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Oriente Médio

Jovem ativista defende direitos homossexuais no Iraque

Ativista da causa LGBT no Iraque enfrenta constantes ameaças de morte e diz que burocracia da ONU impede ação do órgão diante dos relatos de perseguição; "enquanto esperamos, pessoas estão morrendo" cartas enviadas por ele à ONU sobre as violações dos direitos dos homossexuais não tem sido respondidas

30 out 2014 - 07h31
(atualizado às 07h31)
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<p>Homossexualidade não é reconhecida pela comunidade no Iraque", explica o ativista</p>
Homossexualidade não é reconhecida pela comunidade no Iraque", explica o ativista
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

Amir Ashour tem apenas 24 anos. Nascido em Bagdá, atualmente ele vive em Siemani, uma cidade ao norte do Iraque. O país é um dos mais difíceis de se viver para homossexuais, dentre outras minorias. Desde que a organização terrorista Estado Islâmico (EI) tomou controle de diferentes áreas do país, os direitos humanos têm sido ameaçados constantemente. 

Amir é um fervoroso ativista dos direitos homossexuais em um país que pouco se importa com questões LGBT. O jovem deixou os estudos aos 18 anos para se dedicar às organizações que lutam em favor dos direitos humanos e de educação. Hoje, ele também é presidente do único jornal iraquiano independente em inglês, produzido por jovens e a favor dos direitos humanos - o Awat.

Durante entrevista no evento sobre direitos humanos One Young World, em Dublin, Amir contou com emoção a sua luta pela defesa dos direitos humanos em um país onde, segundo ele, a religião é motivo de atraso. “A homossexualidade não é reconhecida pela comunidade. Eles acham que algumas pessoas se tornaram gays depois de as Nações Unidas apareceram no Iraque em 2003. Muitos nem tocam no assunto”, explica.

“A situação para os homossexuais no Iraque é terrível. Organizações religiosas e milícias organizam campanhas de matança anuais desde 2006. Eles divulgam o nome das futuras vítimas avisando que eles devem se ‘mudar’ ou serão assassinados”, explica ele. “E esses grupos matam as vítimas das maneiras mais horrorosas: à tijoladas, por exemplo, ou queimadas ainda vivas. Alguns sofrem abusos sexuais antes de serem mortos”, diz Amir. "Não há vida gay no Iraque, há números muito reduzidos de encontros e somente se você conhece alguém”, explica ele.

<p>Amir confessou com emoção a sua luta para defender direitos humanos em um país muçulmano, onde a religião é um motivo de atraso</p>
Amir confessou com emoção a sua luta para defender direitos humanos em um país muçulmano, onde a religião é um motivo de atraso
Foto: Arquivo Pessoal / Reprodução

“Calculamos que centenas foram mortos desde 2011. Não são exatos; muitos casos são escondidos e poucos são reportados por serem considerados ‘crimes de honra’”, explica o jovem. “Com o crescimento do Estado Islâmico, essas milícias estão ganhando força, o que facilita as campanhas de matança. Em julho deste ano, 35 gays e prostitutas foram mortos em um só dia”, diz ele. 

“Tudo isso tem acontecido apesar de o Iraque ter assinado o tratado de direitos humanos que asseguram direitos iguais a todos, não importa sexo ou orientação sexual. Até agora, porém, não houve punição alguma para quem desrespeita os trataos”, explica ele. “Nós enviamos cartas às Nações Unidas questionando as violações que o Iraque faz aos direitos humanos, mas a burocracia é tanta que, enquanto ainda esperamos uma resposta, pessoas estão morrendo”, reclama ele.

Amir conta que sofre ameaças constantemente. “Eu recebi seis ameaças de milícias religiosas em Bagdá no ano passado e fui atacado por meus próprios amigos neste ano quando eles descobriram que eu era ativista gay”, explica. O jovem está praticamente sozinho na luta pelos direitos LGBT no Iraque pois não há uma comunidade para ajudá-lo. Ele explica que desde que foi atacado pelos supostos amigos, resolveu expôr o que estava acontecendo. “Eu percebi que poderia ser preso e ninguém saberia sobre minha luta”, disse ele. “Durante os últimos anos eu vi muitas pessoas defendendo diferentes vertentes dos direitos humanos, da causa das mulheres à dos refugiados, mas ninguém defende a causa LGBT ”, disse ele. “Eu defendo por que sinto que é a minha responsabilidade. A vida não é só alcançar o que você deseja, mas contribuir para a vida de outras pessoas”.

Sobre a organização terrorista EI, Amir alerta que eles estão forçando mulheres a se oferecerem para serem abusadas e há um rumor de que fazem o mesmo com os gays. "Mas é importante dizer que o EI não representa os muçulmanos; muitos deles procuram difundir a paz e igualdade”, diz. “As pessoas precisam entender que religião é algo pessoal e não uma lei pública. São coisas diferentes. Se sua religião diz que você não deve aceitar gays, mantenha isso para você, mas no Iraque a religião é o maior impedimento. O Primeiro Ministro é religioso e, como ele, 90% dos partidos”, explica.

Apesar da vida dificil no Iraque, Amir diz que não tem medo de continuar vivendo em seu país. “As pessoas me convidam para sair do Iraque, mas não vejo sentido. As pessoas não precisam de mim em países europeus. Eu quero a liberdade no meu país. Precisamos mudar as percepções das pessoas. E mudança sempre começa a partir de uma pessoa”, diz ele.

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Fonte: Especial para Terra
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