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Cientistas buscam por substância para substituir sangue

7 jun 2018 - 08h10
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Apenas nos EUA, 46 pessoas morrem diariamente devido à perda de sangue, seja em mesas de cirurgia, seja em acidentes que causam ferimentos e hemorragias. Segundo uma análise feita em 2011, a situação ainda vai piorar: até o ano de 2030, o país encontrará mais e mais déficits em seus estoques de sangue para transfusão. Além disso, o sangue transfusável apresenta riscos de transmitir doenças infecciosas, colocando mais um perigo na lista de riscos que os organismos convalescentes precisam enfrentar.

Com tudo isso, é de se imaginar por que a ciência não se esforça mais para desenvolver um substituto sintético para o sangue, nem que seja apenas para realizar as funções de transporte de oxigênio para os tecidos do corpo enquanto pessoas acidentadas são levadas para receber cuidados.

Estudiosos têm tentado inovações nesse sentido desde o século XVII, quando William Harvey fez a descoberta de como funcionava o sistema respiratório. Nesse contexto, foram testados vários substitutos orgânicos para o sangue, como cerveja, leite, urina, misturas de vinho e ópio e até mesmo sangue de outros animais. Obviamente, nenhuma dessas experiências encontrou meios de substituir a importância do sangue no organismo.

Foi apenas durante a Segunda Guerra Mundial, com as tecnologias médicas voltadas para salvar os soldados feridos em batalha, que a transfusão de sangue começou a ser um campo do saber que exigia mais atenção dos cientistas. Entretanto, com o período pós-guerra sendo marcado pelas preocupações com a pandemia do vírus HIV na década de 1980 e, logo em seguida, os contágios associados à doença da vaca louca na década de 1990, as pesquisas sobre transfusão de sangue foram severamente impactadas.

Até o momento, apenas duas substâncias se provaram capazes de substituir o sangue em contextos específicos: a hemoglobina recombinante e os perfluorcarbonos (PFCs). O problema é que eles vêm com uma série de efeitos colaterais perigosos. Por exemplo, liberar hemoglobinas brutas na corrente sanguínea, apesar de ajudar no transporte de oxigênio no corpo, pode ser tóxico. Segundo o Dr. Andre Palmer, da Universidade de Ohio, os tratamentos com hemoglobina recombinante precisam ser encapsulados em moléculas de maior tamanho a fim de se evitar o acesso direto aos tecidos corporais, pois esse contato gera lesões nas células devido à oxidação.

Já os PFCs têm a vantagem de conseguir carregar até 50 vezes mais oxigênio que o plasma sanguíneo, mas perdem quando comparados aos tratamentos que se baseiam em hemoglobinas. Insolúveis em água, os PFCs precisam passar pela diluição em um meio lipídico antes de serem inseridos na corrente sanguínea. O Dr. Dipanjan Pan, pesquisador adjunto do Departamento de Bioengenharia da Universidade de Illinois, explicou que outro problema encontrado nos tratamentos com PFCs é a baixa durabilidade dos materiais.

Food and Drug Administration

O FDA, em 1989, chegou a aprovar uma substância chamada Fluosol-DA-20 como substituto para o transporte de oxigênio no sangue, mas ele foi retirado do mercado após 5 anos devido à extensa lista de efeitos colaterais associada ao tratamento. Atualmente, a Anvisa dos Estados Unidos não aprova o uso de nenhum tipo de substitutivo para o sangue, mas a pesquisa independente conduzida pelos doutores Palmer e Pan quer mudar esse fato com o desenvolvimento de uma substância chamada Erythromer.

Erythromer

Hemoglobina em pó (Foto: Reprodução / Universidade de Illinois)
Hemoglobina em pó (Foto: Reprodução / Universidade de Illinois)
Foto: Canaltech

Segundo a explicação do Dr. Pan, o Erythromer não é um substituto para o sangue. "Ele é um transportador de oxigênio que pode ser utilizado para entregar o gás aos tecidos durante atendimentos urgentes para ajudar a manter vivos os feridos até que possam chegar ao hospital".

A substância é composta por hemoglobinas derivadas de humanos e manipuladas para que se tornem um pó com validade de até seis meses. Comparativamente, o sangue humano dura cerca de 42 dias se armazenado em ambientes de temperatura reduzida. Após serem reduzidas ao pó, as moléculas de hemoglobina são revestidas por um polímero sintético que coleta átomos de oxigênio nas áreas do corpo que apresentam pH mais elevado e os liberam nos tecidos que estão privados de oxigenação, com pH mais baixo.

O intuito era produzir essa tecnologia de saúde para uso em contexto militar, mas o Dr. Pan prevê que o Erythomer possa ter ampla utilização civil. Exemplos citados pelo pesquisador incluem atendimento de urgência a pessoas acidentadas em locais de difícil resgate e até mesmo tragédias em massa com múltiplas vítimas. Até mesmo a Nasa está de olho na pesquisa do Dr. Pan, interessada em fornecer o tratamento aos seus astronautas quando distantes da Terra.

PolyHb

Já o Dr. Palmer e sua equipe estão trabalhando em uma substância chamada PolyHb, ou hemoglobina polimerizada. Derivada da hemoglobina natural, a PolyHb possui um invólucro de polímero que protege o organismo da toxicidade da hemoglobina bruta sendo aplicada diretamente nos tecidos. Segundo o Dr. Palmer, o invento tem como objetivo apenas "dar ao paciente tempo suficiente para chegar a um hospital para receber uma transfusão de sangue" pois, segundo o pesquisador, nada pode ser melhor para um organismo que necessita de transfusão de sangue que sangue orgânico real.

O PolyHb ocupa menos espaço (Foto: Reprodução)
O PolyHb ocupa menos espaço (Foto: Reprodução)
Foto: Canaltech

Uma das vantagens do PolyHb é que as hemoglobinas em pó ocupam menos da metade do volume de bolsas de sangue, oferecendo aos profissionais a possibilidade de tratar até 10 feridos, sendo necessário apenas uma pequena quantidade de água purificada para reconstituir a mistura.

De acordo com o que a NBC News aponta, 90% das mortes evitáveis em campo de guerra derivam de choques hemorrágicos. O PolyHb aumenta em até 48 horas a capacidade de um organismo de conseguir manter a oxigenação dos tecidos até receber o devido socorro.

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