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Tsunoda e a missão de não ser só mais um japonês na F1

Yuki Tsunoda, piloto japonês de 20 anos, precisa superar os números de seus antecessores e aguentar a pressão ao chegar na Fórmula 1

18 jan 2021 - 11h40
(atualizado em 21/1/2021 às 17h41)
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Yuri Tsunoda agora é piloto titular da AlphaTauri e promessa para o Japão.
Yuri Tsunoda agora é piloto titular da AlphaTauri e promessa para o Japão.
Foto: AlphaTauri / Reprodução

Há dois anos, Yuki Tsunoda precisou adaptar o paladar acostumado ao sushi e o lamen, ou ramen, pratos da culinária oriental, para o tradicional fish and chips, um prato típico inglês com filé de peixe empanado frito acompanhado de batatas fritas. Choques culturais inevitáveis e que fazem parte do processo de aprendizado para jovens pilotos que, assim como Tsunoda, saem de seus países em busca de uma carreira promissora no automobilismo europeu, principalmente, com o objetivo de entrar na Fórmula 1.

O caminho até que foi rápido para o piloto de apenas 20 anos e que será o companheiro de Pierre Gasly na equipe AlphaTauri em 2021, substituindo o russo Daniil Kvyat. Tsunoda será o piloto mais jovem do grid nesta temporada e o 18º japonês a competir na Fórmula 1, o primeiro desde a participação de Kamui Kobayashi em 2014, pela equipe Caterham.

Helmut Marko e Yuki Tsunoda
Helmut Marko e Yuki Tsunoda
Foto: FIA F2 / Reprodução

E, afinal, qual é o histórico do mais novo japonês que chega à Fórmula 1?

Nascido no dia 11 de maio de 2000 em Kanagawa, província cuja capital é Yokohama, Tsunoda assistiu pela primeira vez uma corrida de carros aos quatro anos, quando o pai disputava uma competição no kartódromo de Nakai, no Japão. Foi nesse mesmo circuito que experimentou o kart pela também pela primeira vez e, aos cinco anos, disputava a Kids Karting, uma competição especialmente para crianças. Desde cedo, sempre foi muito competitivo e, como não conseguia alcançar os pedais, precisava usar dois assentos, um dentro do outro.

Yuki quando era criança, no kart.
Yuki quando era criança, no kart.
Foto: Red Bull / Reprodução

A inspiração para a carreira escolhida por Yuki, foi o pai. Ele era apaixonado por corridas e depois se tornou o técnico e mecânico de kart do próprio filho. De 2009 a 2015, disputou vários campeonatos de kart e só pôde competir na F4 japonesa quando completou 16 anos, idade exigida para os pilotos daquele país participarem de competições em carros de fórmula. 

No primeiro ano, terminou o campeonato em 16º lugar e em 2017, na terceira colocação. Em 2018, passou a ser apoiado pelo Honda Formula Dream Project, projeto da montadora japonesa, iniciado em 2006, e que é um programa para jovens pilotos com o objetivo de descobrir e desenvolver talentos no automobilismo. Tsunoda levou o título da categoria, depois de uma sequência impressionante: em 14 corridas disputadas, conquistou oito poles, sete vitórias e esteve 11 vezes no pódio.

Yuki Tsunoda, Takahiro Hachigo (CEO da Honda) e Seiji Kuraishi (COO da Honda).
Yuki Tsunoda, Takahiro Hachigo (CEO da Honda) e Seiji Kuraishi (COO da Honda).
Foto: Twitter AlphaTauri / Reprodução

Após essa conquista, Tsunoda deixou o Japão rumo à Europa para ingressar naquela que seria sua primeira competição internacional para dar novos passos em busca de realizar o sonho de tornar-se piloto de Fórmula 1. Seguiu apoiado pelo projeto da Honda e depois de um teste de três dias no circuito de Hungaroring, passou a fazer parte oficialmente da Red Bull Junior Team, o programa de jovens pilotos da equipe austríaca. Em 2019, competiu pela F3, categoria que substituiu a GP3, com a equipe Jenzer Motorsport. Conquistou três pódios, incluindo uma vitória na segunda corrida em Monza, e terminou o campeonato na nona colocação, com 67 pontos.

Yuki e seus prêmios de 2020.
Yuki e seus prêmios de 2020.
Foto: FIA F2 / Reprodução

Em paralelo, também disputou a Euro Formula Open, onde conseguiu seis pódios e terminou o campeonato em quarto lugar. 2019 foi um ano de adaptação, sem dúvida, aos novos costumes, culturas e a um campeonato totalmente novo. Mas, ao final da temporada, Tsunoda participou dos testes de pós temporada em Abu Dhabi, com o carro da equipe Carlin, e conseguiu impressionar quem estava na pista. Tanto que no ano seguinte, quando menos esperava, subiu de categoria.

Na Fórmula 2, correndo pela tradicional equipe Carlin, terminou na terceira colocação no campeonato com 200 pontos, 15 atrás do campeão Mick Schumacher e apenas um ponto do segundo colocado, o inglês Callum Ilott. Foram três vitórias de Tsunoda, sendo duas na corrida principal (Feature Race), quatro poles e quatro pódios. Além disso, foi premiado com o FIA Rookie of the Year e com o Prêmio Anthoine Hubert, ambos destacando o melhor desempenho do estreante da categoria em 2020.

