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América Latina

Polícia de Pinochet jogou 400 corpos no mar

23 nov 2003 - 17h28
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A polícia secreta da ditadura de Augusto Pinochet jogou no mar entre 1974 e 1978 os corpos de 400 presos políticos que atualmente estão incluídos na lista de detidos desaparecidos, publica hoje o jornal chileno La Nación. Os cadáveres foram jogados de helicópteros Puma por agentes da Dina, a polícia secreta, e por pilotos do Comando de Aviação do Exército nos chamados "vôos da morte".

Segundo o La Nación, esta é a principal conclusão à que chegou o juiz especial Juan Guzmán após ouvir os testemunhos de 12 mecânicos do Exército. O togado, que investiga mais de 200 denúncias contra o general Pinochet, interrogou os mecânicos na causa "Rua Conferência", com a qual tentou sem êxito solicitar a retirada de imunidade do ex-ditador para poder processá-lo.

Pinochet foi exonerado de todas as acusações em 2002 por sofrer de "demência incurável", segundo o Supremo Tribunal. Na ocasião, ele estava sendo julgado pelos 75 crimes perpetrados em outubro de 1973 pela comitiva militar conhecida como "Caravana da Morte". O caso "Rua Conferência" se refere ao desaparecimento de dez dirigentes do Partido Comunista do Chile em 1976.

O juiz processou seis oficiais aposentados, quatro deles pilotos do Exército, pelo assassinato e posterior lançamento ao mar do cadáver da líder comunista Marta Ugarte. O corpo de Ugarte apareceu na praia dos Molles, no norte de Santiago, após ter sido jogado no mar de um helicóptero Puma no final de 1976.

Embora este crime não seja parte do caso "Rua Conferência", a decisão tomada pelo juiz pode abrir um precedente com relação a esta e a outras causas, já que é a primeira vez que um magistrado processa militares que participaram dos "vôos da morte". O general aposentado Manuel Contreras, que foi chefe da Dina e que responde a processo pelo assassinato do ex-chefe do Exército Carlos Prats, em setembro de 1974 em Buenos Aires, foi processado como sendo o autor da morte de Ugarte, assim como o ex-titular da Brigada de Inteligência Metropolitana da Dina Carlos López.

Além disso, foi processado como cúmplice o ex-chefe do Comando de Aviação do Exército Carlos Mardones, assim como os pilotos do Exército Antonio Palomo, Oscar Vicuña e Luis Felipe Polanco, por terem encoberto o caso. A reportagem publicada pelo La Nación lembra que, quando foi detida em setembro de 1976 por agentes da Dina, Ugarte foi levada para o centro de tortura da Villa Grimaldi de Santiago, da mesma forma que outros 590 detidos que hoje estão desaparecidos. Por este motivo, a importância do testemunho dos mecânicos do Exército, cujas identidades não foram divulgadas, é que confirmam as suspeitas de que foram jogados no mar inclusive cadáveres exumados de prisioneiros.

Os enterros clandestinos e as exumações ilegais são uma das chamadas "verdades pendentes" em matéria de direitos humanos no Chile e com estas práticas se buscou ocultar a descoberta em massa de vítimas, uma vez recuperada a democracia em 1990. No marco da Mesa de Diálogo, uma instância que reuniu militares, representantes da Igreja Católica e do Governo entre agosto de 1999 e junho de 2000, as Forças Armadas entregaram um relatório ao presidente chileno, Ricardo Lagos, com dados sobre o paradeiro de 200 desaparecidos.

Embora a maioria destes antecedentes tenha resultados equivocados, neste documento os militares, pela primeira vez, reconheceram abertamente as violações aos direitos humanos perpetradas durante a ditadura. Além disso, admitiram que pelo menos 151 desaparecidos foram jogados ao mar e em rios ou lagos. Segundo o La Nación, a cifra seria muito maior, pois apenas os agentes da Dina teriam participado do lançamento de 400 corpos. A ditadura chilena deixou 3.197 vítimas, das quais 1.192 correspondem a detidos desaparecidos.

Fonte: EFE
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