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Opinião: Álcool e o poder sedutor e destrutivo das bebidas

15 out 2023 - 06h00
(atualizado em 15/10/2023 às 13h24)
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Foto: Dylan de Jonge / Unsplash

Salve, salve!!! Salve-se quem puder.

Escrevo essas linhas meio ressaqueado. Afinal, ontem foram três ampolas, um branco e dois tintos. Antes, uma cerveja pra limpar e depois, um rum seguido de Calvados da Normandia.

Beber é bom só antes e durante. Ficam os causos na memória, as conversas, gargalhadas e inconsequências. Depois é uma desgraça. Não há como fugir de uma ressaca.

A playlist “This is Alcool Club” tem as melhores músicas da banda Alcool Club, um grupo de hip hop português! Achava que o gênero só funcionava sendo cantado inglês. Grata surpresa. MC Manuel e DJ João botam pra quebrar.

Como ter um corpo perfeito bebendo feito um FDP

Equilíbrio é tudo.

Ainda tenho a pretensão de materializar aquele meme do Homer Simpson lendo o livro do subtítulo acima e realmente escrever o dito cujo.

Uns anos atrás escrevi uma hipotética introdução do livro e mandei ao meu cunhado. Mescla o prazer de beber, as bebidas e causos resultantes de chapações homéricas com exercícios físicos que qualquer um pode fazer para se manter saudável e em forma.

O conceito de "corpo perfeito" é bem subjetivo e deve ser definido e adaptado para cada um já que expectativas e esforços são diferentes e variam bastante de um bebum com aspirações de atleta pra outro.

Vamos a ela:

Eu bebo todos os dias, como neste exato momento, tarde da noite após jogar bola. Cheguei em casa e abri uma pilsen pra relaxar. Desceu macia e redonda. Cerveja, às vezes, é a única coisa que precisamos para nos alimentar. O corpo e principalmente a alma.

Bebo todos os dias sim, mas hoje, por exemplo, será apenas uma ampola de meio litro. E sem tira-gosto ou qualquer comida gordurosa para acompanhar. Este é um dos segredos já que a cerveja é composta em sua maioria de água. Nosso corpo precisa dela, senão morremos. Somos feitos em grande maioria de água, talvez 65%, contam por aí nos botecos da Vida. Na verdade, beber cerveja em sua essência significa alimentar as células do corpo para que funcionem e não morram. Estamos fazendo um bem a nós mesmos, ou seja, sobrevivendo.

Algumas pessoas têm uma resistência ao álcool maior do que as outras. Tenho amigos que possuem fígados feitos de adamantium tamanha a capacidade de suportar hectolitros de cerveja, muitas vezes misturada com destilados de todos os tipos. Ficam bêbados sim, mas se mantêm naquele estado de espírito único e inigualável quando você está "no grau", nem mais, nem menos.

Quando você se conhece bem o suficiente, e são necessários anos de cachaçadas, ressacas, vexames, promessas de "nunca mais vou beber na vida" até chegar nesse ponto, as noites são memoráveis. Em alguns momentos somos milionários, invisíveis, insensíveis, os caras mais engraçados do planeta e junto dos melhores amigos. o Tempo pára, literalmente. Chamo este estado de nirvana etílico.

Seria perfeito se pudéssemos encher a cara todo dia como se não houvesse amanhã atingindo este tal sonhado Éden sem ter que trabalhar no dia seguinte, se preocupar com a conta bancária e muito menos com a ressaca monumental, irmã de sangue dessas noitadas. Como nada é perfeito e Deus, ou sua esposa, inventou a palavrinha mágica que teimamos em desobedecer: LIMITE.

Aos 20 anos você não tem muita grana pra beber coisa boa e só pensa em ficar bêbado o mais rápido possível. Qualquer jurubeba custando 10 merréis vira single malt 21 anos na mão de um calouro da universidade. O Tempo vai passando, sua carreira começa, o dinheiro aparece, uma namorada também e você acha que está aprendendo a viver e a beber. Ledo engano.

O lento processo de substituição do querosene por coisa mais fina já começou. Você bebe champanhe, ou um espumante, cava ou prosecco mequetrefe, pela primeira vez numa festa de 15 anos ou casamento bacana e se acha importante. Inicia-se no mundo dos vinhos. Bebidas como gin, tequila, rum e cachaça de qualidade começam a fazer parte da sua carreira etílica. Pinga não só no mercado central depois de um virote saindo da boate, mas também uma cachaça de alambique como aperitivo na casa do sogrão num almoço comportado de domingo.

