Como criar joaninhas, símbolo de boa sorte e importante protetora do ambiente
Casal de São Paulo criou kit de criação para ensinar crianças e adultos sobre desenvolvimento do inseto
Conhecido como "inseto do bem" no controle de pragas e até protagonista de desenhos animados, a joaninha vai muito além da beleza e do estigma de 'boa sorte'. É muito benéfica, principalmente, por sua atuação nos jardins e hortaliças. Mas poucos a conhecem a fundo.
Com isso em mente, um casal de entomologistas, especialistas em insetos, resolveu criar um kit voltado para a criação e observação de joaninhas. De acordo com Guilherme Trivellato, cocriador do projeto Asas e Cores, ele e a esposa Katherine Peréz queriam trazer para o Brasil algo que permitisse o contato com o inseto para expandirem o conhecimento de crianças e adultos sobre ele.
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"É tão gostoso quando a gente começa a fazer estágio e criar os bichos, ver eles crescendo e é tão legal. A gente tinha que dar um jeito de levar isso para as crianças", relembra Guilherme em entrevista ao Terra.
O paulista conta que a ideia inicial era trazer as borboletas para as salas de aula, para que a metamorfose fosse observada, porém, se preocuparam com o controle de pragas e mudaram para a joaninha. "Toda criança gosta de joaninha. Ela passa pelas mesmas fases, ovo - larva, além da legislação brasileira já estar preparada para receber a joaninha", explica.
Apesar de ter sido criado com o foco voltado para crianças a partir dos 4 anos dentro de sala de aula, o casal garante que o kit pode ser usado também por adultos e dentro de casa.
Como criar as joaninhas?
O combo vem acompanhado de um habitáculo de criação, que é onde o animalzinho irá ficar, um refil com larvas do inseto para criar, um tubete com 10 a 12 joaninhas adultas para soltar no jardim, comida suficiente até o desenvolvimento e soltura na natureza e uma pipeta para colocar água.
Para não ficar perdido, o kit também vem acompanhado de um livro de instruções, que vem em um formato de jogo de perguntas, detalhando os cuidados e como os insetos devem ser mantidos até o momento da soltura na natureza.
Guilherme explica que o primeiro passo é montar a "tartaruguinha", que é o habitáculo. Portanto, basta pegar a pipeta, coletar 1 ml de água e adicionar na 'cabeça da tartaurga' , onde o sal está localizado. "Esse sal irá virar um gel. Ele mantém água disponível por pelo menos um fim de semana, pensando em sala de aula", ressalta.
Junto com o habitáculo vêm as larvas dentro de um tubo com papeizinhos dobrados, uma tampinha com furinhos e o alimento em pó. "Quando joga tudo aqui [diz mostrando a tartaruguinha], vai cair o papelzinho dobrado, as larvas de joaninhas e o alimento que a gente desenvolveu. A joaninha é predadora, então tem que dar algum alimento que seja um outro inseto para ela comer", comenta.
O alimento preferido da joaninha é o pulgão, porém, de acordo com o especialista, não é possível fazer esse transporte com esse inseto, devido a vários fatores relacionados ao bem-estar do próprio animal. Então, para sanar esse problema, é enviado ovos de uma espécie de mariposa, que é em pó e ficará disponível durante todo o ciclo de desenvolvimento.
"Aqui dentro a criança vai ver, com a ajuda da lupinha, a larvinha comer os ovinhos, cada vez que ela troca de pele e fica maior. Ela vai descobrir que, diferente do que todo mundo imagina, a pupa (fase larval da joaninha) não se cria de fora para dentro, mas de dentro pra fora, então ela vai ver a pupa saindo de dentro da lava. Ela sai branquinha e vai ganhando cor, à medida que vai secando a casquinha dela", explicou o entomologista.
Depois de todas as fases, o último e mais importante passo é soltá-la na natureza. Guilherme ressalta que a ideia é observar cada uma das fases que a joaninha passa e não mantê-la em cativeiro.
"É uma experiência prática de visualização de metamorfose da natureza e, quando o ciclo acabar, ela virar adulta, é importante soltá-la", informa. "Não recomendamos manter, pois a joaninha adulta precisa de espaço. Sem contar que o alimento também irá acabar. Mesmo se trazer de fora, vai criar um microclínio, o que não é muito bom para o isento, pois aumenta muito a chance de uma contaminação profunda. Então, está na hora de deixá-lo seguir o seu caminho natural."
Ele conta que o momento da soltura é muito importante nas escolas e que as crianças ficam muito animadas. Segundo Guilherme, são os adultos que ficam mais apegados. "As crianças ficam loucas para soltar. É o momento que elas mais esperam", compartilha.
Menos joaninhas na natureza
Os cientistas têm se preocupado com o bem-estar do inseto e com a possível diminuição da população de joaninhas. De acordo com dados divulgados em uma pesquisa do entomologista urbano da Universidade da Flórida (EUA), Philip Koehler, houve uma diminuição no número de joaninhas em cerca de 14% nos Estados Unidos e no Canadá entre os anos de 1987 a 2006.
Segundo Guilherme Trivellato, a situação não mudou muito. "As joaninhas no Brasil e no mundo inteiro estão sumindo. Eu via tanto joaninha quando era mais novo, hoje não vejo. Temos dois pontos aqui: primeiro, elas estão sumindo mesmo, e também paramos de olhar", pontuou.
"Isso aqui [projetos como o dele] faze muito bem para a população de joaninha. [...] Quando fazemos a atividade aqui dentro, aumenta muito a taxa de sucesso das larvinhas. O que eu quero dizer é que, na natureza, poucas viram joaninhas adultas, aqui há cerca de 50 a 70% de sucesso", pontua.
Os kits variam entre R$ 154 e R$ 220 e podem ser adquiridos pela internet de forma individual. Já para as escolas, existe o Projeto JoaNinho, em que são oferecidos um pacote maior, basta solicitar um orçamento.
