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Interlagos: a catedral da velocidade recebe a Fórmula 1

Aos 81 anos, Interlagos tem a “estreia” do GP de São Paulo e se garante como uma das melhores pistas do calendário da F1

10 nov 2021 - 17h59
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Interlagos, aos 81 anos, ainda com muita lenha para queimar
Interlagos, aos 81 anos, ainda com muita lenha para queimar
Foto: Wikimedia Commons

Após um ano de ausência, a F1 volta à Interlagos. E numa situação um tanto inédita, sedia pela primeira vez o “GP de São Paulo”. É mais uma marca para este autódromo que, aos seus 81 anos, se mostra ainda vivo e pulsante. Quarto circuito mais antigo a receber a F1 (fica atrás de Monza, Spa e Mônaco, todos da década de 20), sua trajetória merece sempre ser lembrada... 

Quando foi pensado na década de 20, o projeto previa um grande complexo de entretenimento. Nesta época, a área era praticamente deserta e havia o interesse em expandir os limites e oferecer uma opção de lazer para a classe mais rica da cidade. Originalmente, haveria um resort de luxo, além de outras atrações. O idealizador era o britânico Louis Romero Sanson. 

Em conjunto com o francês Alfred Agache, o engenheiro inglês, dono da empresa Auto-Estradas (que posteriormente construiria o Aeroporto de Congonhas), desenvolveu todo o conceito. Foi o urbanista francês, responsável pelo programa de reurbanização do Rio de Janeiro, quem notou a semelhança do local com Interlaken, na Suíça. Daí veio o nome Interlagos, aproveitando o lago formado pela represa construída pela companhia de energia Light alguns anos antes. Para se ter ideia, areia trazida de Santos foi usada para se fazer uma praia... 

Uma estrada foi aberta ligando o local até o Centro. A ideia também era construir casas para financiar o projeto. Porém a crise de 29 e a Revolução Constitucionalista de 32 acabaram por retardar os trabalhos. Somente na segunda metade da década de 30 que tudo foi retomado, focando somente no autódromo, muito por conta do renovado interesse que as corridas de automóvel estavam tomando no Brasil. Em conjunto com o Automóvel Clube do Brasil, Sanson concebeu um circuito se inspirando em Brookslands (Inglaterra), Indianápolis (EUA) e Monthlery (França). Em 1939, a parte principal das obras ficou pronta, mas a inauguração oficial veio em 12 de maio de 1940, com grande presença de público e ainda uma série de itens para conclusão... 

Veio a 2ª Guerra e Interlagos voltou a ser utilizada na segunda metade da década de 40. Mas o grande uso começou nos anos 50, com as corridas das Fórmula Continental e o florescimento da Indústria nacional. Datam desta época as famosas carreteras (carros devidamente modificados) e as Mil Milhas Brasileiras. 

Em 1950, a Auto-Estradas vende Interlagos para a Prefeitura. Espera-se que uma grande reforma seja feita a tempo do 4º Centenário (1954) e se diz que havia uma cláusula prevendo o uso expresso da área para o autódromo, caso contrário, o negócio seria desfeito. Nunca se comprovou isso, mas esta é mais uma história que compõe o folclore de Interlagos... 

Na década de 60, o automobilismo passa a tomar força no Brasil. Mais competições surgem e em 1967, começam as competições de monopostos. A Fórmula Vê toma conta e surge um grande nome: Emerson Fittipaldi. Em 1970, chega a Fórmula Ford. Antes disso, em 1963 há uma batelada inicial de obras, construindo arquibancadas, boxes e uma nova torre de controle. Em 1968, nova reforma, visando o recebimento de provas internacionais. Nesta época, Joachim Bonnier, então responsável pela Associação de Pilotos de Grandes Prêmios, esteve visitando o circuito e fez uma série de considerações para que a pista fosse considerada apta. 

Dois anos depois, a pista foi reinaugurada. Muita coisa feita em infraestrutura, mas uma coisa não foi mudada: o traçado. O principal, composto de 7.960m, trazia uma variação de curvas e alturas que traziam todas as possibilidades aos pilotos. Ainda havia um anel externo, de pouco mais de 4km, que também poderia ser usado. 

