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A inovação dos desconectados

O vício em tecnologia é um dos males mais debatidos do século XXI. Ao mesmo tempo, tornou-se um grande nicho para inovação.

17 out 2018 - 05h11
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É inegável que a conectividade nos tornou super-humanos: multiplicou nossas horas produtivas, fez com que transitássemos de forma fluida entre tempos e espaços, reinventou a forma como trabalhamos e consumimos. Ficamos mais elásticos e disponíveis, mas também mais suscetíveis a novas formas de dependência. O vício em tecnologia é um dos males mais debatidos do século XXI. Ao mesmo tempo, tornou-se um grande nicho para inovação.

Reduzir o vício nas telas e estimular o contato olho no olho já faz parte da pauta de gigantes de tecnologia, como Apple e Google. Mas esses mecanismos de controle têm efeito limitado, pois seus negócios dependem do uso da tecnologia, com métricas atreladas ao tempo online. Assim, algumas opções para desconectar virão de empresas que consigam inovar e estimular o bem-estar.

Em estudo sobre alternativas ao vício de tecnologia, a consultoria Loup Ventures criou uma matriz. Ela divide soluções de software e experiências, capazes de motivar felicidade, prosperidade e produtividade. As soluções baseadas em software envolvem ferramentas de controle ou bloqueadores de uso de apps. Do lado das experiências, a maior oportunidade está em criar soluções que promovam interação de relacionamento, comunidades e família, além dos espaços de descompressão.

Os negócios com maior probabilidade de serem bem-sucedidos são aqueles que proibirem menos e incentivarem mais o bem-estar. Produtos e serviços análogos, como dietas e ginástica, devem estar na pauta dessas empresas. O raciocínio é o seguinte: as pessoas pagam por programas de emagrecimento ou de exercícios físicos porque conseguem sentir-se bem ao participarem deles.

O mesmo acontecerá quando existirem programas focados na desconexão. Apps de meditação encaixam-se paradoxalmente nessa esfera. Eles faturaram mais de US$ 100 milhões em 2017 e ganharão parte expressiva do mercado, estimado em US$ 2 bilhões até 2022. As pessoas pagam porque sentem-se bem ao usá-los, ainda que o meio online seja o que mais causa estresse ou vício.

Vale lembrar que alguns protótipos começam a surgir também na área de hardware com o apelo da desconexão. O "minimalista" Traveler é um exemplo: é um laptop sem navegador, sistema operacional ou apps de mensagens - é só uma ferramenta para quem precisa produzir textos, sincronizada com serviços de armazenamento na nuvem. Promete zero distrações e já levantou US$ 400 mil em crowdfunding. Não digo que o aparelho em si seja um divisor de águas, mas ele mostra indícios que a indústria começa a observar. Quem provar benefício real, mostrando mais resultado que buzz, tende a sair na dianteira na preferência dos usuários.

É INVESTIDORA ANJO E PRESIDENTE DA BOUTIQUE DE INVESTIMENTOS G2 CAPITAL

Estadão
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