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Psicostyling ensina a se vestir bem com doses de terapia

21 out 2010 - 09h52
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Michelle Achkar

Vestir-se de acordo com sua personalidade e estilo, melhorando sua imagem corporal e se valorizando verdadeiramente. Tudo isso associado a sessões de terapia. Pois uma profissional da área de moda levou ao pé da letra a ideia de usar uma dose de psicologia em tudo o que se faz na vida e acaba de inaugurar o segmento batizado de psicostyling. Trata-se da associação entre a psicoterapia e consultoria de imagem. "O objetivo é trabalhar integralmente o autoconhecimento e a autoestima da cliente para que ela se torne a melhor versão de si para ela mesma e para o mundo", disse a idealizadora do trabalho Marcia Jorge.

A publicitária começou carreira como booker em agências de modelos antes de se tornar consultora de moda. Decidiu então estudar Psicologia para aprofundar a relação entre a moda e as demais questões femininas. "Conhecer-se não se limita a conhecer seu corpo e a imagem que se tem de si próprio, mas também a imagem que passamos para o mundo", afirmou.

Com clientes entre 15 e 60 anos, a grande maioria mulheres, Marcia vê seu trabalho de personal stylist às voltas com questões ligadas às mudanças da adolescência, transtornos alimentares, autoaceitação, compulsões e as influências da mídia nas mais diversas questões comportamentais femininas. "Já atendi casos de TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) na casa da cliente, e de anorexia nervosa, em que acompanhei uma cliente em restaurantes para que as intervenções pudessem ser realizadas durante as suas refeições", diz.

Na entrevista concedida ao Terra, Márcia Jorge conta como é o trabalho do psicostyling e quais são os principais erros e dúvidas das pessoas que o procuram.

Terra: O que muda no trabalho de uma stylist sendo uma psicóloga formada?

Marcia Jorge: Quando falamos que 'é bom usar uma boa dose de psicologia em tudo na vida' estamos falando mais sobre ouvir, tolerar, compreender, ponderar as coisas. Uma vez fui contratada por uma empresa para dar uma repaginada nas suas representantes comerciais. Uma delas não aceitava a ideia de usar roupas mais ajustadas, se achava feia e gorda, apesar de ser bonita e ter corpo esbelto. Demonstrava raiva e dizia que era assim e pronto. Depois de muita conversa, investiguei sua história e ela tinha sido uma criança muito gordinha, que era ridicularizada por seus familiares e colegas e chegou até a apanhar de sua mãe quando seu vestido de dama de honra descosturou na lateral. Confrontamos todo esse passado e comecei a trabalhar técnicas de exposição com ela. Um dia ela colocava uma blusinha um pouco mais justa, ia trabalhar, e registrava como se sentia. Num outro dia, vestia uma calça do tamanho do seu manequim até conseguir ir se 'apropriando' do seu corpo de adulta tal como ele é, e não da imagem da criança gordinha que tinha que se esconder que ela ainda carregava dentro dela. Não foi só uma repaginada, foi a mudança do rumo de uma história. Certamente se eu não tivesse a formação de psicóloga não iria ter recursos para me aprofundar na questão.

Você atende de adolescentes até mulheres na terceira idade. Quais as principais questões levantadas nas diferentes faixas etárias?

Posso dizer que agora aumentou a amplitude da faixa etária do meu público: vai de 12 a 80 anos. Uma das principais questões que rondam as pré-adolescentes e adolescentes é a transição do corpo de menina para o corpo de mulher. Muitas têm dificuldade em aceitar o fato de começarem a ter formas de mulher, seios, quadris, se sentem envergonhadas em mostrar, ficando às vezes até corcundas, além da dificuldade em lidar com a sexualidade. Intimamente, elas acreditam que vão perder o carinho e cuidado dos pais, que a infância está indo embora e que a vida de agora em diante será mais complicada etc. O mesmo acontece com as mulheres mais velhas que não aceitam a passagem do tempo e as mudanças no corpo. As questões das mulheres maduras são muito variadas, mas com freqüência atendo mulheres que sentem que são tratadas com indiferença por seus maridos por acreditarem que o avanço da idade as deixou menos atraentes e com isso acabaram desanimando na hora de se cuidar.