Aos 40 os vinhos melhoram bastante, mas você já aprendeu a reconhecer potencial em ampolas com preços mais baixos e de boa qualidade. Bico fino demais tem lá suas desvantagens. Não se consegue beber qualquer porcaria. Corre o risco de tornar-se um mala sem alça e de gastar muita grana pra satisfazer seu próprio padrão de qualidade e impressionar os amigos, o que é uma burrice tremenda. Custo x benefício é o foco do bebum, mas no nosso caso, um pé de cana sofisticado que já rodou bastante o mundo e conhece um pouco das biritas deste planeta, bebida boa é a que está no seu copo. Cerveja pode ter milho, desde que seja saborosa e o preço compatível com a matéria prima usada.

Se você comprou esse livro ou está lendo este capítulo para ver se vale a pena, seu objetivo é, primeiramente, continuar bebendo feito um filho da puta e ao mesmo tempo ter uma vida mais saudável adicionando mais anos a sua existência para que possa continuar bebendo feito um desgramado.

O livro será dividido em 4 sessões: Foco, Disciplina, Persistência e Determinação. Você verá que com pequenas mudanças de hábito, na quantidade e qualidade de bebidas ingeridas associado a um programa de exercícios físicos que qualquer caramujo manquitola seria capaz de fazer, sua vida vai melhorar da água para o vinho e sua esposa vai me agradecer.

Ela provavelmente vai ler o livro também. Primeiro, para botar pressão em você te forçando a tentar mudar de Vida e depois para ela mesma melhorar seu próprio corpo com sutis alterações na rotina e uma certa dose de sacrifício.

Nota do Autor: o conceito de "corpo perfeito" precisa ser muito bem definido desde o início pois a expectativa é a mãe da desilusão, já dizia um grande ex-amigo cachaceiro, bipolar e doido varrido. Onde estamos e onde queremos chegar?! Quanto tempo estamos dispostos a investir nisso?!

Usain Bolt tem um padrão estético e de performance bem mais elevado do que tinha o finado Seu Olímpio, garçom lendário da Cantina do Lucas. Cristiano Ronaldo corre, pula, se joga, bate falta, faz gol de bicicleta, comemora, ganha títulos e milhões de euros. Não queremos ser como eles, pelo contrário. Admiramos seus feitos com uma boa gelada nas mãos, torcemos por Portugal, mas se tivéssemos 1% do dinheiro dele já teríamos morrido de cirrose faz tempo.

Estamos em busca de um balanço, um equilíbrio entre o nirvana etílico e o inevitável cuidado com esse chassis que irá nos acompanhar por toda nossa existência. Sem o devido trato na lataria a maresia come solta, a ferrugem vai carcomer tudo e você voltará a ser o pó que sempre foi em tempo recorde.

Lembre-se: quanto mais tempo vivermos, mais tempo teremos para beber!

Vale a pena publicar?

Pra ver e ler

FILME: Despedida em Las Vegas – Mike Figgis (1996). Marcou uma geração.

Todo homem que se preza um dia se apaixonou por Elisabeth Shue. Nicolas Cage era um zé ninguém e explodiu para a fama e o estrelado após ganhar o Globo de Ouro e o Oscar por esta ode à autodestruição e ao alcoolismo.

O eterno canastrão Cage faz bem demais o papel de um alcoólatra suicida em Los Angeles. Após ter perdido sua família e ter sido demitido, decide se mudar para Las Vegas e beber até morrer. Com seu BMW lotado de destilados e cerveja, fica bêbado dirigindo durante o trajeto entre L.A e Vegas.

Lá chegando, encontra na rua por acaso uma prostituta (Elisabeth Shue) com quem se envolve e desenvolve um relacionamento romântico mudando o filme pra melhor.

O diretor Mike Figgis baseou-se num romance autobiográfico de 1990 de John O'Brien, que se suicidou em abril de 1994, logo após descobrir que seu romance estava sendo usado como base para um filme.

LIVRO: A Drinking Life – Pete Hamill (1995). Uma infância quase inteira no bar.

O pai de Pete Hamill vivia no boteco. Era um alcoólatra inveterado, agressivo com a esposa e o filho. Era mais um trabalhador mediano como tantos outros naquela Nova York do pós guerra.

Neste livro de memórias best-seller, o experiente repórter novaiorquino traz um relato vívido de sua jornada rumo ao abismo da autodestruição.

Pete Hamill aprendeu desde cedo, durante sua infância na Depressão e Segunda Guerra Mundial, que beber era essencial para “virar homem”. Um ritual de celebração, luto, amizade, romance e religião. Só muitos anos depois percebeu o poder destrutivo do álcool na carreira de um escritor.

Hamill explica como o álcool lentamente se tornou parte de sua vida e como ele finalmente o deixou para trás. Durante sua jornada de crescimento, trabalho e envelhecimento permeado pela bebida, vivemos com ele uma América que já não existe mais.

(*) Pedro Silva é engenheiro mecânico, PhD em Materiais, vive em Viena na Áustria, toma todas de vez em quando, mas ultimamente está sem beber e escreve semanalmente a newsletter Alea Iacta Est.

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