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Matteo Salvini, o 'amigo' de Bolsonaro que pode estar próximo de comandar a Itália

O partido direitista e nacionalista de Salvini está liderando com folga pesquisas de opinião, principalmente por sua agenda contra a imigração ilegal.

10 ago 2019 - 08h48
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Salvini defende que divergências dentro de coalização se tornou inviável
Salvini defende que divergências dentro de coalização se tornou inviável
Foto: ALBERTO PIZZOLI/AFP / BBC News Brasil

Matteo Salvini, líder do partido italiano a Liga, se manifestou a favor de eleições antecipadas. Sua justificativa: lidar com as diferenças entre siglas aliadas se tornou inviável.

O mote para divergência está no projeto de um trem de alta-velocidade que ligaria a cidade italiana Turim à francesa Lyon e que hoje tem a oposição do movimento 5 Estrelas, que até agora integra o governo.

Luigi Di Maio, líder do 5 Estrelas, afirmou que seu partido não teme uma nova eleição.

O partido direitista e nacionalista de Salvini está liderando com folga pesquisas de opinião, principalmente por sua agenda contra a imigração ilegal.

A Liga apresentou uma moção de desconfiança (mecanismo previsto no parlamentarismo) no Senado para dar fim à coalização com o 5 Estrelas. Líderes partidários vão definir na segunda-feira uma data para debater a ação.

O Legislativo está em recesso, mas Salvini pediu que os parlamentares "se mexam" para avaliar a moção em dez dias legais.

Salvini também é muito ativo nas redes sociais e nelas desenvolveu a imagem de um "homem do povo", defendendo medidas como a diminuição de impostos, apesar da montanha de dívidas do país de €2,3 trilhões (cerca de R$ 10 trilhões), que fica apenas atrás da Grécia na União Europeia.

Na última eleição, o 5 Estrelas teve duas vezes mais votos que a Liga, mas pesquisas mostram que as proporções foram invertidas.

Já nas eleições europeias, realizadas em maio, a Liga ficou com 34% dos votos na Itália, e o 5 Estrelas cerca de 17%.

Túnel entre Turim e Lyon se tornou gota d'água na relação entre a Liga e o 5 Estrelas
Túnel entre Turim e Lyon se tornou gota d'água na relação entre a Liga e o 5 Estrelas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Giuseppe Conte, jurista que é hoje o primeiro-ministro da coalização, disse que Salvini, ministro do Interior, deve "justificar" ao Parlamento sua defesa por uma nova eleição.

Tanto Salvini quando Di Maio são vice-primeiros-ministros.

A autoridade para dissolver o parlamento é do presidente Sergio Mattarella, mas ele pode resistir a fazê-lo pois os parlamentares precisam deliberar sobre o orçamento de 2020.

A que a disputa se refere?

Disputas sobre o projeto do trem fizeram o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, suspender a licitação em março.

O multibilionário projeto TAV (Treno Alta Velocità) envolve abrir um túnel de 58km nos Alpes.

A iniciativa é amargamente rejeitada pelo 5 Estrelas por seu impacto ambiental e orçamentário.

Já a Liga argumenta que o projeto poderá criar empregos e estimular a economia, e que investir em ferrovias, e não em rodovias, é ambientalmente mais vantajoso.

Apoiadores da linha dizem ainda que a viagem entre as duas cidades ficaria em apenas duas horas; o trajeto entre Paris e Milão também passaria a durar quatro horas, em vez de sete - como é hoje.

O projeto foi lançado há cerca de 20 anos e uma parte já foi escavada. A conclusão está prevista para 2025.

O custo inicial projetado era de €8.6 bilhões (R$ 38 bilhões), mas o ministro dos Transportes Danilo Toninelli - membro do 5 Estrelas - diz que a conta final ficará em €20 bilhões (R$ 88 bilhões).

A União Europeia se comprometeu a financiar até 40% dos custos.

O que acontece agora?

"Vamos direto ao Parlamento para dizer que não há mais maioria... e depressa vamos nos voltar aos eleitores", defendeu Salvini na quinta-feira.

Di Maio rebateu, dizendo em nota: "Estamos prontos, não nos importamos em ocupar cargos no governo e nunca o fizemos".

A Liga e o 5 Estrelas têm dividido uma coalizão desconfortável, mas ambos chegaram ali juntos com um discurso anti-establishment.

O pedido de Salvini por uma eleição não significa necessariamente que ela será convocada no futuro próximo. A Itália não teve uma eleição de outono em todo o período do pós-guerra, segundo a agência de notícias Reuters.

O presidente Sergio Mattarella poderia teoricamente nomear um governo de tecnocratas e adiar uma nova eleição até o ano que vem.

A Itália já teve um governo tecnocrático antes, mas Salvini, que lidera uma onda de popularidade, pode se opor a essa medida.

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