As orcas abandonadas em parque temático fechado na França
Quando o ativista das redes sociais Seph Lawless invadiu o maior parque marinho abandonado da Europa, sua filmagem das orcas nadando passivamente em tanques repletos de algas criou grandes ondas na internet.
"Se isso demorar, elas vão morrer."
Isso foi o que pensou o ativista de redes sociais Seth Lawless, depois de ver de perto a situação de duas orcas no maior parque marinho abandonado da Europa.
Sua filmagem ali, após invadir o lugar, mostrando orcas nadando passivamente em tanques repletos de algas, teve grande repercussão na internet.
As orcas Wikie e Keijo eram queridas pelo público, mas não se apresentam desde que o parque Marineland em Antibes, no sudeste da França, fechou suas portas, em janeiro de 2025.
Cerca de 11 meses depois do seu fechamento, o vídeo viral de Lawless mostrando as orcas cativas no parque vazio foi visualizado mais de 33 milhões de vezes. Muitos questionam sobre o bem-estar daqueles mamíferos marinhos.
O Marineland declarou à BBC que "os animais estão em muito boa saúde e são muito bem cuidados". Mas o parque reconheceu que "a situação é preocupante e de extrema urgência", que existem "riscos para o bem-estar dos animais" e que o governo francês deveria assumir responsabilidade pela situação.
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Lawless contou que "as pessoas estão dispostas a tentar resolver esta situação e estão compartilhando como loucas na internet".
Ele diz que celebridades como a modelo Bella Hadid, o ator Joaquin Phoenix e a cantora Kacey Musgraves compartilharam a postagem.
"Não é rede social, é um movimento social", afirma ele.
Apenas três locais na Europa mantêm orcas em cativeiro, segundo a organização global Whale and Dolphin Conservation.
Um deles é o Marineland, operado pela empresa espanhola Parques Reunidos. Ela administra mais de 30 parques de diversão pelo mundo.
A Parques Reunidos fechou as portas do Marineland no início do ano, depois da aprovação de uma nova legislação na França em 2021. A nova lei sobre a crueldade animal proíbe a exibição de mamíferos marinhos em cativeiro, como baleias, botos ou golfinhos, a partir do final de 2026.
Com as dificuldades de transporte e cuidado de animais deste tamanho, o parque e as autoridades francesas não conseguiram encontrar um novo lar para as orcas.
A Parques Reunidos ainda está tentando transferir as baleias para o Loro Parque, um parque marinho alternativo na Espanha, mas as autoridades espanholas e francesas bloquearam as tentativas feitas no início deste ano.
Muitas ONGs criticaram o plano, já que Wiki e Keijo ainda poderiam acabar sendo usadas em apresentações.
O Loro Parque em Tenerife, nas ilhas Canárias, mantém quatro orcas em cativeiro, responsáveis pelo que o parque descreve como "apresentação educativa" para o público.
Em 2009, uma das orcas do zoológico, Keto, atacou um treinador durante o ensaio de uma apresentação, resultando na morte de Alexis Martínez, de 29 anos. Keto morreu em 2024; três outras orcas morreram ali entre março de 2021 e setembro de 2022.
O outro local europeu a abrigar uma orca em cativeiro é o Moskvarium, na Rússia. Naya, a orca residente do oceanário de Moscou, estava inicialmente em exibição com dois outros animais da espécie, que já morreram.
O homem responsável pela filmagem viral tem experiência em documentar espaços abandonados na internet.
Ele trabalha com o pseudônimo Seph Lawless (Lawless pode ser traduzido para o português como "fora da lei"). Na busca por conteúdo, ele burlou a lei em várias ocasiões.
"Acredito que, às vezes, é preciso desrespeitar a lei para fazer o que é certo", disse ele à BBC.
Ele se interessou em documentar o parque vazio quando descobriu que as baleias ainda ocupavam os tanques degradados.
"Imagine, baleias nascidas em cativeiro, é tudo o que elas conhecem", destaca ele.
"Elas divertem as pessoas, se enriquecem incrivelmente com os aplausos do público, os funcionários que estão ali, o barulho, os elogios... e, agora, isso foi tirado delas."
Lawless tinha entrado em contato com o Marineland pedindo autorização para filmar os animais.
"Quando eles disseram 'você não tem autorização para entrar' e encerraram as comunicações comigo, eu sabia que eles não queriam que eu visse o que eles estavam escondendo ali dentro."
Ele suspeitou da qualidade da água e da nutrição das orcas. Por isso, resolveu voar dos Estados Unidos para a França e checar de pessoalmente a situação dos animais.
Lawless invadiu o parque em três ocasiões para documentar as condições de vida de Wikie e Keijo.
Ele acredita que a filmagem obtida ilegalmente contradiz as afirmações do Marineland, de que as orcas estão sendo cuidadas adequadamente no parque fechado.
Durante sua visita mais recente, as orcas começaram a fazer as ações típicas de uma apresentação ao público.
"Talvez elas soubessem que eu estava ali para tentar ajudá-las", especula ele. "Talvez elas achassem apenas que eu era um treinador e quisessem comida?"
O Ministério de Transição Ecológica da França declarou que aguarda um relatório avaliando as condições das piscinas e do bem-estar dos animais.
O chefe de comunicações do Marineland também expressou à BBC sua preocupação com a qualidade das piscinas. Ele afirma que elas já atingiram o final da sua "vida útil".
"Os treinadores do Marineland ainda estão presentes no parque para garantir o bem-estar dos animais", destacou a empresa.
Lawless receia o pior para Wikie e Keijo. Eles precisam encontrar um novo lar antes que a legislação entre em vigor, em um ano. E ainda não há um plano claro definindo para onde eles irão.
"Quanto trabalho, logística, energia e dinheiro você acha que o governo francês ou o Marineland irão dedicar a duas baleias?