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Índia segue seus próprios interesses e mantém boas relações com a Rússia, afirma diplomata francês

Em viagem à Índia, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu nesta sexta-feira (5) que continuará a fornecer petróleo ao país, apesar das sanções impostas pelos Estados Unidos a Nova Délhi, sob a alegação de que essas importações financiam a guerra na Ucrânia. Em entrevista à RFI, o diplomata Maxime Lefebvre explica que a Índia mantém uma posição independente, autônoma e defende os seus próprios interesses.

5 dez 2025 - 15h27
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Em encontro com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o líder russo Vladimir Putin destacou a parceria comercial entre os dois países. "A Rússia é um fornecedor confiável de petróleo, gás, carvão e tudo o mais necessário para o desenvolvimento energético da Índia", disse Putin.

"Estamos prontos para continuar o fornecimento ininterrupto de petróleo para a economia indiana, que está em rápido crescimento", acrescentou diante dos jornalistas, após uma reunião com o anfitrião.

Sem mencionar explicitamente o petróleo russo, Modi agradeceu ao convidado pelo "apoio inabalável à Índia", acrescentando que "a segurança energética é um pilar importante e forte" da parceria entre os dois países.

Pressão dos EUA

Há vários meses, a Índia vem sofrendo pressão dos Estados Unidos, que a acusam de financiar a ofensiva militar russa na Ucrânia ao continuar comprando petróleo bruto de Moscou a preços particularmente vantajosos.

"A Índia tem uma posição independente, autônoma, segue os seus próprios interesses e mantém boas relações com a Rússia", explica Maxime Lefebvre, diplomata e professor de Relações Internacionais do Instituto de Geopolítica da ESCP Business School, em entrevista à RFI.

No final de agosto, Donald Trump impôs uma tarifa de 50% sobre as exportações indianas, em meio a negociações bilaterais para a assinatura de um acordo de livre comércio. O presidente dos EUA reiterou que obteve de Narendra Modi a promessa de acabar com as importações de petróleo bruto russo, que representam 36% do petróleo refinado na Índia.

Nova Délhi nunca confirmou, mas suas compras diminuíram, segundo a plataforma de informações comerciais Kpler, e diversas empresas indianas anunciaram que estão deixando de comprar petróleo de Moscou.

Maxime Lefebvre diz não se surpreender com a decisão do governo indiano de continuar a comprar petróleo russo, apesar das ameaças de Washington de represálias aos países que continuassem a negociar petróleo com Moscou.

"Não é uma posição contra os Estados Unidos, nem a favor da Rússia", explica Lefebvre.

"A Índia não tem interesse em seguir a posição ocidental, seja em termos de condenação da guerra na Ucrânia, seja sobre as sanções europeias. Mas também não está completamente alinhada com a Rússia", continua.

Narendra Modi recebeu Vladimir Putin com todas as honras, pessoalmente, na noite de quinta-feira (4), no aeroporto de Nova Délhi. Os dois líderes participaram de um jantar privado. Desde o início desta visita, eles trocaram elogios e enfatizaram a excelente relação histórica entre seus dois países.

Modi cumprimentou Putin como um "verdadeiro amigo" e expressou otimismo quanto a uma resolução pacífica do conflito russo-ucraniano. "Todos devemos encontrar o caminho de volta à paz", insistiu.

Vladimir Putin agradeceu: "Obrigado pelos seus esforços para encontrar uma solução para esta situação", respondeu, elogiando também as relações "historicamente profundas" e o "altíssimo nível de confiança na cooperação militar e técnica" entre a Índia e a Rússia.

Esperava-se que os dois países aproveitassem esta visita para expandir sua cooperação em defesa. Embora a Índia tenha recentemente recorrido a outros fornecedores — incluindo a França — e esteja priorizando armas de produção própria, Moscou continua sendo um de seus fornecedores de armamentos preferenciais.

Após confronto militar com o Paquistão em maio, Nova Délhi manifestou interesse na compra de novos mísseis terra-ar russos S-400. "Não há dúvida de que este assunto será discutido durante a visita" de Putin, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, antes da viagem.

A imprensa indiana também destacou o interesse das forças armadas indianas no caça russo de quinta geração Su-57.

Modi e Putin desejam reequilibrar as relações comerciais entre seus países - um recorde de US$ 68,7 bilhões para 2024-2025 - que atualmente beneficia imensamente a Rússia.

Posição de neutralidade

Até o momento, a Índia evitou condenar abertamente a invasão da Ucrânia, ao mesmo tempo em que conseguiu manter seus laços com a Europa e os Estados Unidos.

Narendra Modi só se manifestou publicamente em 2022, durante um encontro no Uzbequistão com Vladimir Putin, exigindo o fim da guerra "o mais rápido possível".

Desde então, ele reiterou repetidamente seu compromisso com uma ordem mundial "multipolar" e resistiu aos apelos ocidentais para se distanciar da Rússia.

Maxime Lefebvre lembra que a Índia tem mantido uma posição de neutralidade nas resoluções da ONU.

Além disso, durante a Guerra Fria, após a independência, "a Índia se tornou um motor do que chamamos de países não alinhados", explicou o professor do Instituto de Geopolítica da ESCP à RFI. "A Índia teve um comportamento especial durante a Guerra Fria e isso é algo destacado na diplomacia indiana", aponta.

O analista geopolítico lembra que a administração do democrata Joe Biden conseguiu realinhar seus parceiros em torno do campo ocidental, em contraposição à China.

A Índia fazia parte do Quad (em inglês: Quadrilateral Security Dialogue), um fórum estratégico informal com os Estados Unidos, Japão, Austrália.

"Biden conseguiu integrar a Índia em torno de relações ocidentais, mas a partir do momento em que Donald Trump se torna mais isolacionista, nacionalista e protecionista, ele pode despertar o antagonismo da Índia", alerta o diplomata.

"A Índia defende um multilateralismo baseado no respeito à soberania, no princípio de não ingerência e não quer receber lições", aponta Lefebvre, lembrando que o país "tem relações complicadas com a China, por exemplo, mas é capaz de negociar, de cooperar, mesmo que não esteja alinhada sobre todos os assuntos".

"São relações de Estados soberanos, que não são necessariamente alinhados, mas guiados por seus próprios interesses nacionais", finaliza.

O retorno de Putin à Rússia está previsto para a noite desta sexta-feira.

(Com RFI e AFP)

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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