Conheça o chef que criou o Melhor Bolo de Chocolate do Mundo
Naila Okita
No final da década de 80, o português Carlos Bras Lopes decidiu reproduzir uma receita de bolo que havia comido na França para servir de sobremesa em seu restaurante. Só que a receita deu errado e o bolo de chocolate ficou diferente do que ele havia planejado. Como seus clientes pareceram não se importar, ele apelidou o prato de "o melhor bolo de chocolate do mundo". Mas a receita permanece a mesma até hoje: "O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo" é também o nome da confeitaria de Lopes, que hoje conta com a matriz em Portugal e mais três unidades em São Paulo. "As críticas dos dois países são as mesmas, sempre a respeito da pretensão do nome", diz Lopes. "Mas acho que é inveja."
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Em finais de semana movimentados, "O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo" chega a vender até 500 fatias, o que corresponde a mais ou menos 50 bolos, mas o movimento tende a ser ainda maior em épocas festivas como o Natal. O segredo do sucesso? Ele diz que não sabe - e, se sabe, não tem intenções de contar. Segundo sua sócia Celina Dias, 38 anos, apenas algumas pessoas privilegiadas sabem a receita do bolo que não leva nem fermento nem farinha. Como ele é feito por etapas, os 50 funcionários no Brasil conhecem apenas partes do processo.
Celina elogia o sócio, que acompanha de perto o crescimento das lojas no País, e para isso faz viagens mensais para cá. Lopes, que admite que sua sobremesa preferida são os doces de amêndoas com ovos, avalia o desempenho dos negócios como "muito rápido e muito bem aceito". Um dos episódios de que se recorda foi na época da abertura da primeira unidade, na Oscar Freire, em que um senhor entrou e falou para ele: "Não gosto de chocolate, não vou comprar, mas quero conhecer o cara que colocou este nome - é genial". "Imagine como ficou meu ego, o que mais posso dizer?", falou o empresário.
As origens
Formado em administração de empresas pela Universidade Católica Portuguesa, Carlos Bras Lopes, 52 anos, teve sua paixão pela culinária despertada em meados da década de 70, antes mesmo de se formar. Durante um ano ele morou em Londres com alguns amigos e a falta de dinheiro fez com que eles experimentassem "refeições bem imaginativas". Durante essa época, conheceu algumas lojas de artigos para cozinha e locais onde eram ministradas aulas.
Depois voltou para Portugal e terminou a faculdade, mas "o bichinho da comida pairava sobre minha vida", como ele mesmo descreve. Não deu outra: em 1987 abriu O Mercado de Santa Clara, que existe até hoje, um restaurante de comidas simples, bem caseiras, localizado no mercado de mesmo nome. No cardápio constam pratos como bacalhau à Braz e à Lagareiro, risoto de farinheira com lombinho de porco preto e bifes tradicionais dos cafés de Lisboa. E, claro, "o melhor bolo de chocolate do mundo" como sobremesa.
Mais tarde resolveu abrir uma loja de artigos para cozinha, a Cozinhomania, que também existe até hoje, e começou a dar aulas de culinária. Até então não havia perdido a mania de brincar que seu bolo era o melhor do mundo, e era exatamente isso o que respondia aos clientes da loja que perguntavam que cheiro de chocolate era aquele impregnado no ar.
O interesse pelo quitute era tanto que em 2002 Lopes finalmente abriu uma confeitaria que oferecia um único doce no cardápio: o tal bolo de chocolate. No bairro português de Campo de Ourique, com apenas duas mesas, era inaugurada a primeira loja O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo, que utilizava o chocolate da marca francesa Valrhona e oferecia duas opções de bolo: a tradicional com 53% de cacau; e a meio-amargo, com 70% de cacau, mas sempre com a deliciosa cobertura crocante à base de merengue.
Foi então que um chamado do outro lado do oceano Atlântico levou o chef a ampliar seus horizontes. Tudo porque a confeitaria foi indicada em uma publicação brasileira distribuída em Lisboa, que citava os 10 melhores lugares para se comer na cidade. Isso aumentou muito o volume de clientes brasileiros da loja, fossem turistas ou moradores da região. Ao mesmo tempo, aumentou a curiosidade do empresário pelo recente fenômeno, e ele não hesitou em vir ao Brasil na primeira oportunidade que teve. E foi em um hotel em Corumbau, na Bahia, que conheceu a amiga que o apresentaria à Celina Dias, sua futura sócia.
