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Max Verstappen vai pagar pela arrogância da Red Bull

Um dos pilotos mais rápidos do momento, Max Verstappen corre o risco de ter um motor inferior em seu futuro na Red Bull

14 mai 2021 - 10h40
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Max Verstappen: motor Honda é uma força.
Max Verstappen: motor Honda é uma força.
Foto: Twitter

Todo mundo sabe que a Honda vai abandonar a Fórmula 1 no final desta temporada. Uma pena. O fabricante japonês cumpriu sua missão de sair somente quando voltasse a ganhar corridas. Hoje, o motor Honda permite que a Red Bull dispute classificações e corridas em pé de igualdade com a Mercedes. Mas, com a saída da Honda, Max Verstappen pode sofrer mais do que a própria Red Bull.

Eu explico. Ao perder o fornecimento de motores da Honda, a Red Bull ficou, literalmente, no mato sem cachorro. Ir para a Mercedes não era uma opção. Ir para a Ferrari também não -- até porque, pela divisão de forças da Fórmula 1, existe um paradigma de que é bom que as maiores equipes estejam com diferentes motores. Voltar para a Renault era impossível, dadas as condições em que houve o rompimento. Além disso, dos citados, só os motores Mercedes parecem oferecer reais condições de vitória.

Que fez a Red Bull? Decidiu dar um passo ousado e fabricar seus próprios motores. Rá! Quem segura a equipe movida a energizantes que dão asas? Teoricamente, ninguém. Por isso, a Red Bull decidiu investir nas instalações de Milton Keynes, na Inglaterra, e começou a tirar alguns profissionais da Mercedes. Segundo Toto Wolf, kaiser da Mercedes, a Red Bul já contratou umas 15 pessoas, sendo seis delas da própria Mercedes. Mas isso será suficiente para manter a Red Bull competitiva? 

Não. Não mesmo. Num primeiro momento, sim, pois basta dar continuidade ao brilhante trabalho da Honda. Com o passar do tempo, entretanto, uma estrutura de 100 pessoas jamais terá condições de fazer o mesmo trabalho de uma que é quase 10 vezes maior. "Temos cerca de 900 pessoas trabalhando em Brixworth”, disse Toto Wolf à revista inglesa Autosport. “Se eu fosse começar uma nova fábrica, faria assim, mas entre contratar mão de obra e ter uma fábrica funcionando, há um longo caminho a percorrer.”

Wolf foi gentil. Fabricantes como Honda, Mercedes, Renault e Ferrari têm milhares de motores rodando mundo afora para ajudar no desenvolvimento. Toda e qualquer experiência num carro de passeio também é transmitida à fábrica. É errado achar que a via de desenvolvimento de um motor é única, ou seja, do carro de corrida para o carro de passeio. Em alguns casos, ela é dupla. Por isso, não é exagero considerar que a Red Bull esteja sendo um pouco arrogante na projeção de seu futuro.

Quem vai pagar o pato dessa jornada é Max Verstappen. Como escreveu a jornalista Alessandra Alves aqui no Parabólica, o tempo está passando para Max. Ele é o piloto da nova geração que tem as melhores chances de substituir Lewis Hamilton como rei da Fórmula 1. Mas o tempo passa rápido na F1. Para ser o novo Hamilton, Verstappen precisa ter o melhor carro, o que inclui ter um dos melhores motores

É verdade que a Red Bull contratou Ben Hodgkinson, chefe de engenharia da Mercedes e um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento dos motores alemães, mas, sem a expertise da AMG por trás, Hodgkinson terá sua atuação limitada. Há outro fator: os japoneses são incrivelmente determinados em suas tarefas. A excelência técnica é quase uma religião para os japoneses.

Mesmo assim, a gigante Toyota fracassou na Fórmula 1 e a Nissan nem sequer se atreve a entrar. Prefere competir na Fórmula E. Para chegar ao estágio atual, a Honda não partiu de ontem. Ela trouxe décadas de experiência -- e outras categorias também contam nessa receita de sucesso.

Sem a Honda, que será da Red Bull?
Sem a Honda, que será da Red Bull?
Foto: Red Bull / Twitter

Nos anos 90, quando a Honda era a Mercedes de hoje, quase imbatível na questão dos motores, em várias ocasiões os engenheiros japoneses perguntaram a Ayrton Senna o que ele tinha achado do motor, após uma de suas maravilhosas pole positions. Ayrton, que não era bobo, ocasionalmente falava: “Faltou um pouquinho de motor”. E lá iam os determinados japoneses tirar mais algum cavalinho dos cilindros ou melhorar a curva de torque e potência dos maravilhosos V6 da Honda.

Tomara que Max Verstappen não tenha que pagar um alto preço, em sua carreira, pela ousadia da Red Bull em achar que pode viver, na Fórmula 1 supermoderna, sem a estrutura de uma Honda, uma Renault, uma Ferrari ou uma Mercedes. O tempo dirá. Para já, um retorno à Renault, com uma postura mais humilde, seria a melhor opção. A longo prazo, uma associação com a Porsche certamente seria mais profícua.

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