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Moro terá 'carta branca' para comandar a Justiça, diz Bolsonaro

Em coletiva nesta quinta-feira, presidente eleito diz que juiz da Lava Jato irá ter autonomia total e receberá partes de outras autarquias, como o Coaf

1 nov 2018 - 17h41
(atualizado às 19h11)
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SÃO PAULO E RIO - O presidente eleito Jair Bolsonaro disse em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 1, que o juiz federal Sérgio Moro terá carta branca para comandar o Ministério da Justiça, que terá sob seu comando outros órgãos de controle, como "parte" do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Ele disse também que "se o PT está reclamando da nomeação, eu fiz a coisa certa". Advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva devem entrar com um pedido de habeas corpus para soltá-lo, usando como argumento a nomeação de Moro. Segundo eles, isso caracterizaria parcialidade do juiz.

"Foi decisão difícil, ele (Moro) vai abrir mão da carreira dele", disse Bolsonaro. É um soldado que está indo a guerra sem medo de morrer."

O presidente eleito disse ainda que a Lava Jato continuará atuante mesmo sem Moro no comando da 13º Vara de Curitiba. Bolsonaro também disse que o juiz segue cotado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) desde que ele tenha um substituto no MJ.

Questionado se Moro será um "xerife" de seu governo, o presidente eleito respondeu: "Se você quiser dar esse nome para ele..." Ainda de acordo com Bolsonaro, Moro teve o mérito, durante a Operação Lava Jato, de "colocar na cadeia gente que não pensou que passaria 10 minutos por lá."

"O trabalho dele muito bem feito. Em função do combate à corrupção, da Operação Lava Jato, as questões do mensalão, entre outros, me ajudou a crescer politicamente falando".

Bolsonaro abordou outros temas na transição na coletiva. Ele confirmou que deve desistir da união dos Ministério da Agricultura e do Meio Ambiente depois de setores do agronegócio terem alertado para o risco de sanções comerciais. "Não tenho problema de voltar atrás, mas será um ministro do Meio Ambiente do Bolsonaro", disse. "Não vai ter trabalho de xiita no meio ambiente."

O presidente confirmou a intenção de transferir a Embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém e disse que pretende fechar a representação diplomática nos territórios palestinos. "Temos respeito por Israel e pelo Mundo Árabe, não queremos problema com ninguém", disse.

Bolsonaro disse também que irá para Brasília na terça-feira discutir a transição, mas voltará na quinta. Segundo ele, a bolsa de colostomia ainda lhe impõe restrições. Ele passará por cirurgia para retirá-la em 12 de dezembro.

"Se eu for mal, todos no Brasil vão pagar um preço muito alto"

Jair Bolsonaro também disse que espera ver a Reforma da Previdência aprovada ainda este ano no Congresso, ainda que não seja exatamente a que ele gostaria. "Não é a proposta que eu quero, a que o Paulo Guedes quer, é aquela que pode ser aprovada pela Câmara", afirmou.

Ele declarou que será possível aproveitar quadros do governo Michel Temer (MDB) na área econômica, sem citar nomes. A decisão será de seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

"Estamos no mesmo barco. Não quero fazer nada para mim. Se eu for mal, todos no Brasil vão pagar um preço muito alto. Ninguém quer fazer maldade com ninguém, mas algumas reformas temos que fazer. Não queremos nos transformar numa Grécia", declarou o ex-capitão, depois de mencionar o caso dos privilégios de militares.

Ele disse também que em seu governo "as Forças Armadas não ficarão relegadas a segundo plano, como ficou no governo Fernando Henrique Cardoso e do PT."

Afirmou também que seus ministros terão de cumprir metas. Para a área da economia, enumerou: "Inflação, taxa de juros, valor do câmbio, buscar reduzir dívida interna sem aumentar carga tributária". Ele evitou traçar meta para redução do desemprego.

Sobre a presidência da Câmara e do Senado disse que é preciso ter "humildade" e ceder espaço para aliados, desde que haja garantia de liberação da pauta para os projetos do governo.

Bolsonaro comentou ainda a proposta do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), um aliado, de "abater" criminosos armados de fuzil. "Temos que dar retaguarda jurídica ao policial. Se você faz isso, estimula a bandidagem a agir contra quem está do lado da lei. Não podemos deixar que o ativismo por parte de uns condene esses policiais."

Bolsonaro contou que sua próxima cirurgia será dia 12 de dezembro. Na terça-feira, 6, de manhã, irá do Rio para Brasília, com retorno na quinta-feira, 8.

Ele deu entrevista em sua casa, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Repórteres de jornais, como o Estado, a Folha de S. Paulo, Valor O Globo foram barrados. Os nomes de quem podia entrar estavam numa lista lida à entrada por uma policial federal de sua segurança. Perguntado por repórteres sobre isso, ele disse que não barrou ninguém. "Eu tenho consideração por vocês. Não mandei restringir ninguém."

Bolsonaro diz não saber precisar quando Moro foi chamado para o governo

O presidente eleito também disse não saber exatamente que dia foi feita a sondagem ao juiz Sérgio Moro para que ele assumisse o Ministério da Justiça e da Segurança Pública. O contato foi feito pelo economista Paulo Guedes, seu futuro ministro da Economia, afirmou. "Não tem nada a ver se foi uma semana antes das eleições, um dia antes", declarou, quando perguntado sobre a declaração de seu vice, general Hamilton Mourão, de que Moro foi procurado "há algumas semanas."

Bolsonaro descreveu assim o contato entre eles: "Eu nunca estive com Sérgio Moro até seis meses atrás, num encontro no aeroporto. Apertei a mão dele. Ele apertou a minha mão e foi embora. Bateu um papo comigo. Logicamente ficou meio estranha aquela situação. Mas 15 dias depois, ele ligou para mim e falei quase 20 minutos com ele. Eu estava no Piauí. Foi desfeito o mal-entendido. Falei que ele tinha que ter comportamento como aquele mesmo, porque afinidade com política poderia dar margem para críticas futuras."

E continuou: "Fora isso, nunca conversei ou apertei a mão dele. Tenho profundo respeito por ele, o que me fez, acabando as eleições, convidá-lo para a gente bater uma papo e, quem sabe, acertar a vinda dele para a Justiça, o que ele aceitou. Assim como estava aberta a questão do Supremo (Tribunal Federal), no futuro". Pressionado a detalhar como feito o convite, disse que foi "Paulo Guedes que conversou com ele" e que não sabia da declaração de Mourão.

Sobre os desejados crescimento da economia e criação de empregos, Bolsonaro declarou querer estimular o turismo: "Por que o Brasil não está entre os 40 países que mais recebem turista no mundo?."

Perguntado sobre a relação com a imprensa, disse que quem vai definir a sobrevivência de meios de comunicação é a população.

Estadão
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