O resto aconteceu relativamente rápido: apesar de nunca terem se visto pessoalmente, Lopes e Celina, que na época trabalhava como jornalista da área corporativa em um grupo do ramo de shopping centers, trocaram emails e ela foi à procura de um ponto para montarem a loja. Ele enviou duas primas para avaliarem a esquina da Oscar Freire e, duas semanas depois, em março de 2007, veio ao Brasil e preparou o bolo para Celina, que o experimentou pela primeira vez. Em novembro de 2007 nascia a primeira loja no Brasil.
Praticamente um filho
Hoje Lopes tem no currículo um curso de culinária na escola francesa Lenôtre e outros cursos com chefs portugueses. Isso significa que entrou no ramo para ficar e, por isso, tem um cuidado muito grande com suas lojas. No Brasil, onde tem mais unidades, concentra toda a produção em um lugar só, que é na cozinha da Oscar Freire. Todos os bolos são feitos ali, e as outras lojas (bem como as que pretende abrir) funcionam como franquias diferenciadas, pois o controle de qualidade e a administração são concentradas nas figuras de Lopes e Celina.
Tanto carinho e atenção podem gerar outros "filhos". Menos de um ano após a inauguração da unidade da Oscar Freire, os sócios abriram uma em Higienópolis e outra na Vila Madalena. Os planos de expansão incluem ainda o interior do estado e outras capitais, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Brasília. E as fronteiras internacionais não se restringem somente ao Brasil: há propostas para levar os negócios para Los Angeles, Nova York e até mesmo ao outro lado do mundo, mais especificamente na China. Enquanto isso não acontece, os donos trabalham na abertura de um quiosque em um shopping de São Paulo e revendem a sobremesa em Madri e na Mercearia do Conde e no restaurante Condessa, ambos na capital paulista.
Tradição e diferenciais
Utilizando os mesmos ingredientes, inclusive o chocolate importado da Valhrona, tudo foi detalhadamente "copiado" da loja portuguesa. O detalhe a mais foi a incorporação do serviço de entrega, muito incomum em Portugal mas extremamente popular no Brasil.
O cardápio também é bem restrito. De doces, apenas o bolo, nas duas versões. De salgado, um sanduíche de queijo da Serra da Estrela com presunto cru e empadas do mesmo queijo ou de bacalhau, à moda portuguesa. Como não podia deixar de ser, um bom vinho do Porto é a sugestão para degustar com o bolo - novamente uma adaptação para o País, que oferece vinho tinto gelado para os dias de muito calor, ou à temperatura ambiente.
Já a parceria com o Café Suplicy rende expressos e capuccinos, e a Loja do Chá Tee Gschwendner preparou um sabor exclusivo para a clientela do "Melhor Bolo de Chocolate do Mundo", cujo objetivo é não alterar o sabor do bolo e vice-versa. Trata-se de um chá de frutas cítricas com menta marroquina, servida em um copo de vidro.
E quem visitar as lojas em São Paulo e em Lisboa também vai notar uma semelhança pendurada na parede, que traduz bem o espírito da confeitaria: uma placa vermelha que diz "Forget Love! I'd rather fall in chocolate", uma brincadeira que significaria, em tradução livre, "Esqueça o amor! Prefiro me acabar em chocolate".
O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo. Endereços: Rua Oscar Freire, 125. Telefone (11) 3061 2172. Rua Alagoas, 852. Telefone (11) 2893-0050. Rua Girassol, 185. Telefone (11) 2537-8050. Cartões: Visa, Amex, Dinners, Master, Visa Electron, Rede Card. Horários: de segunda à segunda, das 10h às 21h. Preços: fatia do bolo R$ 7,50; bolo inteiro (8 pedaços) R$ 59; bolo inteiro (14 pedaços) R$ 85. Site www.omelhorbolodechocolatedomundo.com