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Irã avalia rever cooperação com agência de energia atômica

Governo de Teerã tem recuado de compromissos no pacto em reação às sanções impostas pelos EUA depois que Trump tirou o país do acordo

19 jan 2020 - 20h09
(atualizado às 20h14)
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O Irã vai rever sua cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) se for alvo de "medidas injustas", advertiu neste domingo, 19, o presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, após França, Alemanha e Reino Unido acionarem na semana passada um mecanismo do acordo nuclear de 2015 para acusar formalmente o Irã de desrespeitar o tratado - e abrir caminho para a reimposição de sanções.

Líder supremo do País, aiatolá Ali Khamenei, é quem tem a última palavra sobre questões de Estado, como o impasse nuclear entre Teerã e o Ocidente
Líder supremo do País, aiatolá Ali Khamenei, é quem tem a última palavra sobre questões de Estado, como o impasse nuclear entre Teerã e o Ocidente
Foto: Site oficial de Ali Khamenei / Reuters

"Nós declaramos abertamente que se as potências europeias, por qualquer razão, adotarem um caminho injusto e usarem o mecanismo de disputas, nos reconsideraremos nossa cooperação com a agência nuclear da ONU", disse Larijani, segundo a TV estatal.

O governo de Teerã tem gradualmente recuado de seus compromissos no pacto em reação às sanções impostas pelos Estados Unidos depois que, em 2018, o presidente Donald Trump tirou o país do acordo nuclear. O Irã disse na semana passada que poderia abandonar os limites no enriquecimento de urânio, apesar de continuar cooperando com a AIEA, que fiscaliza o cumprimento do acordo nuclear e cujos inspetores têm acesso às instalações atômicas iranianas.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, arquiteto do pacto nuclear, tem reiterado que os passos que o Irã tem dado em seu programa nuclear podem ser revertidos se a economia iraniana for protegida das sanções econômicas dos EUA.

Segundo o acordo firmado entre o Irã e as maiores potências - Rússia, China, Alemanha, França, Reino Unido, União Europeia e EUA - o governo iraniano concordou em reduzir seu programa nuclear em troca do levantamento das sanções internacionais contra a República Islâmica.

Alemanha, Reino Unido e França disseram desejar que o acordo nuclear seja bem-sucedido e negaram ter cedido à campanha de pressão dos EUA. Um dia após os três países acionarem o mecanismo de resolução de disputas - do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) - o jornal The Washington Post publicou na quarta-feira que os EUA tinham ameaçado adotar uma tarifa de 25% sobre os automóveis europeus se o mecanismo que pode reimpor as sanções não fosse acionado. A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que realmente os EUA fizeram tal ameaça, mas os países não cederam à pressão e já vinham estudando usar o mecanismo.

Na quarta-feira, Rohani disse que ao acionar o mecanismo de disputa, Reino Unido, França e Alemanha "colocaram o acordo nuclear na UTI". O presidente do Irã também fez uma ameaça aos europeus: "Hoje, o soldado americano está em perigo, amanhã o soldado europeu pode estar em perigo", afirmou Rohani, sem dar mais detalhes.

Um grupo de deputados iranianos firmou ontem uma declaração advertindo as potências europeias a "para com suas ações hostis" com relação a Teerã, disse a agência semioficial Tasnim. "Caso contrário, nós, representantes do Irã, decidiremos se o país deve permanecer no acordo nuclear ou se mantém sua cooperação com a AIEA."

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, não o Parlamento, é quem tem a última palavra sobre questões de Estado, como o impasse nuclear entre Teerã e o Ocidente.

A agência Tasnim não informou quantos deputados assinaram a declaração, que também pediu ao governo considerar a redução de seus laços diplomáticos com o Reino Unido, após funcionários iranianos acusarem o enviado britânico a Teerã de participar dos protestos contra o governo do Irã, algo que ele negou.

Os iranianos vêm protestando contra o governo desde que um avião da Ukraine International Airlines foi derrubado por um míssil do Irã por engano. O governo inicialmente disse que não tinha nada a ver com a queda, que matou as 176 pessoas a bordo, mas quatro dias depois admitiu que era responsável pelo acidente. O míssil foi disparado contra o avião horas após Teerã lançar um ataque contra bases no Iraque usadas pelas tropas americanas em represália ao assassinado em Bagdá ordenado por Trump do general Qassim Suleimani, comandante das Forças Quds. / REUTERS, AFP

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Estadão
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