Pesquisa aponta que ouvintes já não diferenciam músicas geradas por IA das criadas por humanos
Distinguir uma música 100% fabricada pela inteligência artificial (IA) de uma composição inteiramente criada por artistas reais se tornou quase impossível para o ouvido humano. A conclusão foi divulgada nesta quarta-feira (12) pelo instituto Ipsos, que realizou uma pesquisa sobre o assunto para a plataforma francesa Deezer.
Entre as nove mil pessoas ouvidas para o estudo, "97% não conseguiram diferenciar uma música gerada inteiramente por IA e uma música criada por humanos", afirma a pesquisa.
O teste foi feito "às cegas", apresentando aos ouvintes duas faixas, uma fruto da IA e outra composta por verdadeiros músicos. O estudo foi conduzido online entre 6 e 10 de outubro em oito países: Estados Unidos, Canadá, Brasil, Reino Unido, França, Países Baixos, Alemanha e Japão.
Os entrevistados também se mostram divididos diante das vantagens desse fenômeno tecnológico. Se quase a metade deles acredita que a IA pode guiá-los na descoberta de novas faixas, eles também se mostram pessimistas quanto às consequências à indústria musical.
Segundo o estudo, 51% das pessoas ouvidas na pesquisa acreditam que a IA levará ao surgimento de músicas "de qualidade inferior e mais genéricas". Quase dois terços (64%) pensam que essa técnica pode causar "uma perda de criatividade na produção musical".
Esses resultados "demonstram claramente que as pessoas se importam com música e querem saber se estão ouvindo uma música criada por um humano ou por IA", disse Alexis Lanternier, CEO da Deezer, em um comunicado.
34% das músicas no Deezer são fruto da IA
A empresa francesa é atualmente a única plataforma de áudio que indica sistematicamente as faixas geradas inteiramente por IA por meio de uma mensagem aos usuários. Em janeiro, a companhia relatou que uma em cada dez músicas reproduzidas em sua plataforma em um único dia não era composta por humanos. Dez meses depois, esse número representa "34% de todas as músicas", ou quase 40 mil por dia.
Apesar dessa tendência crescente, essas canções representam uma parcela ainda pequena do total de reproduções. Mas a tendência é que as composições deste gênero se multipliquem com a popularização do uso da tecnologia.
Em junho, o "grupo" The Velvet Sundown alcançou um sucesso meteórico no Spotify. Um mês depois, foi confirmado de que se tratava de uma banda criada por IA. Sua música mais viral ultrapassou três milhões de reproduções.
O escândalo foi tamanho que a plataforma sueca anunciou diversas medidas em setembro para incentivar uma maior transparência sobre o uso dessa tecnologia.
Vitória judicial contra a OpenAI
A pesquisa do Ipsos é divulgada um dia depois que a indústria musical alemã obteve sua primeira vitória judicial contra a OpenAI. O tribunal de Munique, no sul da Alemanha, considerou na terça-feira (11) que a gigante americana de inteligência artificial infringiu os direitos autorais de letras das canções.
Os "modelos linguísticos" utilizados pela OpenAI, bem como "a reprodução dos textos das canções nos resultados do chatbot", constituem "uma violação dos direitos de exploração protegidos pelos direitos autorais", indicou um comunicado à imprensa.
A sociedade alemã de gestão coletiva de direitos autorais musicais (Gema), que conta com cerca de 100 mil compositores e editores musicais entre seus membros, representou os artistas por trás de nove canções alemãs. A empresa entrou com uma ação judicial em novembro de 2024 acusando a OpenAI, criadora do robô conversacional ChatGPT, de ter usado letras de músicas para treinar seus sistemas de inteligência artificial, sem licença e sem pagar os autores.
A OpenAI argumentou que não infringiu a lei porque seus modelos linguísticos não armazenam, nem copiam dados específicos, mas refletem em seus ajustes o que aprenderam, segundo o tribunal. No que diz respeito ao chatbot, são os usuários que produzem seus resultados e são responsáveis por eles, afirmou a gigante americana.
No entanto, o tribunal decidiu que os artistas representados pela Gema têm direito a uma indenização "tanto pela reprodução dos textos nos modelos linguísticos quanto pela sua reprodução nos resultados".
A situação, apesar de ser inédita na Europa, não é nova para a OpenAI. A empresa enfrentou vários processos judiciais nos Estados Unidos, nos quais grupos de mídia e autores, afirmam que o ChatGPT foi treinado com suas obras sem permissão.
Com AFP