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"Discursos lembram Hitler", diz Papa sobre o nacionalismo

Entrevista com Francisco foi publicada no jornal "La Stampa"

10 ago 2019 - 13h32
(atualizado às 13h48)
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Em meio à crise política envolvendo o governo italiano, o papa Francisco fez dura crítica ao nacionalismo e disse que o populismo não é um reflexo da cultura popular. Em entrevista publicada nesta sexta-feira, no jornal italiano La Stampa, o Pontífice fez um apelo ao diálogo nas instituições europeias, recordou a necessidade de valorizar a unidade dos povos europeus sem renunciar a própria identidade e lamentou o surgimento do populismo.

"O nacionalismo é uma atitude de isolamento. Estou preocupado, porque ouvimos discursos que lembram os de Hitler em 1934. 'Primeiro nós. Nós... nós...': estes são pensamentos aterrorizantes", afirmou, sem nomear qualquer político. Jorge Bergoglio ressaltou que a "Europa não pode e não deve se fragmentar. É uma unidade histórica e cultural, além de geográfica".

Papa Francisco em Palermo, na Itália
15/09/2019 REUTERS/Guglielmo Mangiapane
Papa Francisco em Palermo, na Itália 15/09/2019 REUTERS/Guglielmo Mangiapane
Foto: Reuters

A fala do Papa vem no momento em que o governo italiano vive uma crise que pode provocar a ruptura da coalizão entre a Liga e o Movimento 5 Estrelas (M5S), protagonizada pelo vice-premier e ministro do Interior Matteo Salvini. Salvini, que se diz amigo do premier húngaro Viktor Orban e da líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, reivindica pertencer a uma "frente nacionalista".

"Um país deve ser soberano, mas não fechado. A soberania deve ser defendida, mas as relações com outros países, com a Comunidade Europeia, também devem ser defendidas. O nacionalismo é um exagero que acaba sempre mal: leva a guerras", acrescentou o líder argentino. Já em relação ao populismo, o Santo Padre explicou que esta prática também "fecha as nações". "O povo é soberano (tem seu jeito de pensar, de se expressar e de sentir, de avaliar), mas os populismos nos levam ao nacionalismo: esse sufixo, 'ismos', nunca faz bem", reforçou.

No bate-papo conduzido por Domenico Agasso, o líder da Igreja Católica também falou também sobre a Amazônia, o meio ambiente e imigração, um dos principais desafios que os países europeus enfrentam atualmente. Ele indicou que, na hora de agir, é importante não perder de vista o direito à vida. "Os imigrantes chegam principalmente para escapar da guerra ou da fome, do Oriente Médio ou da África. Sobre a guerra, devemos nos comprometer e lutar pela paz. A fome afeta principalmente a África", afirmou.

Por fim, o Papa disse que o próximo Sínodo sobre a Amazônia, que acontecerá em outubro, no Vaticano, é uma resposta da Igreja Católica a preocupações religiosas e ambientais, em uma região decisiva para a sobrevivência da humanidade. "Não é uma reunião de cientistas ou de políticos. Não é um parlamento: é outra coisa. Nasce da Igreja e terá missão e dimensão evangelizadora. Será um trabalho de comunhão conduzido pelo Espírito Santo", explicou.

Segundo Francisco, a "ameaça à vida das populações e do território decorrem dos interesses econômicos e políticos dos setores dominantes da sociedade". Para o argentino, a desmatamento da maior floresta do mundo significa "matar a humanidade".

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