Análise: críticas ao Toyota Corolla Cross são exageradas
Rodamos 1.500 km com o Corolla Cross Hybrid e ele brilhou em consumo, conforto e design; veja os pontos mais criticados no SUV da Toyota
O Toyota Corolla Cross recebeu fortes críticas em 2021 por duas escolhas da montadora japonesa: o freio de estacionamento a pedal e a suspensão traseira com eixo de torção. Mas, depois de rodar cerca de 1.500 km com o Corolla Cross Hybrid XRX, concluímos que as críticas mais ácidas são exageradas. O carro está muito longe de ser um engodo.
É bem verdade que o SUV merecia uma suspensão traseira independente. Mas, mesmo nos Estados Unidos, somente a versão topo de linha (XLE 2.0), com tração integral, tem a suspensão independente. Os demais Corolla Cross (versões L e LE, ambas 2.0) também usam suspensão traseira por eixo de torção, como no Brasil, por terem tração dianteira. Portanto, faz parte do projeto do carro.
A Toyota não fabrica o Corolla Cross 4x4 no Brasil porque o mercado é restrito e esse segmento não está em seu perfil de consumidor. A “culpa” pela suspensão, portanto, não é da Toyota do Brasil e sim da matriz, que decidiu fazer assim. Na prática, entretanto, a suspensão multilink não fez falta no Corolla Cross Hybrid. Por suas características, o modelo híbrido não foca no alto desempenho e sim no baixo consumo de combustível.
As médias que conseguimos nessa viagem foram muito boas. Na Castello Branco, com metade do tanque com etanol e metade com gasolina, o Corolla Cross fez 12,5 km/l. Depois, só com gasolina, fez 14 km/l. Em estradinhas vicinais, a média foi de 15,1 km/l. Na cidade, chegamos a obter médias de 18,2 e até de 23,2 km/l. Depois, no retorno, as médias ficaram entre 14,6 e 15,1 km/l.
Claro que o consumo depende da forma como se dirige. Na estrada, por exemplo, ao usar o modo Eco, o consumo aumenta, pois há necessidade de forçar o motor para manter um ritmo razoável, a 120 km/h. Por isso, conseguimos as melhores médias no modo normal (em estradas mais lentas) e no modo Power (nas estradas mais rápidas).
A rodagem em estrada é muito boa. O carro é bastante confortável, espaçoso, com ótima ergonomia, tem boa capacidade no porta-malas (440 litros) e, mesmo carregado, não causa nenhum desconforto em curvas realizadas entre 120 e 130 km/h. Pelo menos nesta versão híbrida, que é a preferida dos consumidores, o Toyota Corolla Cross passou com méritos no teste. Afinal, quem compra um carro híbrido está mais interessado em economizar combustível do que em altas performances de velocidade.
Mesmo para o Corolla Cross 2.0 aspirado, de 177 cv, o eixo de torção não chega a ser um pênalti, pois somente em altas velocidades em curva o motorista vai sentir as vantagens da suspensão multilink. Não parece ser essa a característica dos proprietários desse carro. Agora, quando vai para a terra, aí sim o Corolla Cross mostrou que estava fora de seu ambiente.
É bem possível que a Toyota considere que aventuras em estradas de terra também não são prioridade para o público do Corolla Cross. Tanto que o carro tem o vão livre pequeno, de apenas 161 mm, o que também ajuda a equilibrar o carro no asfalto. Uma característica que está presente também no Volkswagen Taos e no Chevrolet Tracker. Os pneus 225/50 R18 mostraram-se perfeitos para a proposta deste SUV dos tempos modernos (mais perua do que aventureiro).
O freio de estacionamento a pedal foi a solução encontrada para não tirar espaço do console central. Poderia ser um freio de mão eletrônico, claro, mas a Toyota também tem suas razões para economizar em alguns custos. No mercado brasileiro, o Corolla Cross tem a referência de preço do Jeep Compass, que goza de regalias tributárias por ser fabricado no Nordeste. A Toyota reclama das seguidas renovações das isenções fiscais para a Jeep. O Corolla Cross é fabricado no Sudeste, onde não há abatimento de tributos em sequência.
O freio de estacionamento a pedal é tosco, mas acostuma-se com ele. De resto, se são essas as principais críticas ao Corolla Cross, elas não precisam ser exageradas. Há outros pontos do carro que poderiam ser melhores. Um deles é a multimídia. A interface não é simples e a qualidade do som no sistema de áudio também poderia ser melhor.
O próprio sistema híbrido pode ser evoluído. O Corolla Cross Hybrid conta com um motor 1.8 flex de 98/101 cv de potência (gasolina/etanol) e dois motores elétricos que somam 72 cv. A potência máxima combinada é de 122 cv e o torque é de 142 Nm. O sistema híbrido do novo Honda Accord e:HEV, por exemplo, traz a maior potência no motor elétrico. Se a Toyota dotar o Corolla Cross de motores elétricos mais potentes na próxima geração, o carro vai brilhar ainda mais no mercado brasileiro.
A capacidade da bateria também é pequena (apenas 1,3 kWh), o que limita bastante a utilização no modo EV, totalmente elétrico. Mas, utilizando o carro por muitos quilômetros e durante vários dias, é possível descobrir a forma de ser mais gentil com o acelerador e tirar o máximo do Corolla Cross Hybrid, que custa R$ 197.290 na versão avaliada (XRX).
Também sentimos falta de um câmbio CVT mais evoluído. O do Corolla Cross não tem opção de trocas de marcha manuais. Isso teoricamente melhora o consumo, mas, na prática, muitas vezes piora. Em acelerações constantes, para recuperar a velocidade, muitas vezes o motor já está num regime de giros que poderia ter uma marcha antecipada (ou duas) para seguir em ritmo de cruzeiro. Mas, como não há trocas manuais, ele obedece ao acelerador - é preciso dar uma tirada de pé para ajustar e não exigir demais do motor.
Finalmente, o Toyota Corolla Cross agrada pelo design. É impressionante a quantidade de pessoas que fizeram elogios ao carro em todos os lugares por onde passou. Seja na cidade ou nos postos de combustível, há sempre uma palavra elogiosa para a beleza do Corolla Cross. Além disso, a cor azul ajudou a reforçar a mística da marca Toyota combinada com a força do nome Corolla e o apelo da palavra Cross.
Não por outro motivo, o Corolla Cross foi um dos lançamentos mais bem sucedidos de 2021. Além disso, recebeu dos especialistas convidados pelo Guia do Carro o prêmio Trend Car 2022 na categoria Carro Híbrido.
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