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Por que o vice de Trump precisou negar ser autor de carta que chama presidente de amoral e antidemocrático

O vice-presidente americano, Mike Pence, teve de vir a público negar ter relação com o texto de opinião anônimo publicado pelo New York Times.

6 set 2018 - 12h56
(atualizado às 14h15)
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Há especulações sobre quem escreveu o artigo, mas o vice-presidente diz que não foi ele
Há especulações sobre quem escreveu o artigo, mas o vice-presidente diz que não foi ele
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, negou que estivesse por trás de um editorial anônimo que critica o presidente Donald Trump.

O artigo, publicado no New York Times, teria sido escrito por alguém da Casa Branca e diz que pessoas indicadas pelo próprio Trump estão tentando minar sua agenda.

Há muita especulação sobre quem teria sido o autor do texto, mas um porta-voz de Pence diz que não foi ele.

Trump descreveu o autor como "covarde" e o jornal como "farsa".

"O vice-presidente assina quando escreve um artigo", tuitou Jarron Agen, diretor de comunicação de Pence e chefe de seu gabinete.

"O @nytimes deveria se envergonhar, assim como a pessoa que escreveu aquele artigo falso, ilógico e covarde. Nossa equipe está acima de atos imaturos como esse."

A tese de que Pence teria escrito o artigo vem do emprego da palavra "estrela-guia", que o vice-presidente usa com frequência.

No artigo do New York Times, publicado na quarta-feira, o autor se refere ao senador Republicano John McCain, morto recentemente, como uma "estrela-guia" para "restaurar a honra da vida pública e o diálogo nacional."

O que diz o editorial?

O artigo, intitulado "Faço parte da resistência dentro do governo Trump", foi escrito por alguém descrito pelo New York Times como um integrante "do alto escalão" do governo Trump. O jornal diz que o autor exigiu anonimato e que era necessário manter esse sigilo para dar ao leitor "um ponto de vista importante".

"Muitos dos funcionários do alto escalão estão se esforçando para frear parte da agenda dele e suas piores tendências", diz o artigo.

"Eu sei. Sou um deles."

Apesar de o autor dizer que apoia os objetivos do governo, ele afirma que o que deu certo foi apesar do Presidente, que é descrito como impulsivo, errático e amoral, alguém cujos "impulsos inadequados" precisam ser controlados pelo bem dos Estados Unidos.

"Talvez seja pouco nestes tempos caóticos, mas os americanos têm que saber que há adultos no controle. Reconhecemos o que está acontecendo. E estamos tentando fazer a coisa certa, mesmo se o Presidente não quiser fazê-la", diz.

Como a Casa Branca reagiu?

Com raiva. Um tuíte de Trump dizia "TRAIÇÃO?". Outro dizia "A esquerda e seu veículo, a Mídia Fake News, estão enlouquecendo e não sabem o que fazer", e citou o crescimento econômico como um sucesso.

Além dos comentários de Pence, outro membro da Casa Branca, o secretário de Estado, Mike Pompeo, também negou veementemente que tivesse escrito o artigo, e acusou o autor de ser "um mau ator, recalcado e enganador".

"A meu ver, se você não está disposto a executar o que manda o comandante, você tem uma opção: ir embora", disse.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse que o autor "não estava colocando o país em primeiro lugar, mas ele próprio e seu ego, acima do desejo do povo americano."

Por que isso importa?

Outro acontecimento desta semana já deixou a Casa Branca na defensiva: a publicação de um livro do respeitado jornalista político Bob Woodward.

O livro Medo: Trump na Casa Branca também diz que parte da equipe do presidente trabalha contra ele. Alguns supostamente escondem documentos sensíveis dele para evitar que os assine. Outros chamam ele de "idiota" e "mentiroso". Trump disse que o livro era "uma farsa".

Um dos trechos mais explosivos no artigo no Times diz que "fala-se no gabinete em recorrer à 25ª Emenda", que faria Trump ser deposto por incapacidade para ocupar o cargo.

Funcionários do alto escalão trabalhando contra o líder eleito fez soarem alarmes não só na Casa Branca. Na revista The Atlantic, David Fum, que disse ter votado em Hillary Clinton em 2016, chamou a situação de "crise constitucional."

Um ex-diretor da CIA, John Brennan, que é muito crítico a Trump, chamou o artigo de "insubordinação ativa", apesar de dizer que ela estava acontecendo por causa de "lealdade ao país".

Outros especulam se o artigo não teria sido uma tentativa de distanciar o partido Republicano do presidente, diante das eleições para o Legislativo marcadas para novembro.

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