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América Latina

Papa chega ao Paraguai, país dividido sobre o tema do aborto

Papa Francisco não tem fugido de temas polêmicos; na Bolívia, fez duras críticas ao capitalismo

10 jul 2015 - 15h11
(atualizado às 16h38)
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Com quase um quarto da população abaixo da linha de pobreza, o Paraguai, terceiro e último destino do papa Francisco em sua visita à América do Sul, é majoritariamente católico. Quase 90% de seus cidadãos consideram o papa como seu líder espiritual e o governo declarou feriado nacional na sexta e no sábado devido à visita.

Papa Francisco ao lado do presidente boliviano Evo Morales
Papa Francisco ao lado do presidente boliviano Evo Morales
Foto: EFE

O país é um bastião do catolicismo, apesar do avanço do secularismo e das igrejas evangélicas na maior parte do continente. No entanto, o pontífice também encontra uma sociedade profundamente dividida sobre o aborto, após o caso polêmico de uma garota de 10 anos que teria sido estuprada por seu padrasto e foi impedida de interromper a gravidez, apesar dos pedidos de sua mãe. O caso enfureceu ativistas pelo direito de abortar e esquentou o debate em um país que luta contra altos índices de violência contra a mulher, de abuso de crianças e de casos de gravidez de menores de idade.

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O papa deverá ser questionado sobre estes assuntos, e os detalhes de suas respostas serão importantes, já que a Igreja Católica se opõe ao aborto, em teoria, em todos os casos. Não é a primeira vez que o papa argentino enfrentará assuntos espinhosos durante esta "viagem de volta para casa", que está sendo marcada por gestos simbólicos e discursos inflexíveis.

Na Bolívia, ele condenou o que chamou de "novas formas de colonialismo" das sociedades modernas e pediu a rejeição do consumismo atual. "O novo colonialismo tem diferentes faces. Às vezes, ele aparece como a influência anônima de mamon (termo bíblico usado para descrever dinheiro ou riqueza material): corporações, agências de empréstimo, certos tratados de livre comércio e a imposição de medidas de austeridade", disse o papa, em um encontro com movimentos populares na quinta-feira.

Capitalismo 'desenfreado'

Falando na Bolívia, o país mais pobre da América do Sul, o papa Francisco pediu a criação de uma nova ordem econômica global, em que os países menos desenvolvidos não atuem mais como meros provedores de mão de obra barata e matérias-primas. "Estamos percebendo que este sistema nos impôs uma mentalidade de lucro a qualquer custo, sem preocupação com a exclusão social ou com a natureza", disse, durante uma missa a céu aberto em Santa Cruz, no sudeste da Bolívia.

O papa Francisco já desdenhou do capitalismo, da especulação financeira e da ideologia do livre mercado antes – assim como seus antecessores João Paulo 2º e Bento 16 –, mas seus comentários na Bolívia foram a crítica mais forte do tipo até hoje. Desde que foi eleito, em 2013, o pontífice já falou sobre assuntos políticos e religiosos delicados: desde pedir o fim dos conflitos no Iraque e na Síria até uma mensagem de acolhida a homossexuais católicos.

Muitos o veem como um humilde reformista e progressista. Céticos e críticos, no entanto, dizem que parte de seus pronunciamentos é apenas retórica vazia, e que Francisco deveria estar fazendo mais para lidar com a crise interna da Igreja e o acobertamento escandaloso de padres supostamente envolvidos em casos de abuso sexual.

Política dos pobres

A viagem do papa de 78 anos para a América do Sul também é uma declaração de posicionamento: ele quis visitar três países pequenos e frequentemente relegados a segundo plano, em vez de ir às grandes potências da região, como o Brasil ou a Argentina, em um continente marcado pelas relações entre política e religião.

É, afinal, o continente onde nasceu a teologia da libertação, um movimento ligado à esquerda que interpretava a fé cristã pelas lentes dos pobres e pedia que os católicos se envolvessem em mudanças políticas e estruturais fundamentais. Francisco, no entanto, nunca fez parte da teologia da libertação e já fez críticas a aspectos do movimento, que atingiu seu ápice durante o final dos anos 1960 e os anos 1970, em meio a ditaduras militares em diversos países do continente. Muitos o consideram uma forma de "marxismo cristão". Mas esta preocupação pela ordem política e econômica mundial – e pelos pobres – faz parte do novo papado desde seu início.

'Por favor, perdoem'

Durante a turnê pelos países latino-americanos, o papa também fez um gesto de reconciliação: ele pediu perdão por todas as atrocidades cometidas séculos antes naqueles países em nome da Igreja Católica. "Digo isso com pesar: muitos pecados graves foram cometidos contra os povos nativos da América em nome de Deus", disse à multidão.

Desde sua chegada ao continente, em 1500, colonizadores espanhóis e portugueses avançaram sobre os territórios ocupados por nativos, com a bênção da Igreja Católica, dizimando populações, destruindo parte de seus territórios e forçando sua conversão à fé católica.

João Paulo 2º já havia se desculpado aos povos indígenas do continente pela "dor e sofrimento" causados durante a colonização, durante uma visita à República Dominicana em 1992. Agora, o papa pediu ao povo boliviano, em sua maioria indígena, que perdoe os "pecados do passado", uma mensagem que ecoou no Paraguai e no Equador, outros dois países com forte herança indígena pelos quais passou em sua turnê.

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