Yuki Tsunoda foi campeão da F4 Japonesa em 2018.
Yuki Tsunoda foi campeão da F4 Japonesa em 2018.
Foto: Twitter / Reprodução

Com isso, ele acumulou os pontos necessários – e tão esperados pela Red Bull e seu consultor Helmut Marko – para conquistar a super licença e a vaga na AlphaTauri. Em novembro do ano passado, alguns dias após o grande prêmio da Emilia-Romagna, o piloto japonês experimentou pela primeira vez o STR13 de 2018: foram 72 voltas a bordo de um carro de Fórmula 1 no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Ímola. Em 15 de dezembro, Yuki participou do teste de jovens pilotos no circuito de Yas Marina, alguns dias após o final da temporada 2020 da F1 em Abu Dhabi e foi anunciado oficialmente como o companheiro de Gasly na equipe.  

Yuki Tsunoda pilotando o carro da AlphaTauri.
Yuki Tsunoda pilotando o carro da AlphaTauri.
Foto: Reprodução

Apesar de não ter conquistado títulos nas duas categorias de acesso à Fórmula 1, Tsunoda vem mostrando que não está para brincadeira e suportou bem a pressão da Red Bull para conquistar a super licença. No teste em Ímola, por exemplo, foi elogiado pelo chefe da equipe AlphaTauri, Franz Tost, que ressaltou a consistência do piloto nos tempos de volta durante a simulação de corrida. Além de ser bem conceituado no time da Red Bull, podemos dizer que o japonês é o pupilo da Honda.

Mas, não podemos nos esquecer que a montadora japonesa vai deixar a F1 em 2022. Isso faz com que a Red Bull tenha que buscar um novo fornecedor das unidades de potência, tanto para a equipe austríaca como para a AlphaTauri, equipe sediada em Faenza, na Itália.

Tsunoda acompanhou de perto a F1 em 2020.
Tsunoda acompanhou de perto a F1 em 2020.
Foto: Reprodução

Para quem não se recorda, a Honda deixou a F1 no final de 2008 e retornou à categoria em 2015 em um acordo exclusivo com a McLaren. A parceria não deu resultados e ficou marcada pelas sucessivas reclamações de Fernando Alonso. Os britânicos deram preferência aos motores Renault e em 2018, a Honda passou a ser a fornecedora para a então equipe Toro Rosso. Meses depois, Honda e Red Bull anunciaram a parceria, inicialmente, para ambas as equipes nas temporadas de 2019 e 2020, e que posteriormente foi estendida para 2021. Porém, a decisão de sair da categoria, anunciada no início de outubro, foi justificada para que a Honda pudesse concentrar seus recursos no desenvolvimento de formas alternativas de energia limpa, sem emissão de carbono.

A pergunta que fica é a seguinte: se Tsunoda foi vinculado à vaga na AlphaTauri por ser o ‘queridinho’ da montadora japonesa, e se ele não for constante e oferecer confiança (e pontos) à equipe, além de se comportar como o fiel escudeiro de Gasly nesta temporada, corre o risco de ficar distante da transição para a equipe principal? Segundo a Red Bull, o contrato de Sergio Pérez é de apenas um ano. Por isso, o que Tsunoda fizer em 2021 poderá afetar o seu futuro dentro da própria equipe, que costuma promover aqueles que fizeram parte do Red Bull Junior Team, o programa de desenvolvimento de pilotos, que revelou nomes como Sebastian Vettel e Max Verstappen.

Tsunoda durante teste com a AlphaTauri.
Tsunoda durante teste com a AlphaTauri.
Foto: Honda / Reprodução

A falta de experiência nas competições que antecedem a chegada à F1 poderá levantar possíveis questionamentos quanto a rápida ascensão na carreira de Tsunoda. Afinal, quando Daniil Kvyat foi promovido para a equipe principal muito rapidamente, acabou pagando um preço por falta de tempo para se desenvolver e apresentar bons resultados à Red Bull. Resultado: o piloto russo foi rebaixado e agora está fora da categoria.

Mesmo antes de começar a temporada, Tsunoda se junta aos 17 pilotos japoneses que passaram pela Fórmula 1: Aguri Suzuki, Hideki Noda, Hiroshi Fushida, Kamui Kobayashi, Kazuki Nakajima, Kazuyoshi Hoshino, Kunimitsu Takahashi, Masahiro Hasemi, Naoki Hattori, Noritake Takahara, Sakon Yamamoto, Satoru Nakajima, Shinji Nakano, Taki Inoue, Takuma Sato, Toranosuke Takagi, Toshio Suzuki, Ukyo Katayama e Yuji Ide. 

Yuki Tsunoda tem a difícil missão de ser "o" japonês da F1 e não mais um.
Yuki Tsunoda tem a difícil missão de ser "o" japonês da F1 e não mais um.
Foto: Honda / Reprodução

O último piloto japonês que passou pela categoria foi Kamui Kobayashi, que registrou o primeiro e último pódio de um piloto japonês: ocupou o terceiro lugar em Suzuka, no GP do Japão 2012. E o último piloto com patrocínio da Honda na F1 foi Takuma Sato, que competiu de 2002 a  2008. Em 2017, Sato se tornou o primeiro japonês na história a vencer as 500 Milhas de Indianápolis, nos Estados Unidos, e no ano passado conquistou o bicampeonato no oval mais famoso do mundo.

Que Tsunoda deixe de ser mais um japonês para ser “o” japonês da Fórmula 1.

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