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Foco na América Latina leva colombiana Rappi a valer mais de US$ 1 bi

Com crescimento forte no País, startup colombiana mira unidade regional; tamanho do mercado brasileiro atrai colombiana e outros empreendedores de fora

26 set 2018 - 05h11
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Antigamente, na América Latina, uma das características do comércio tradicional era a confiança entre lojista e comprador - quando as transações dispensavam papéis e eram fechadas na base do "fio do bigode". Fundada em 2015, a startup colombiana Rappi, que tenta modernizar as pequenas compras do dia a dia, escolheu o bigode como seu símbolo para criar uma identidade com o consumidor latino. No início do mês, três anos após sua fundação, a empresa se tornou o mais novo unicórnio da região, como são chamadas as startups que valem mais de US$ 1 bilhão. Com isso, ela segue os passos das brasileiras 99, Nubank e PagSeguro, que atingiram o feito no 1.º semestre.

Dona de um aplicativo pelo qual é possível pedir entregas de quase qualquer coisa - de compras de mercado a refeições de restaurantes elaborados, passando por camisinhas e cervejas no meio da madrugada, a Rappi tem no Brasil uma parte vital de sua estratégia. Segundo a empresa, uma fatia considerável dos US$ 220 milhões recebidos em sua última rodada de investimentos, feita por fundos como DST Global, Sequoia e Andreessen Horowitz, será investida no País. O aporte foi o que fez a empresa virar um unicórnio.

O País também caminha, diz a Rappi, para ser seu maior mercado em número de pedidos. Hoje, a colombiana tem por aqui sua maior taxa de crescimento - alta de 30% mês a mês, contra 22% mês a mês na média global. Por enquanto, dos 3,6 milhões de usuários da empresa, 800 mil estão no Brasil, divididos em 10 cidades. Até o fim do ano, diz Simón Borrero, presidente executivo da startup, serão 15.

E ele sonha alto: "nosso plano para o futuro é que a Rappi esteja em toda cidade que tenha mais de 100 mil pessoas no Brasil", conta ao Estado. Segundo ele, cidades como São Paulo são perfeitas para a sua empresa. "Aqui, as pessoas têm muito pouco tempo. Quando fazemos uma entrega, não estamos levando hambúrgueres para as pessoas", diz. "Estamos dando a elas mais tempo em suas vidas."

Para Borrero, há duas razões para a startup ter conseguido sucesso até aqui. Uma foi, desde seus primeiros dias em Bogotá, ter ouvido os pedidos dos usuários - uma caixa em branco dentro do aplicativo, no qual era possível pedir que os entregadores da startup buscassem qualquer coisa, serviu como indicador para quais serviços a empresa deveria prestar atenção. A outra, ainda mais importante, foi entender que precisava se vender como uma empresa latina.

União. "Hoje, vejo investidores que só pensam no Brasil ou na Argentina. Isso divide atenções", diz Borrero. "Se construirmos empresas que operem em toda a região, os fundos do Vale do Silício vão se interessar mais por nós", diz o empreendedor, listando estatísticas. Entre elas, o fato de que o PIB da região soma US$ 5,9 trilhões, segundo dados do Banco Mundial - o dobro da Índia, mesmo com metade da população do país asiático.

Virar um negócio conhecido em toda a América Latina não é algo exatamente inédito, mas é difícil de ser feito. O melhor exemplo vem da Argentina: é o Mercado Livre, que virou sinônimo de comércio eletrônico na região e hoje está avaliado em US$ 14 bilhões. Para isso, porém, a empresa fincou seus pés por aqui, de onde tira seu maior faturamento - no segundo trimestre deste ano, por exemplo, 58,3% da receita da argentina saiu do Brasil.

Procurar o mercado brasileiro é algo natural para as empresas latino-americanas - a via oposta, das brasileiras se expandirem para outros países, é algo menos comum. Há razões para isso acontecer. "Startups que nascem em países como Colômbia ou Argentina se internacionalizam mais rápido porque seus mercados são menores", ressalta o colombiano David Vélez, cofundador do Nubank.

Imigração. Com 4 milhões de clientes de seu cartão de crédito no País, Vélez é um exemplo de outro tipo peculiar de "integração local": a do empreendedor latino que já começa seu negócio no Brasil, de olho no tamanho do nosso mercado. É o caso também do argentino Guille Freire, da Trocafone. Fundada aqui em 2013, a startup compra e vende smartphones usados, em parcerias com grandes empresas como Magazine Luiza, Oi, Samsung e Pernambucanas. Este ano, pretende vender mais de 500 mil aparelhos no País, em seu site e nos 3 mil pontos de venda das parceiras.

"Quando quis abrir uma startup, eu queria fazer algo grande. Isso não seria possível na Argentina: lá, o negócio não teria a escala que queríamos", diz Freire. Segundo ele, a integração latina, porém, nem sempre é tão fácil. "Apesar das semelhanças econômicas, há diferenças na cultura e na legislação que atrapalham", diz. "Os argentinos são mais diretos que os brasileiros. Às vezes, isso pode complicar a forma de fazer negócios."

Para Maurício Benvenutti, da plataforma de incentivo a startups StartSe, a presença de empreendedores latinos no Brasil é positiva. "Isso torna o ambiente mais competitivo." Segundo ele, os brasileiros demoram mais para se expandir internacionalmente porque o País tem um "teto maior". "A startup só deve ganhar escala depois que o empreendedor aprenda muito sobre ele e há muito o que se aprender aqui."

David Vélez, do Nubank, vai na mesma linha. "O empreendedor brasileiro que olhar prematuramente o mercado latino-americano, pode acabar desviando seu foco", diz. Talvez ele seja o melhor exemplo disso: apesar de reconhecer que a oportunidade do Nubank "vai além do Brasil", ele diz que não querer desviar seu foco do País por enquanto.

Estadão
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