A reinauguração foi feita com o Festival BUA de Formula Ford, vencido por Emerson Fittipaldi. Posteriormente, houve novas reformas e o festival de F2 e, com o trabalho desenvolvido pelo empresário Antônio Carlos Scaglione, Automóvel Clube Brasileiro e a Rede Globo, a F1 veio em 1972. Ainda como prova extracampeonato, mas sendo oficializada no ano seguinte no calendário. 

Com exceção de 1978, a F1 esteve de 1973 a 1980, sempre com emoções e casa cheia. Uma das aventuras do público era pular o muro e acampar dentro do autódromo para ver a prova. E a pista era uma das preferidas dos pilotos. Um dos desafios era fazer as antigas Curvas 1 e 2 de “pé em baixo”. 

Entretanto, após os problemas enfrentados em 1977 por conta de um asfalto mal curado, uma série de carros bateram na Curva 3. Este problema junto com a resistência na execução de várias obras de segurança e os custos para trazer a prova, fez com que a F1 se transferisse para o Rio de Janeiro em 81. 

Com a saída da F1, Interlagos ficou sediando corridas nacionais de carros e também de motos. Stock Car, Brasileiro de Marcas, Fórmula Ford, Fórmula Fiat, Fórmula 2 (Brasil e SUDAM), entre outros. Em 1985, houve uma tentativa de negociação com a Fórmula Indy através de Emerson Fittipaldi para uma prova da categoria usando o anel externo. Mas as ameaças da FISA e da FOCA de colocar Interlagos em uma “lista negra”, fizeram as negociações não prosseguirem. 

A esta altura, muitos questionavam a continuidade da existência de Interlagos. E muitos ficaram preocupados quando Luiza Erundina assumiu a Prefeitura, em 1989. Vários de seus partidários consideravam Interlagos um desperdício de dinheiro público, voltado para esporte de rico. Um projeto de usar a área para moradias populares chegou a ser cogitado. Entretanto, o destino dá suas voltas... 

Por razões políticas e comerciais, o Rio de Janeiro não renovou o contrato com a F1 e o Brasil corria sério risco de perder o seu GP. Piero Gancia, então Presidente da CBA, contatou Erundina e a consultou sobre a possibilidade de Interlagos voltar a sediar a prova. Após algumas negociações, a Shell entrou como parceira do projeto e uma reforma em tempo recorde seria feita para que a F1 voltasse a Interlagos. 

Infelizmente, o circuito de quase 8 km teria que ser adequado para uma nova realidade. Afinal, os traçados mais modernos tinham entre 4/5 km. Um projeto foi aprovado e começou a ser executado. Ayrton Senna foi consultado para as obras e durante uma visita, sugeriu a construção de uma curva de alta velocidade, estilo S, lembrando a Eau Rouge. Sua sugestão era ligar o final da reta dos Boxes à Curva do Sol. Saiu daí o S do Senna, que acabou não saindo de acordo com a intenção de seu criador... 

Em pouco mais de 3 meses e com direito a Plano Collor às vésperas da corrida, Interlagos recebia de volta a F1. Embora agora com 4.325m, ainda conservava parte do seu caráter seletivo, juntando partes de alta velocidade com aquelas em que o carro tinha seu equilíbrio exigido. As Curvas 1 e 2, além da Reta Oposta, haviam sido descartadas., A antiga Subida do Lago virava Descida. Restavam a Curva do Sol (invertida) e boa parte do miolo (Laranjinha, Pinheirinho, Bico de Pato e Junção). A Curva do Sargento morria para dar lugar a espaço para infraestrutura. Interlagos ganhava a configuração que conhecemos hoje. 

A plástica radical garantiu a vinda da MotoGp, WEC, Turismo SUDAM, WTCC, ITC e as corridas locais. E mesmo com todas as ameaças, continua firme. Mais recentemente, o complexo não recebe somente corridas, mas shows musicais e vários outros tipos de eventos. Para se ter ideia, em 2019, Interlagos tinha mais de 90% do seu calendário preenchido.  Nos últimos anos, um processo de privatização foi iniciado, bem como de requalificação da área, liberando espaço para a especulação imobiliária. Felizmente, sem sucesso (por enquanto). 

Viva Interlagos, a nossa catedral do automobilismo! 

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