Médicos residentes anunciam greve no Reino Unido, em meio à supergripe e explosão de internações
Médicos residentes no Reino Unido anunciam uma greve em meio à pior temporada de gripe em décadas no país. A explosão de internações deixa o sistema público de saúde britânico (NHS) em alerta máximo. Quase 40 mil consultas, cirurgias e até tratamentos de câncer foram cancelados.
Yula Rocha, correspondente da RFI em Londres
O inverno no hemisfério norte marca o início da circulação de doenças respiratórias, mas, este ano, os casos de gripe começaram ainda no outono - quatro ou cinco semanas mais cedo - e já atingem o patamar normalmente visto em janeiro. Só na semana passada, as hospitalizações aumentaram 55%.
A supergripe, como está sendo chamada no país, não é muito mais severa; no entanto, a cepa da influenza A mais comum em circulação, a H3N2, já passou por mutações, facilitando o contágio entre uma população que ainda não está imune. Essa variante, a K, também foi a causa da pior temporada de gripe na Austrália este ano. Muitos países da Europa continental, como a Alemanha, também enfrentam aumento no número de casos.
Greve de médicos residentes aumenta pressão
O governo do primeiro-ministro Kier Starmer tentou, mas não conseguiu impedir que os médicos residentes avançassem com uma paralisação de cinco dias a partir de quarta-feira (17). Eles representam quase metade da força de trabalho nos hospitais e consultórios do país; por isso, a greve terá um impacto imenso no sistema de saúde, justamente num momento de sobrecarga com casos de gripe em alta. Quem está à frente dessa crise é o secretário de Saúde, Wes Streeting, considerado um político em ascensão e possível substituto do atual primeiro-ministro caso haja mudança no comando do Partido Trabalhista. Ele classificou a decisão do sindicato dos residentes como irresponsável, perigosa e um abandono dos pacientes em um momento de grande demanda.
Os residentes reivindicam melhores oportunidades para se tornarem especialistas, além de um aumento salarial de 26%. Esta já é a décima-quarta paralisação desde o início da disputa, em 2023.
A vulnerabilidade do NHS se arrasta há muito tempo. Os hospitais enfrentam um déficit tremendo de profissionais, falta de recursos, burocracia e medidas imigratórias cada vez mais rigorosas, que limitam a contratação de estrangeiros.
Prevenção e lições da Covid
A notícia do aumento dos casos de gripe está em todos os jornais britânicos diariamente, mas poucas pessoas usam máscara nos metrôs e ônibus lotados.
Do ponto de vista das políticas públicas, as orientações são conflitantes. O diretor do NHS, o sistema de saúde, foi taxativo: quem estiver com qualquer sintoma de gripe ou resfriado deve usar máscara em público. Já o primeiro-ministro apenas sinalizou que a população poderia considerar o uso. Algumas escolas reintroduziram medidas adotadas na Covid, reforçando aos alunos a importância de lavar as mãos. A faixa etária mais afetada é de cinco a 14 anos na Inglaterra, mas os casos mais graves ocorrem entre crianças pequenas e idosos.
A vacina contra essa variante da gripe ainda previne os casos mais severos, mas apenas 40% das pessoas que têm direito à imunização gratuita foram vacinadas. Por outro lado, muitas farmácias estão sem estoque para quem está disposto a pagar por uma dose - sinal de que há procura.
Os médicos alertam que o número de casos positivos e hospitalizações ainda não atingiu o pico, que normalmente ocorre após as festas de fim de ano e a volta às aulas em janeiro, quando todos já se misturaram em confraternizações em locais fechados por conta do frio. Além disso, há também os resfriados comuns e os casos de Covid, que têm sintomas parecidos e podem levar a complicações.