicionamento positivo de como a moda pode ser assertiva e beneficente ao mundo em que vivemos. Acreditamos numa moda mais diversa e isso é o que mostramos a cada coleção e a cada ano vamos crescendo, fechando parcerias, collabs grandes e abrindo lojas. A moda é sempre um dos maiores porta-vozes, pois ela encanta as pessoas e as toca de uma maneira única.
Elas no Tapete Vermelho - Além do desfile em si, as peças da coleção serão confeccionadas por um grupo de pessoas trans. Fale um pouco sobre a necessidade de abrir espaço para a comunidade também nos bastidores.
Isaac Silva - A marca está realizando outro sonho de poder ter fornecedores, uma mão de obra feita por pessoas trans mulheres e homens com oficinas de confecção para atender nossa demanda e a de outras empresas também.
Elas no Tapete Vermelho - O que falta para a comunidade trans ser aceita em trabalhos comuns em empresas e não só fazendo propagandas para o público ver?
Isaac Silva - O preconceito, a falta de conhecimento e a falta de humanidade das empresas. Tudo isso é uma ignorância tão grande, uma falta de amor que impede de ver o amor ao próximo e de não enxergar as grandes e os grandes profissionais que têm no mercado.
Elas no Tapete Vermelho - Sobre a parada LGBTQIA+, como você a vê, qual a importância e como você a vê nesse momento tão difícil pelo qual o Brasil passa?
Isaac Silva - Vamos acreditar sempre, somos resistência, então "Acredite no seu Axé!"
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