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"Próximo Jobs poderia ser do Brasil", diz guru do Vale do Silício

31 jan 2013 - 16h37
(atualizado em 13/2/2013 às 19h14)
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"O mundo está ficando maluco, e precisamos fazer coisas malucas para consertá-lo", começou Salim Ismail, diretor-fundador da Singularity University, um centro de pesquisas com sede no centro da NASA no Vale do Silício, em palestra na Campus Party Brasil nesta quinta-feira. Ele falou sobre como o avanço veloz da tecnologia vai mudar o futuro, elogiou o empreendedorismo brasileiro e disse que aposta no País como líder de uma era de inovações.

Para ir mais longe, é preciso unir tecnologia e paixão para resolver problemas globais, afirmou Salim Ismail
Para ir mais longe, é preciso unir tecnologia e paixão para resolver problemas globais, afirmou Salim Ismail
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra

"O próximo Steve Jobs poderia ser do Brasil. Eu acredito que será", disse na coletiva de imprensa, justificando a expectativa pelo nível de energia e colaboração do País. "Esperamos que nos próximos dez anos apareça (um novo Steve Jobs) e ele será de um dos países como o Brasil", continuou.

Segundo o canadense, ex-diretor do Yahoo!, a Singularity University, que seleciona seus 80 alunos anuais entre milhares de aplicantes do mundo todo, teve mais brasileiros desde sua inauguração, em 2009, do que qualquer outra nacionalidade. "Isso só pode significar que vocês são muito loucos", brincou ele, enquanto falava no palco principal do maior evento geek do planeta.

À imprensa, mais tarde, explicou que a confiança no Brasil teria três principais razões. "Vocês são empreendedores e entusiasmados por natureza - basta ver qualquer partida de futebol", começou.

O segundo motivo seria o fato de que o País tem, em escala menor, os mesmos problemas considerados globais, como pobreza, falta de água e de abastecimento de energia. "Se vocês conseguirem resolver isso no Brasil, podem levar (a solução) para qualquer lugar do mundo, e há um grande mercado", comentou. Estar perto dos problemas facilitaria a criação e implementação de tecnologias para solucionar as questões, segundo o diretor da Singularity.

O terceiro fator mencionado foi a "pouca idade" do País. "Vocês se organizaram recentemente, diferente dos Estados Unidos e de muitos países da Europa, e vocês têm a oportunidade de superar a maior parte das outras nações do mundo", afirmou na coletiva de imprensa após a palestra no palco central do Anhembi Parque.

Pensando "fora da caixa"

Ao público da Campus Party, Ismail reforçou o conceito de ponto de inflexão, o momento em que algo acontece e muda completamente a forma como o mundo vê um determinado assunto. Um dos exemplos que usou foi o das impressoras 3D, que hoje permitem produzir objetos sem precisar de moldes e com "complexidade ilimitada". O diretor citou dados mostrando que, uma vez em um caminho de evolução, setores dobram de tamanho a cada um ou dois anos, "e não importa o que aconteça, nada vai tirá-los dessa rota".

Ele também explicou os programas da Singularity University, voltada aos melhores estudantes de cursos de pós-graduação do mundo. No final de um deles, os estudantes são desafiados a, em grupos, criarem soluções para resolver problemas globais que impactem ao menos um bilhão de pessoas. Um desafio semelhante foi lançado no Brasil em 2010, contou ele, e de 1,4 mil inscrições, 230 projetos - fora o vencedor - acabaram implementados.

O currículo da universidade é revisado seis vezes por ano. "É por isso que não conseguimos ter nenhuma certificação. A maioria dos órgãos exige um currículo estabelecido, e não queremos isso, justamente porque trabalhamos com a tecnologia em evolução rápida", explicou. "Passamos 80% do tempo falando sobre o que vai acontecer no futuro, diferente da maioria das escolas em que se observa como algo se desenvolveu ou evoluiu até o ponto atual", resumiu.

Segundo Ismail, o mundo atual não está preparado para lidar com as mudanças que virão no futuro. Ele criticou governos, legisladores e religiosos, que estariam "desatualizados" para o contexto atual. "Até a democracia está desatualizada, porque em uma democracia demora-se para tomar uma decisão, e precisamos de decisões rápidas", comentou. Segundo ele, para conseguir manter o passo da inovação é preciso "contornar" sistemas como o político, agindo independentemente e usando de empreendedorismo para inovar.

Caminho do futuro

Quando fala em empreendedorismo, Ismail se refere à capacidade de tentar algo inúmeras vezes e não desistir diante de dificuldades. "É claro que é difícil, se fosse fácil qualquer um fazia", comentou, afirmando que investidores não estão interessados em números, mas em "paixão": "eles querem saber que você (empreendedor) não vai desistir".

"Vocês (campuseiros) têm uma chance muito maior do que qualquer um mais velho do que você são. Os líderes mundiais pensam linearmente, não exponencialmente (como a tecnologia avança)", afirmou à audiência. Para ir mais longe, continuou Ismail, é preciso unir tecnologia e paixão para resolver problemas globais - essa, aliás, é a sua definição de "inovação".

O diretor da Singularity prevê que no futuro só haverá carros como o do Google, que se dirige sozinho. "Não precisaremos de estacionamentos, nosso carro vai nos deixar no trabalho e depois ir embora", disse. "Eu hackeava computadores, vocês hackeiam a internet, e os filhos de vocês vão hackear o cachorro da família", brincou, em referência aos avanços da tecnologia a passos rápidos.

Na coletiva de imprensa, Ismail comentou também sobre lado negativo da tecnologia. Ele citou o exemplo de uma bactéria que já pode ser criada hoje em dia e poderia ser programada para identificar um DNA único - como o do presidente americano Barack Obama - e destrui-lo quando o encontrasse. "Com certeza deveríamos ter medo da tecnologia", exclamou. "Há riscos e ameaças, e não sabemos como lidar com eles", admitiu, "mas é por isso que precisamos encontrar as soluções para os problemas globais".

Campus Party Brasil 2013

A sexta edição da Campus Party Brasil, uma das maiores festas de inovação, tecnologia e cultura digital do mundo, acontece entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro no Anhembi Parque, em São Paulo. Na Arena do evento, 8 mil pessoas têm acesso à internet de alta velocidade e a mais de 500 horas de palestras, oficinas e workshops em 18 temáticas, que vão desde mídias sociais e empreendedorismo até robótica e biotecnologia. Cinco mil desses campuseiros passam a semana acampados no local.

A 6ª edição traz ao Brasil nomes como o astronauta Buzz Aldrin, um dos primeiros homens a pisar na Lua, e o fundador da Atari, Nolan Bushnell. Em sua sexta edição em São Paulo, a Campus Party também teve no ano passado a primeira edição em Recife (PE). O evento acontece ainda em países como Colômbia, Estados Unidos, México, Equador e Espanha, onde nasceu em 1997.

Nas edições brasileiras anteriores, o evento trouxe ao País nomes como Tim Berners-Lee, o criador da Web; Kevin Mitnick, um dos mais famosos hackers do mundo; Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos; Steve Wozniak, que fundou a Apple ao lado de Steve Jobs; e Kul Wadhwa, diretor-geral da fundação Wikimedia,que mantém a Wikipédia.

O Terra cobre o evento direto do Anhembi Parque e, além do canal especial Campus Party Brasil 2013, os internautas podem acompanhar as novidades pelo blog Direto da Campus. Para seguir a festa pelo Twitter, basta acompanhar a hashtag oficial do evento, #cpbr6.

 

Fonte: Terra
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