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Verstappen e Leclerc terão a hora da verdade em 2021

Acostumados a tratamento privilegiado em suas equipes, Verstappen e Leclerc enfrentarão oposição duríssima dentro de casa com Pérez e Sainz

3 fev 2021 - 10h15
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Charles Leclerc: pela primeira vez, terá um adversário motivado dentro da Ferrari.
Charles Leclerc: pela primeira vez, terá um adversário motivado dentro da Ferrari.
Foto: Ferrari / Divulgação

Existem diversas razões para que se espere muito da próxima temporada da Fórmula 1, mas a principal delas é a primeira chance de se mensurar a qualidade das duas principais estrelas da nova geração. Neste ano, Max Verstappen e Charles Leclerc terão a seu lado – ou melhor dizendo, pela frente? – dois adversários à altura, Sergio Pérez e Carlos Sainz.

Claro que Verstappen e Leclerc já tiveram companheiros de equipe de valor, mas não em condições de igualdade. Quando entrou na Red Bull e lá encontrou Daniel Ricciardo, Max Verstappen usufruía de um enorme manto protetor de Helmut Marko, a eminência parda da equipe. Nele, o dirigente austríaco tinha depositado todas suas fichas e seu prestígio ao se curvar à pressão do pai e empresário da jovem estrela. 

Usando a proposta da Mercedes para contratar seu filho como terceiro piloto, Jos Verstappen exigiu a titularidade do jovem Max na equipe principal. Era pegar ou largar, e Marko, ciente do potencial da nova estrela, abraçou a causa de corpo e alma. A ponto de culpar Ricciardo pelo choque com seu novo companheiro de equipe no Grande Prêmio do Azerbaijão de 2018.

Max Verstappen: sempre foi protegido dentro da Red Bull.
Max Verstappen: sempre foi protegido dentro da Red Bull.
Foto: Reb Bull / Divulgação

Os dois corriam roda a roda e, na 40ª volta, Ricciardo mergulhou na freada do fim da reta na tentativa de passar Verstappen. Como já havia feito antes, e por isso enfaticamente condenado por vários de seus adversários, o novato decidiu bloquear a manobra quando já não era mais possível. Ele colocou seu carro à frente do de Ricciardo, que não teve como evitar o choque que eliminou, de uma só vez, a equipe Red Bull de um grande prêmio em que tinha tudo para marcar bons pontos.

Ao chegar aos boxes, Ricciardo se deparou com a complacência de Helmut Marko para com o gesto de Verstappen. Foi naquele momento que ele decidiu sair da Red Bull, sentindo que a equipe já não lhe ofereceria condições de igualdade. Desde então, lá chegaram dois pilotos inexperientes, Pierre Gasly e Alex Albon, promovidos em ritmo de urgência do celeiro que se tornou a Toro Rosso, hoje Alpha Tauri. Limitados a auxiliares do holandês Verstappen, ambos fracassaram. 

A chegada do mexicano Pérez prenuncia novos tempos. O próprio Helmut Marko, hoje livre das pressões de aceitar as imposições da família Verstappen, declarou a quem quisesse ouvir que, “agora, não somos mais uma equipe de um só piloto”. Se for verdade, Verstappen vai contar apenas com suas próprias armas na luta interna da Red Bull. 

Verstappen, o preferido da Red Bull, agorá terá a concorrência de Pérez, que chega da Racing Point.
Verstappen, o preferido da Red Bull, agorá terá a concorrência de Pérez, que chega da Racing Point.
Foto: Divulgação

Até hoje, Pérez se notabilizou pela combatividade. Com a experiência de 10 anos na Fórmula 1, ele já provou do melhor e do pior. Estreou pela Sauber em 2011 e no ano seguinte foi escolhido para integrar o primeiro grupo da academia de jovens pilotos da Ferrari. Abdicou dessa honraria para integrar a McLaren em 2013, ao lado de Jenson Button, e lá foi tratado como material descartável quando, na verdade, o carro daquele ano foi um dos mais fracos já feitos pela equipe inglesa.

Foi seu pior ano, mas também muito proveitoso. Enrijecido, mudou-se para a Force India, onde sobreviveu a duelos com companheiros como Nico Hulkenberg, Esteban Ocon e Lance Stroll. Em seus 10 anos na F1, só foi superado pelos companheiros em três ocasiões: no primeiro, quando ficou atrás do japonês Kamui Kobayashi, já em sua terceira temporada na categoria; em 2013 por Button na McLaren; e em 2014, seu primeiro ano na Force India, por Hulkenberg.

Hoje, aos 31 anos, Pérez soma uma única vitória e 10 pódios em 191 corridas. Reconhecido pela tenacidade e pela espantosa capacidade de extrair dos pneus vida bem mais longa do que conseguem os demais, tem contra ele um retrospecto insuficiente nas provas de classificação. Sua melhor posição de largada é o terceiro lugar no grid do Grande Prêmio da Turquia do ano passado. Agora, lhe cabe mostrar que isso se deve não a ele, e sim às limitações dos carros que teve em mãos até hoje. 

