Macron defende Zelensky e diz que 'verdadeira ditadura está na Rússia'
Em Paris, os presidentes Emmanuel Macron e Volodymyr Zelensky destacaram nesta segunda-feira (1°) que qualquer acordo de paz envolvendo territórios, ativos russos congelados, garantias de segurança, adesão à União Europeia e sanções depende da participação de Kiev e de seus aliados europeus. O líder ucraniano afirmou ainda que quer discutir com o presidente norte-americano Donald Trump os pontos-chave do plano de Washington para encerrar a guerra com a Rússia, considerados complexos, enquanto Macron alertou que a "verdadeira ditadura está na Rússia".
"Quando se fala de garantias de segurança, não se pode discutir ou negociar sem que os ucranianos, donos do território, estejam à mesa, e sem que os europeus e todos os aliados da 'coalizão de voluntários' também estejam presentes, já que são os garantidores e porque se trata da segurança da Europa", disse Emmanuel Macron durante coletiva de imprensa no Palácio do Eliseu, ao lado do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
O plano de paz atualmente em negociação não está finalizado, especialmente em relação aos territórios, ativos russos congelados, garantias de segurança, adesão à União Europeia e sanções europeias. "Só o presidente Zelensky pode finalizar a questão dos territórios", disse Macron, insistindo que os europeus devem participar das discussões. "Estamos ainda em uma fase preliminar", explicou Macron, acrescentando que mediadores norte-americanos se deslocarão a Moscou nas próximas horas.
Zelensky, pressionado politica e diplomaticamente, chegou a Paris para reforçar o apoio europeu antes de uma reunião entre o enviado norte-americano Steve Witkoff e o presidente russo Vladimir Putin. A visita ocorre depois que as forças russas registraram em novembro sua maior ofensiva em um ano, com 701 km² avançados sobre territórios ucranianos, segundo análise da AFP com base nos dados do Instituto norte-americano para Estudos da Guerra (ISW) e do Critical Threats Project (CTP). O presidente ucraniano acusou a Rússia de intensificar suas ofensivas para "quebrar os ucranianos".
"A questão do dinheiro, da reconstrução (...) sem a presença dos parceiros europeus não é fácil. É difícil porque os recursos estão na Europa, e eu acho que isso não é muito justo", declarou Zelensky durante a coletiva de imprensa em Paris.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, reforçou que a Europa não aceitará uma "paz imposta" à Ucrânia. "Nenhuma decisão sobre a Ucrânia ou a Europa sem os ucranianos e sem os europeus, nenhuma paz imposta às suas costas, nenhum enfraquecimento ou divisão da União Europeia e da Otan", declarou após reunião por telefone com líderes da Ucrânia, França, Reino Unido e Polônia.
"Não cabe à França dar lições à Ucrânia"
Sobre a questão da corrupção que afeta o governo ucraniano, Macron também comentou o recente escândalo que levou à renúncia do poderoso chefe de gabinete Andriï Iermak. "Estamos muito vigilantes. É natural sermos exigentes quando ajudamos financeiramente e apoiamos o esforço de guerra. Mas vejo que a luta contra a corrupção está funcionando, com decisões abertas e políticas sendo tomadas", disse.
"Nunca se veria isso na Rússia, porque está lá a verdadeira ditadura, onde não existem entidades independentes para controlar esses assuntos", declarou o presidente francês, que reafirmou ainda seu "apoio e amizade a Zelensky diante da situação".
Por fim, Zelensky reiterou que a Rússia não deve ser recompensada por sua invasão e afirmou que deseja conversar com Donald Trump sobre as "questões-chave" do plano norte-americano para encerrar a guerra, consideradas difíceis, incluindo especialmente os territórios ucranianos ocupados pelos russos.
Com AFP