Ao menos 2 mil sírios buscam refúgio no Líbano em 48 horas
Pelo menos 2 mil sírios cruzaram a fronteira entre a Síria e o Líbano nos últimos dois dias, anunciou nesta terça-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Luta por liberdade revoluciona norte africano e península arábica
"Não temos números exatos e a situação é bastante variável, mas sabemos que pelo menos 2 mil sírios cruzaram a fronteira com o Líbano nos últimos dois dias", afirmou em entrevista coletiva Sybella Wilkes, porta-voz do organismo.
Wilkes acrescentou que os números podem variar nas próximas horas, já que aparentemente "alguns cruzaram novamente a fronteira e voltaram à Síria".
Por enquanto, o Acnur está entregando comida, água e elementos essenciais de sobrevivência aos refugiados, alguns dos quais puderam se refugiar em mesquitas situadas nas áreas fronteiriças.
"Obviamente, o problema mais importante que vamos enfrentar nos próximos dias é o alojamento. Por enquanto, estamos contabilizando e fazendo uma avaliação de suas principais necessidades", acrescentou Wilkes.
A porta-voz explicou que o vale do Bekaa se transformou em um lugar de passagem dos sírios que fogem da repressão do regime de Bashar al Assad, mas não pôde apresentar mais informações.
O Acnur estimou no sábado que mais de 7 mil sírios fugiram ao Líbano desde que começou a repressão em seu país. A maior parte deles se encontra na região fronteiriça de Wadi Khaled (norte).
Bombardeios
Por outro lado, Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) denunciou que o Exército sírio bombardeou nesta terça-feira uma ponte pela qual transitam os sírios que fogem para o Líbano em busca de refúgio.
"As forças do regime bombardearam nesta terça-feira uma ponte perto Qusseir, na província de Homs (centro), utilizado pelos refugiados sírios, em particular pelos feridos, que fogem para o Líbano", declarou à AFP Rami Abdel Rahmane, diretor do OSDH. A ponte fica muito perto da fronteira libanesa, segundo Rahmane.
O OSDH denunciou ainda um grande ataque das forças sírias contra a cidade de Hirak, na província de Deraa, berço da rebelião contra o regime de Bashar al-Assad no sul do país. "Importantes forças militares, que incluem tanques e veículos de transporte blindados, lançaram um ataque contra a cidade de Hirak", afirma um comunicado da ONG. A nota também destaca um reforço do cerco à localidade de Tibet al-Iman, na província de Hama.
Depois da tomada do bairro de Baba Amro, em Homs, na semana passada, as forças do regime intensificaram a pressão sobre os outros redutos do Exército Sírio Livre (ESL), particularmente Rastan, a 20 km de Homs, que foi declarada cidade livre em 5 de fevereiro. Rastan é submetida a um intenso bombardeio pelo Exército do regime de Assad.
Damasco de Assad desafia oposição, Primavera e Ocidente
Após derrubar os governos de Tunísia e Egito e de sobreviver a uma guerra na Líbia, a Primavera Árabe vive na Síria um de seus episódios mais complexos. Foi em meados do primeiro semestre de 2011 que sírios começaram a sair às ruas para pedir reformas políticas e mesmo a renúncia do presidente Bashar al-Assad, mas, aos poucos, os protestos começaram a ser desafiados por uma repressão crescente que coloca em xeque tanto o governo de Damasco como a própria situação da oposição da Síria.
A partir junho de 2011, a situação síria, mais sinuosa e fechada que as de Tunísia e Egito, começou a ficar exposta. Crise de refugiados na Turquia e ataques às embaixadas dos EUA e França em Damasco expandiram a repercussão e o tom das críticas do Ocidente. Em agosto a situação mudou de perspectiva e, após a Turquia tomar posição, os vizinhos romperam o silêncio. A Liga Árabe, principal representação das nações árabes, manifestou-se sobre a crise e posteriormente decidiu pela suspensão da Síria do grupo, aumentando ainda mais a pressão ocidental, ancorada pela ONU.
Mas Damasco resiste. Observadores árabes foram enviados ao país para investigar o massacre de opositores, sem surtir grandes efeitos. No início de fevereiro de 2012, quando completavam-se 30 anos do massacre de Hama, as forças de Assad iniciaram uma investida contra Homs, reduto da oposição. Pouco depois, a ONU preparou um plano que negociava a saída pacífica de Assad, mas Rússia e China vetaram a resolução, frustrando qualquer chance de intervenção, que já era complicada. Uma ONG ligada à oposição estima que pelo menos 7,6 mil pessoas já tenham morrido, número similar ao calculado pela ONU.
Com informações adicionais da agência AFP