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Discutir sobre uso de pele na moda é babaquice, diz estilista

24 jan 2012 - 19h43
(atualizado às 22h21)
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Rosângela Espinossi
Direto de São Paulo

A moda é uma questão de pele. Entre os assuntos comentados pelos corredores da São Paulo Fashion Week, que termina nesta terça-feira (24), está o fato de os estilistas apostarem no uso de peles nas roupas. Difícil de ser usada no inverno brasileiro, a tendência gera mais uma polêmica, dentro do burburinho do mundo fashion. Há até manifestação pacífica do lado externo da Bienal, chamada Move Your Ass (Mexa sua bunda), promovido pela Organização Não Governamental (ONG) Movie Institute. Os estilistas, marcas e pessoas ligadas à moda divergem do assunto. De qualquer forma, o fato é que, sim, pele está na moda, e a discussão é mais uma que vem à tona durante a semana dos desfiles, assim como há manifestações em outros países a respeito do assunto.

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Pedro Lourenço, citado pela entidade que fez o manifesto contra o uso de peles (segundo eles, o estilista teria dito que não usaria mais peles), desmente. "Acho uma babaquice esse tipo de manifestação. E eu não disse isso. Acho que cada coleção é uma coleção e, se eu sentir necessidade de usar peles, vou voltar a usar. Só tem sentido discutir isso se as pessoas deixarem de usar sola de sapato de couro", afirmou o estilista, que na coleção apresentada em São Paulo, na sexta-feira (20), usou mohair, produto feito a partir de pelos de cabra angorá. Pedro já usou pele de raposas em coleção exibida na França.

Vegetariano, o estilista Alexandre Herchcovitch diz que é contra o uso de peles de animais na moda. "Não vejo necessidade", afirmou ele, que usou material sintético em sua apresentação. Indagado sobre a utilização de couro em suas roupas, ele disse que ainda usa por "não ter achado um substituto à altura." Herchcovitch foi visto circulando na Bienal com um selinho distribuído pela ONG, em que estava escrito "No Fur" (Pele Não).

A proprietária da Huis Clos, Clô Orozco, reafirmou que gosta de usar peles de animais em suas coleções. Segundo ela, as peles são certificadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e são provenientes de animais que vivem em cativeiro. "Uso pele normalmente, quanto sintética quanto natural. Acho que pele é um fetiche de toda mulher. Pago uma anuidade ao Ibama, uso pele certificada, e só de animais criados em cativeiro", afirmou. Para a estilista, é um absurdo as pessoas acharem que ainda se usa pele de animal achado na natureza. "Adoro pele natural: lontra, raposa, chinchila e até coelho, que dá para estampar a pele. Coelho prolifera e a gente come até a carne. Queria só ressaltar que são todos animais de cativeiro e essa é uma indústria que gera empregos."

"É uma hipocrisia comer a carne e defender a não utilização do couro ou da pele do animal na indústria de moda", afirmou o estilista Amir Slama, presente no desfile da Uma. "Só quero ressaltar que sou contra matar o animal com pedrada na cabeça ou outro tipo de violência. Se usar a pele, tem de ser de cativeiro", completou. Reinaldo Lourenço, que garantiu ter usado pele falsa em sua bela coleção apresentada sábado (21) na Faap, disse que não é contra pele na moda. "Esse tipo de manifestação é modismo, como já foi em relação aos negros."

Herança

A modelo e apresentadora Paola de Orleans e Bragança, descendente da família real brasileira, também vê certa hipocrisia nessa discussão. "Olha, para um 1 kg de couro são necessários 10 litros de água. O que estão fazendo na Amazônia, desmatando a floresta para pasto é também muito grave", afirmou ela, que disse usar casaco de pele herdado de sua avó. "Hoje não compraria um casaco de pele, porque há outros materiais térmicos tecnológicos, mas visto o de minha avó em temperaturas muito baixas, como no inverno da Europa. Aqui, não há necessidade", afirmou.

O estilista Fause Haten usou pele de raposa e plumas de ave em sua coleção. A Ellus trouxe peças com peles muito parecidas com naturais, mas eram de chinchila falsas, segundo a assessoria de imprensa da marca, que afirmou que a política da empresa é não usar peles verdadeiras. A estilista Raquel Davidowicz diz que não é defensora do uso da pele. "Se tem pele artificial de boa qualidade, não precisa usar a natural. Mas não quero fazer disso uma bandeira do politicamente correto", afirmou a proprietária da grife Uma, que voltou a desfilar na SPFW dois anos após ficar ausente.

O estilista Samuel Cirnanski também não vê necessidade de usar peles, como provou em seu desfile. Ele trabalhou à exaustão o método de desfiar tecidos, cuja textura dá a aparência de peles e plumas. "Em tempos em que não se pode usar peles, reutilizo tecidos que trazem o mesmo efeito visual", disse antes de sua apresentação na SPFW. A Osklen, cuja política é de proteção ao ambiente, usa couros de peixes que seriam descartados na natureza. E as peles coloridas do último desfile eram sintéticas. Fica a discussão. Assim como comer ou não carne, o uso passa pelo critério de cada um.

São Paulo Fashion Week

A SPFW é o evento de moda mais importante da América Latina e atrai diversas marcas nacionais renomadas e modelos internacionais, além, claro, de celebridades e fashionistas. A edição de inverno 2012, a 32ª do evento, acontece entre os dias 19 e 24 de janeiro de 2012, no prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Algumas grifes decidiram apresentar suas coleções em locais externos da cidade, como Cavalera, Neon, Reinaldo Lourenço e Pedro Lourenço.

Colaborou Juliana Crem

Coleção apresentada por Pedro Lourenço na SPFW teve pelos de cabra angorá
Coleção apresentada por Pedro Lourenço na SPFW teve pelos de cabra angorá
Foto: Edson Lopes Jr. / Terra
Fonte: Ponto a Ponto Ideias Ponto a Ponto Ideias
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