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Quantos litros de água uma bituca de cigarro na praia pode contaminar?

Material que contém substâncias nocivas afeta fauna e flora costeiras. Prefeituras desenvolvem programas para adequar descarte e realizar reaproveitamento

5 jan 2024 - 03h10
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Já é senso comum que o cigarro faz mal aos humanos, mas você sabia que eles também são prejudiciais aos peixes, algas e crustáceos? Nas praias, as pequenas bitucas jogadas de forma desordenada na areia e na água acabam levadas mar adentro e carregam cerca de 6.700 substâncias nocivas. Ações de autoridades na orla tentam reduzir os danos provocados por essa sujeira.

Conforme o professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ítalo Braga de Castro, a bituca de cigarro é como "uma bombinha química" Uma única guimba na água pode tornar imprópria de 2 a 2,5 mil litros de água, considerando as espécies de organismos vivos mais sensíveis. Outros animais e plantas são mais resistentes, mas a contaminação pode representar de 70 a 100 litros de água imprópria para eles.

A bituca é o pedaço "não-fumado" do cigarro e, na maioria das vezes, onde fica o filtro - usado especificamente para barrar a entrada de grandes quantidades de nicotina, monóxido de carbono e alcatrão. Logo, é o pedaço mais prejudicial à saúde. Não há pesquisas conclusivas que englobem bitucas de outros cigarros, como aqueles de fabricação caseira.

"Se pegar uma garrafa PET vazia, colocar água da torneira e deixar um cigarro lá, você verá que em poucos minutos a água fica amarelada. Aquilo nada mais é do que as substâncias tóxicas que causam danos para saúde sendo dissolvidas", explica Castro.

As pesquisas do Instituto do Mar apontam que as bitucas representam de 35% a 50% da quantidade de resíduos encontrados nas praias. Um dos estudos revela que esse material flutua, em média, por três dias antes de afundar, contaminando assim tanto fauna e flora marinha da superfície como as espécies do fundo do oceano.

"São pequenos organismos que realizam funções essenciais para a vida na Terra, cujo impacto é muito mais profundo do que uma tartaruga com canudo no nariz. Não desdenho da comoção popular, mas não nos reconhecemos nem nos comovemos nessas algas, não dando a devida importância", acrescenta o biólogo.

Além dessa alteração nos organismos aquáticos, o consumo desse peixe faz com que essas substâncias que eram filtradas para não chegarem ao corpo de fumantes atinjam inclusive a parcela de não fumantes. Também não há conclusões favoráveis sobre a retirada dessas substâncias durante processos de filtragem e tratamento de água, o que pode representar um problema ainda maior por algo tão pequeno.

Como descartar as bitucas?

Algumas iniciativas dentro do Estado de São Paulo já chamam a atenção para não apenas o descarte correto, mas também o reaproveitamento das bitucas. Caraguatatuba, no litoral norte paulista, por exemplo, criou uma espécie de cinzeiro feito com bambu para que o banhista possa levar junto ao guarda-sol e devolver ao local na saída.

Implantada em junho de 2021, 340.170 bitucas (equivalente a 136 quilos) já foram impedidas de irem ao mar, conforme a secretária adjunta de Meio Ambiente, Tatiana Scian. "Sempre foi um sucesso, nós observamos os indicadores e, a cada mês, a quantidade de material vai aumentando", complementa.

São três postos com cinzeiros desse tipo nas praias Martim de Sá, Prainha e Cocanha, além outros 18 pontos no restante da cidade onde há coletores similares às lixeiras. "Colocamos os pontos de coleta também em locais de grande circulação de pessoas, nos postos de atendimento de saúde, na delegacia, em instituições de ensino, entre outros", detalha.

O material recolhido nos coletores também não vai para o aterro sanitário. A secretaria oferece oficinas para transformar as bitucas em massa celulósica e, assim, servir de matéria-prima para papel, agenda, papéis de carta, entre outros.

  • Para participar, é preciso entrar em contato com a secretaria por meio do telefone (12) 3897-2530 ou e-mail educacaoambiental@caraguatatuba.sp.gov.br. Também é possível ir até a sede, que fica na Rua Santos Dumont, 502 - Centro, para fazer a solicitação e retirada do material.

Porém, caso queira contribuir para o projeto e não seja bom em artesanato, a cidade de Ilhabela, também no litoral norte paulista, pode ajudar. O município tem cerca de 20 praias com pontos de coleta e realiza esse tipo de oficinas em escolas e fundações da cidade.

A gestora da Secretaria de Meio Ambiente, Kátia Freire, apoia a economia reversa como solução para as 750 mil já coletadas. Lá, as bitucas viram desde ímãs de geladeira e cartões postais até colares e anéis. "O material pode ser comprado na cidade nas lojas de fundo social, nas feiras da vila, na loja Solidariedade no centro da cidade, entre outros locais", enumera.

Um dos maiores parceiros da secretaria é a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que oferece a oficina como capacitação para futuros artesãos, além de promover a venda do artesanato em eventos e feiras.

Leis mais severas

Para o biólogo Ítalo, essas alternativas ajudam a conter a chegada das bitucas no mar, porém não são totalmente eficazes. Uma sugestão do pesquisador é começar a contenção de danos pelas próprias empresas de cigarro, usando os lucros da venda como contrapartida para pagar a coleta de lixos na cidade (hoje pagas apenas por impostos).

"O Plano Nacional de Resíduos Sólidos do Brasil prevê que atividades econômicas que gerem resíduos potencialmente poluidores devem ser reparadas através do processo de logística reversa. Trocando em miúdos, as empresas que lucram com a venda devem se responsabilizar pela destinação adequada dos resíduos que são produtos da sua atividade econômica", sugere.

Outra medida tida como exemplo são as adotadas em Barcelona, na Espanha, que proibiu o ato de fumar nas praias. A solução brasileira poderia incluir "áreas ambientalmente mais sensíveis", como Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e parques ecológicos. "Porém, é uma medida muito impopular e que nenhuma prefeitura ou governo adotaria", conclui.

Estadão
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