Você já indicou terapia a alguém que te contratou como stylist?

Sim. Uma vez fui contratada como stylist por uma cliente que queria mudar o guarda-roupa inteiro, pois havia assumido o cargo de diretora em uma multinacional e tinha que estar sempre impecável. Ela me pediu que levasse todas as peças para que ela fosse escolhendo em casa. Faço muito isso com clientes que não têm tempo ou paciência para ir às compras. No terceiro encontro, ela me revelou que há muitos anos era sua irmã quem comprava suas roupas e que ela ia apenas a grandes magazines, pois tinha pavor de vendedores de lojas. Dizia que eles a faziam se sentir intimidada e inferiorizada e que como não sabia dizer 'não', acabava gastando muito mais do que podia. A encaminhei para a terapia e ela descobriu que esse padrão de comportamento se estendia por diversas áreas de sua vida: no trabalho, nos relacionamentos.

Pela sua experiência, alguém que recebe orientações de uma personal stylist deve voltar a consultar esse profissional de tempos em tempos, devido a mudanças de idade, peso ou do corpo ao longo dos anos?

O que acontece normalmente é a cliente aprender tanto na consultoria que acaba tendo todas as condições para contar com ela mesma. A minha ideia é dar ferramentas para que isso aconteça e não torná-la dependente de mim! Ao longo dos anos mudam-se as prioridades, o estilo de vida da pessoa, mas o formato do corpo, o estilo pessoal e a coloração, não. Por isso uma consultoria acaba sendo um bom investimento a longo prazo.

Quais as dúvidas mais comuns das suas clientes?

A top, top, top dúvida: o que vestir em cerimônias e festas de casamento que começam pela manhã.

Quais os erros mais comuns que observa de maneira geral?

Pessoas que seguem cegamente as tendências da moda, ignorando se as peças as valorizam ou são adequadas para o seu tipo de corpo. Existem muitas pessoas que no fundo nem gostam de determinados modismos, mas acabam aderindo para que não se sintam "por fora". O consumo desenfreado encontra na insegurança a sua melhor presa.

Na sua opinião, o trabalho de stylist substitui sessões de terapia em alguns casos?

Eu diria o inverso! Em alguns casos, as sessões de terapia substituem maravilhosamente o trabalho de stylist, se partirmos do princípio de que a imagem de uma pessoa revela muito de sua vida intrapsíquica. É natural que quando você se sente feliz, satisfeito, de bem com a vida, você se apresenta visualmente melhor: se arruma, cuida dos cabelos, da pele.

Como se dá o trabalho?

Primeiramente ocorre um ou dois encontros que eu chamo de entrevista inicial, na qual conheço a cliente e entendo quais são suas demandas e questões para que eu possa elaborar um planejamento de trabalho. Em seguida, discuto com a cliente qual será a proposta do trabalho, o número aproximado de sessões (as sessões de psicoterapia ocorrem em meu consultório) e como e quais serão as intervenções externas (chamo de intervenções externas idas às compras, à casa para arrumar seu closet, ao salão de cabeleireiros, montagem de lookbook com suas peças). As sessões ocorrem concomitantemente às intervenções externas. E o planejamento de trabalho é personalizado e único de acordo com a necessidade individual da cliente. Ao final do trabalho, a cliente recebe um dossiê que funcionará como um guia para que ela tenha registrado as suas características físicas, de estilo pessoal, estilo de vida, personalidade, peças que ela deve abusar, peças que deve evitar, suas cores, dicas para a sua organização pessoal, organização de suas roupas, festas, trabalho, mala de viagem etc.

Marcia Jorge já indicou terapia a clientes que a contrataram como personal stylist
Marcia Jorge já indicou terapia a clientes que a contrataram como personal stylist
Foto: Tiago Ornellas / Divulgação
Fonte: Especial para Terra
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