Votação sobre casamento gay é teste para premiê britânico
O parlamento britânico vota nesta terça-feira a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Inglaterra e no País de Gales, num teste para o primeiro-ministro, David Cameron.
A proposta, defendida por Cameron, dividiu seus correligionários, causando uma rebelião no fim de semana entre setores mais à direita do seu partido, o Conservador.
Se aprovada, a lei coloca a Grã-Bretanha no seleto grupo de onze países que já permite o chamado casamento igualitário, entre os quais a Argentina, a Holanda e a Noruega.
Assim como no Brasil, a Grã-Bretanha já permite, desde 2005, a união civil, que não concede direitos plenos ao casal.
Divisão
No fim de semana, um grupo de 20 líderes locais do Partido Conservador entregou uma carta a Cameron alertando que a agremiação pode ser derrotada na próxima eleição por causa do tema.
Cameron disse nesta terça-feira que o casamento homossexual é "um importante avanço" que irá fazer a sociedade britânica "mais forte". Nos últimos dias ele também escalou ministros e a secretária de Cultura, Maria Miller para defender a medida
"As propostas para mudança são simples e diretas. Se um casal se ama, o Estado não pode impedi-los de se casar, a não ser que haja uma boa razão. E ser gay não é uma razão suficiente", disse Miller em um artigo em jornais britânicos.
Para o analista de política da BBC Nick Robinson, "Cameron quer que seu governo seja lembrado por uma grande mudança social, e não apenas pelos esforços para consertar a economia".
Ironicamente, a proposta tem apoio da oposição trabalhista e dos liberais-democratas, que dividem a coalizão de governo com os conservadores.
O britânicos também dão sinais de apoiarem a nova lei. Na última semana de 2012, duas pesquisas, do jornal The Independent e do The Guardian, mostraram que 62% concordam com a proposta.
A lei vale apenas para a Inglaterra e o País de Gales. A Escócia e a Irlanda do Norte tem legislação própria sobre o tema.
Igreja Anglicana
Entre os opositores da mudança estão grupos religiosos e o arcebispo da Cantuária, Justin Welby, cuja autoridade como líder da Igreja Anglicana só é inferior à da Rainha Elizabeth 2ª.
O tema é particularmente espinhoso para os anglicanos. Alguns párocos temem ser processados por casais homossexuais que se sentirem discriminados por não poderem se casar e até obrigados a conduzir, a contragosto, cerimônias religiosas sob ordem judicial.
Para prevenir ações na Justiça e na Corte Europeia de Direitos Humanos, a lei faz uma concessão e proíbe casamentos entre pessoas do mesmo sexo na Igreja Anglicana (algo passível de mudança, caso os religiosos assim o decidam).
Outras religiões, no entanto, estarão livres para conduzir casamentos gays com validade civil.
A discussão no Parlamento britânico se dá na mesma semana em que o tema também é debatido na França.