Sergio Pérez (com Christian Horner): experiência e determinação na Red Bull.
Sergio Pérez (com Christian Horner): experiência e determinação na Red Bull.
Foto: Reb Bull / Divulgação

Pérez sabe que não terá vida fácil. Seu companheiro/adversário Max Verstappen, apesar de ter apenas 23 anos, já está na Fórmula 1 desde 2015 e contabiliza 10 vitórias em 110 largadas. Tudo indica que dominará o mexicano nas provas de classificação, mas há possibilidades de que o desgaste que seu ritmo furioso impõe aos pneus seja um ponto fraco a ser explorado por Pérez ao longo das corridas.

A situação do monegasco Leclerc não se apresenta muito diferente da de Verstappen, de quem tem sido rival encarniçado desde os tempos do kart. Ao contrário do holandês, que pulou do primeiro ano de F3 para a F1 e, por isso, nunca conquistou títulos no automobilismo, Leclerc cumpriu todas etapas com louvor. Campeão da GP3 em 2016 e da GP2 em 2017, estreou na F1 em 2018 pela Sauber e foi guindado pela Ferrari em 2018.

Lá, ele encontrou um ambiente deteriorado pela pouca empatia entre o recém-promovido chefão Mattia Binotto e seu principal piloto, Sebastian Vettel. Rápido e combativo, Leclerc logo se impôs como a futura estrela de Maranello, em sentido contrário ao declínio de Vettel. Hoje, ele contabiliza duas vitórias e 12 pódios em 59 corridas, números que deveriam ser bem maiores se não fosse o fracassado carro de 2020.

Neste próximo campeonato, Leclerc terá em Carlos Sainz um piloto escolhido por Binotto – diferente dele, que foi alçado da Sauber para a Ferrari pelo falecido Sergio Marchionne, que chefiou a Scuderia Rossa de forma personalista. Orgulhoso de sua italianidade, Marchionne se deu ao luxo de dispensar o diretor técnico James Allison em 2016 para promover seus compatriotas, gesto que é visto por muitos como o começo da espiral descendente da equipe.

Carlos Sainz: ameaça para a hegemonia do xará Charles Leclerc na Scuderia.
Carlos Sainz: ameaça para a hegemonia do xará Charles Leclerc na Scuderia.
Foto: Ferrari / Divulgação

Sainz tem 26 anos, três a mais do que Leclerc, e seu melhor resultado em seis temporadas na F1 é o segundo lugar em Monza no ano passado. Chegou duas vezes ao pódio e sua melhor posição de largada é o terceiro lugar, posição que ocupou nos GPs da Styria e da Itália em 2020.

Ele chegou à F1 em 2015, pela Toro Rosso, que naquele ano tinha um outro estreante, não por acaso Max Verstappen. O holandês conseguiu melhor colocação final no campeonato de pilotos, mas houve total equilíbrio nas provas de classificação. No final de 2017, insatisfeito com o desempenho do carro e com o que considerou limitações impostas pela Red Bull à sua carreira, migrou para a Renault antes do fim da temporada, e se tornou o primeiro piloto a virar as costas para a poderosa empresa.

Era um ano de reconstrução da equipe francesa e Sainz foi superado pelo alemão Hulkenberg em 2018 e, em 2019, mudou mais uma vez ao aceitar o convite da McLaren. Hoje, com 118 grandes prêmios distribuídos por três equipes, ele acumula experiências diversas. Entre elas a de ter enfrentado adversários rápidos e combativos.

Tem entre suas qualidades a habilidade de interpretar as diversas fases de uma corrida. Nas provas de classificação, nem sempre obtém bons resultados, mas suas largadas costumam ser eficientes e lhe permitem recuperar posições de forma surpreendente. 

Sainz pilota o carro de 2018 em Fiorano: determinação já conquistou os torcedores.
Sainz pilota o carro de 2018 em Fiorano: determinação já conquistou os torcedores.
Foto: Ferrari / Divulgação

Mas talvez seu traço mais enfático seja a determinação. Em seus anos na Fórmula 1, nunca se viu em Carlos Sainz sinais de abatimento, menos ainda de rendição. Desde o começo do ano, o espanhol está debruçado sobre os segredos e meandros da Ferrari. Utilizou o único dia de testes que teve até agora (com o carro de 2018, como manda o regulamento) para se familiarizar com os comandos do volante e o método de trabalho da Scuderia. Ele não está disposto a desperdiçar nem um minuto no dia e meio que lhe caberá ao volante do novo Ferrari na pré-temporada, neste ano reduzida para apenas três dias. 

No fim daquele dia, saiu dos boxes da pista de Fiorano até o ponto de que alguns “tifosi” tinham acompanhado todas suas voltas, ostentando uma faixa com seu nome. Com este gesto, Sainz já conquistou o valiosíssimo apoio da maior e mais apaixonada torcida do automobilismo mundial. Não por acaso. O espanhol sabe que tem pela frente uma luta dura, e pretende usar todas as armas cabíveis dentro da ética.

É isso que espera por Max Verstappen e Charles Leclerc em 2021. Que vençam os melhores. Mas é bom se cuidar...

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