Irmã de brasileira morta na Itália denuncia descaso policial
Família lançou 'vaquinha' para repatriar corpo de Jéssica
A irmã de Jéssica Stappazzollo, brasileira morta com 27 facadas pelo companheiro em Castelnuovo del Garda, na Itália, denunciou um suposto descaso da polícia local antes e depois do feminicídio, que chocou o país europeu pela extrema brutalidade.
Jéssica foi assassinada pelo também brasileiro Douglas Reis Pedroso no fim de outubro, em um caso que reacendeu o debate sobre a proteção às mulheres em situação de risco e sobre a atuação das autoridades diante de alertas de violência doméstica.
Em entrevista à ANSA, Laiza Stappazzollo afirmou ter sido atacada por Pedroso em 28 de dezembro de 2024, quando ele tentou arrancar a roupa dela e foi impedido pelo namorado da jovem.
Após fugir, Laiza decidiu acionar a polícia, a quem também relatou episódios de violência do homem contra Jéssica.
"Eu denunciei ele por mim e por ela também, mas não funcionou. Não fizeram nada. Estávamos esperando uma decisão judicial em setembro, mas isso nunca aconteceu", contou.
Apesar da denúncia, Pedroso não foi preso e continuou agredindo Jéssica com frequência, segundo o relato da irmã, que acusou a polícia de se mostrar insensível diante do sofrimento da família.
"Os agentes entraram na casa da minha mãe às 5h da manhã, disseram 'sua filha está morta' e foram embora. Minha mãe quase sofreu um AVC", relatou. Laiza também contou que recebeu um telefonema de policiais "aos gritos" para ela ir até a delegacia.
A jovem de 22 anos recordou momentos marcantes ao lado de Jéssica, 33, que sempre fez de tudo por ela e a tratava como uma filha, mesmo tendo duas crianças pequenas: um menino entre 11 e 12 anos e uma menina de nove.
Segundo Laiza, a irmã já não tinha mais forças nem cabeça para denunciar Pedroso e acabou permanecendo na casa onde ambos moravam, pois não tinha outro lugar para ir, apesar de ter avisado a todos que já havia alugado um quarto.
"Na nossa cabeça, ela estava bem, trabalhando normalmente, mas ela ainda estava na casa com ele", enfatizou. Diante da tragédia, a família lançou uma campanha de arrecadação online para custear a repatriação do corpo de Jéssica para o Brasil.
"O pai da Jéssica [as duas eram irmãs por parte de mãe], que mora no Brasil e também está aqui, não queria ir embora sem ela. Decidimos fazer o funeral na Itália e depois levar o corpo para o Brasil", explicou Laiza.
Segundo ela, se os restos mortais fossem cremados na Itália, o custo seria de apenas 25 euros (R$ 154), mas como a família paterna deseja enterrar o corpo em Içara, cidade natal de Jéssica em Santa Catarina, será necessário desembolsar aproximadamente R$ 60 mil.
"Agora estou tentando fazer algo para mudar a lei. Não dá para ficar parada, porque minha irmã morreu há apenas uma semana e, há dois dias, outra garota de 13 anos também morreu. Duas vítimas de feminicídio", ressaltou Laiza.