Gustavo Lins está 'muito empolgado' para 1ª coleção no Brasil
O estilista mineiro Gustavo Lins, único brasileiro membro permanente da Câmara Sindical da Alta Costura Parisiense, abre hoje as apresentações do Minas Trend Preview, com o lançamento da grife OJExxi, com peças criadas por ele em conjunto com alunos de curso do Senai Modatec, de Belo Horizonte, do qual foi mentor.
Uma ideia lançada sem pretensões, segundo ele, mas que foi bancada pela Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais). “Pensei em ter uma marca a partir da formação dos alunos e fiquei agradavelmente surpreso quando a Fiemg mostrou a possibilidade de iniciar essa marca, com posicionamento no mercado logo após o término do curso”, disse ao Terra.
As criações em alfaiataria leve vêm em seda, couro, lã, algodão, tricô e jérsei. A coleção tem 105 peças em 27 formas diferentes, como casacos, saias, calças e blusas, em tonalidades como rosa, ferrugem, laranja, tons de azul, verde-esmeralda, vermelho e preto. O conhecido trabalho de moulage do estilista associado à alta qualidade é um dos carros chefes da nova marca, cujas peças chegam ao mercado em março de 2013.
Para as estampas, os alunos criaram 40 painéis com sobras de tecidos da escola, que após fotografados, foram trabalhados até formarem desenhos caleidoscópicos inspirados em muros de arrimo. O desfile estático será apresentado no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, em bonecos manipulados pelo grupo mineiro Giramundo.
Além da feira de negócios que ocorrerá no Expominas, com 234 expositores, o evento contará com nove desfiles, em diferentes pontos da cidade. Além do desfile da OJExxi, os demais ocorrerão na Galeria CentoeQuatro (Patrícia Motta, GIG e Vivaz), na Prefeitura de Belo Horizonte (Lucas Magalhães, jardin, Plural e Apartamento03) e Café de La Musique (Victor Dzenk).
Confira abaixo trechos da entrevista que Gustavo Lins concedeu por email ao Terra sobre essa nova experiência, pois é a primeira vez que desenvolve um linha no Brasil: “estou empolgado.”
Terra - Como você trabalhou junto com a equipe de alunos marca? Por que seis foram escolhidos, já que o curso contava com 19?
Gustavo Lins - Eu criei um ambiente de atelier onde todos têm um papel importante. Fui observando as pessoas e vendo quais eram as suas aptidões. A partir daí houve uma bela interação entre o grupo e eu. As pessoas escolhidas se despertaram para a minha maneira de trabalhar desde o primeiro módulo. Foram muito receptivos e extremamente dedicados. Eu sou muito exigente, mas extremamente paciente e parceiro para com os demais. Um trabalho de criação comum se faz em grupo.
T - Como foi o desenvolvimento da coleção? Conte alguns detalhes desse processo de criação.
GL - A coleção começou em maio. Como se trata de uma coleção "qualificadora", levou mais tempo que uma coleção normal, pois os elementos do grupo necessitavam de tempo para poderem exercitar o que vinham aprendendo. Os tecidos são todos nacionais, sem exceção. O que há de manual são os bordados de pedras brutas sobre couro em cintos e echarpes. As pedras que pude encontrar aqui foram uma descoberta. O nome Minas Gerais se justifica amplamente.
T - Qual a inspiração para essa primeira coleção?
GL - A inspiração foi um tapume de construção. Constituí painéis com os alunos da escola, a partir de restos de enfeites, moldes etc., com os quais realizei a cenografia da exposição ou desfile estático. As fotos tiradas desses painéis deram origem às estampas.
T - Os trabalhos a partir do quimono, sua marca registrada, também estão na coleção?
GL - Há um único quimono, pois não posso me impedir de fazer; mas em algumas peças há a minha mão com os toques dos meus quimonos.
T - Serão lançadas coleções em cada temporada?
GL - Espero que essa belíssima aventura tenha novos capítulos.
T - A marca é apenas sua ou faz parte de algum grupo?
GL - A marca é da Fiemg, Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais.
T - Você já criou para alguma marca brasileira - mesmo a sua própria - ou é a primeira vez?
GL - É a primeira vez que crio no Brasil, pois isso estou tão empolgado.
T - Como se sente fazendo essa apresentação em seu estado?
GL - É como um retorno às minhas origens. A cultura do Estado onde nasci e fui educado é muito forte, pois um misto de rigor e docilidade, extrema exigência e extremo afeto. É o barroco que marcou essa parte do Brasil.
T - Você é o único brasileiro a fazer parte atualmente da Câmara de Alta-Costura da França. Como é representar o Brasil nesse nível tão alto?
GL - Sinto-me muito honrado por fazer parte desse grupo, mas não tenho tempo para pensar nessas coisas. Tenho inúmeras coisas que ocupam meu espírito o que faz com que eu não pense muito nisso. Quando me perguntam é que me lembro disso.
T - De fora, como você vê a moda brasileira?
GL - A moda brasileira é muito diversificada, com um mercado imenso que é o mercado do Brasil, um dos maiores do mundo.
T - Como você sente a percepção do mundo em relação à moda brasileira? É estereotipada, tipo moda praia, ou os criadores que atuam no Brasil são reconhecidos de outra forma.
GL - O mercado desperta um "big" interesse hoje. Estereotipado ou não, somos a sexta economia mundial, visando a quinta posição. Isso sim é muito. A moda brasileira deve se colocar nesse ranking que é o que ela merece. Torço para que isso aconteça o mais rápido possível o momento em que o Brasil começará a exportar os produtos da nossa indústria de moda. Falo na primeira pessoa do plural, pois faço novamente parte desse clube.