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A polêmica 'caminhada da vergonha' para punir turistas acusados de crimes em ilha indonésia

20 dez 2016 - 11h12
(atualizado às 12h09)
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Recentemente, dois turistas tiveram que desfilar pelas ruas da ilha Gili T com cartazes dizendo: "Sou ladrão. Não faça o que eu fiz..!"; A foto foi divulgada na página da ilha indonésia no Facebook
Recentemente, dois turistas tiveram que desfilar pelas ruas da ilha Gili T com cartazes dizendo: "Sou ladrão. Não faça o que eu fiz..!"; A foto foi divulgada na página da ilha indonésia no Facebook
Foto: Facebook/reprodução

Fotos de dois turistas ocidentais acusados de roubo desfilando em uma "caminhada da vergonha" pelas ruas de uma pequena ilha da Indonésia tomaram conta das redes sociais na semana passada e despertaram um debate sobre esse tipo de punição.

As imagens mostram um homem e uma mulher estrangeiros - possivelmente australianos - caminhando escoltados por policiais na ilha de Gili Trawangan.

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Eles tinham cartazes pendurados no pescoço com os dizeres em inglês: "Sou ladrão. Não faça o que eu fiz...!!!"

O costume de humilhar em público os acusados de cometerem crimes é antigo em Gili, um arquipélago de três pequenas ilhas, situado na costa noroeste da Indonésia, a apenas 40 quilômetros de Bali.

A origem exata dessa prática, no entanto, não está clara.

Depois que as fotos apareceram nas redes sociais, inclusive na página oficial das ilhas Gili no Facebook, surgiram várias dúvidas de internautas sobre o ritual, chamado de "humilhante". E a BBC tentou respondê-las.

O que é a "caminhada da vergonha"?

O chefe do departamento de Turismo da província de West Nusa Tenggara, Lalu Muhamad Fauzal, disse à BBC que a prática de promover o desfile dos acusados de terem cometido crimes nas ilhas surgiu a partir de um acerto entre os moradores e a polícia.

Seria uma forma de desestimular a prática de crimes.

A maior parte das "caminhadas da vergonha" acontece na ilha Gili Trawangan, mais conhecida como Gili T, a maior e mais populosa das três ilhas do arquipélago.

Diferentemente da vizinha Bali, que atrai turistas de todo o mundo, as ilhas Gili são bem menores e consideradas seguras e pacíficas.

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Uma volta completa na ilha Gili T é uma caminhada de apenas sete quilômetros.

Por que é feita a "caminhada da vergonha"?

Não há policiamento permanente nas pequenas ilhas Gili T, Gili Meno ou Gili Air.

O patrulhamento das ilhas é feito por seguranças privados com apoio da polícia da capital, Jacarta, quando necessário.

Na "caminhada da vergonha" dos turistas, a maior parte da escolta parece ser de seguranças privados e apenas um deles veste uniforme da polícia indonésia.

"Como não há policiamento na nossa pequena ilha paradisíaca, temos nossas próprias regras para lidar com ladrões. Se alguém é pego roubando, ele ou ela tem que desfilar pela ilha", disse à BBC a responsável pela página da ilha no Facebook, identificada apenas como Karina.

"Depois a pessoa é expulsa da ilha e não pode voltar durante alguns anos".

Os turistas seriam australianos e foram acusados de roubar uma bicicleta, principal meio de transporte na ilha Gili T.
Os turistas seriam australianos e foram acusados de roubar uma bicicleta, principal meio de transporte na ilha Gili T.
Foto: Oji Nuria Manggala

"É para advertir as pessoas de que elas não podem visitar um país estrangeiro e levar o que quiserem sem consequências", acrescentou, manifestando o sentimento generalizado nas ilhas de que a prática é justa e eficaz.

"Nunca soube de alguém que tenha sido acusado injustamente e desfilado numa caminhada da vergonha".

Fauzal concorda que as caminhadas são responsáveis pela redução da taxa de criminalidade da ilha e pela sua reputação de ser mais segura do que a vizinha Bali.

Ele acrescenta que a maior parte das pessoas que desfilam são moradores, embora existam casos envolvendo turistas estrangeiros que ficaram bêbados ou "foram forçados a roubar" porque ficaram sem dinheiro.

Isso não é ilegal?

Não está claro se há uma base jurídica para as "caminhadas da vergonha", mas geralmente o acusado evita uma punição mais severa.

Observadores sugerem que a vergonha e a expulsão da ilha é preferível a uma batalha nos tribunais indonésios e à possibilidade de uma multa ou punições piores, já que o país tem leis muito rigorosas e adota a pena de morte.

Só em 2015, o país executou 14 pessoas por tráfico de drogas, entre eles diversos estrangeiros - incluindo os brasileiros Rodrigo Gularte e Marco Archer Cardoso Moreira.

Oji Nuria Manggala, que assistiu ao recente desfile dos dois turistas, disse à BBC que os guardas que os acompanhavam contaram que os estrangeiros tinham sido flagrados por câmeras de vigilância quando roubavam uma bicicleta e não puderam negar a acusação.

No entanto, não foi possível identificar e localizar os dois para confirmar as acusações ou saber se eles tiveram oportunidade de se defender.

Quais são os seus direitos?

Essa forma aparentemente pouco sofisticada de se fazer justiça tem surpreendido alguns pela pouca preocupação com a privacidade dos acusados e as regras do processo legal tradicional.

Moradores ouvidos pela BBC disseram não ter dúvidas sobre a legitimidade da "caminhada da vergonha".

Outros sugeriram que mesmo os inocentes acabam por escolher essa forma de humilhação pública para não terem de enfrentar acusações formais no sistema de justiça da Indonésia - muitas vezes criticado por falta de transparência e corrupção.

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