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Guilherme Mazieiro

Tensão, silêncio e alívio: como foi a votação que manteve deputado preso por caso Marielle

Maioria do plenário da Câmara votou pela manutenção da prisão de Chiquinho Brazão, apontado como um dos mandantes do assassinato de Marielle

11 abr 2024 - 05h00
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Freixo acompanha votação tensa que manteve Brazão preso por caso Marielle: 'Alívio e justiça':

“Não vai dar. Com esse quórum baixo não vai dar, vão soltar o Brazão”, a fala que trazia mais tensão do que desânimo vinha do ex-deputado federal Marcelo Freixo (PT-RJ). O atual presidente da Embratur acompanhava, das últimas fileiras do plenário da Casa, a sessão que manteve Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) preso na noite da quarta, 10. Freixo era amigo e trabalhou com Marielle Franco no Rio de Janeiro.

Brazão é apontado pela Polícia Federal como um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em 2018. Ele foi preso por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e cabia à Câmara avaliar se a medida seguiria em vigor ou não.

Freixo acompanhava a votação junto com o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP). Eles consideravam abstenções e faziam projeções sobre como votariam as bancadas do centro e à direita. Seriam necessários 257 votos para que Brazão permanecesse na cadeia.

O clima era de tensão. Ainda que cheio (quórum de 475 presentes, sem contar assessores, jornalistas e servidores), o plenário da Câmara se mostrava calado em vários momentos. São raríssimos esses silêncios para um plenário que habitualmente é tão barulhento.

Em alguns momentos, o silêncio era quebrado com partidos à esquerda e da base de Lula (PT) levantando faixas pedindo a prisão de Brazão. Parte dos parlamentares do Centrão (siglas como PP, União Brasil e Republicanos), aliados à oposição bolsonarista, pressionaram silenciosamente pela soltura de Brazão. O argumento trazia ares de legalidade: “A prisão não se justifica”. Mas o objetivo era dar um recado ao STF e diminuir os poderes da Corte para prender parlamentares. Nessa história, Brazão era só mais uma peça, poucos se importavam de verdade com ele.

Chiquinho Brazão
Chiquinho Brazão
Foto: Reprodução/Agência Brasil

Segundo relatos de parlamentares à coluna, foram mínimas as defesas com cunho pessoal pela soltura de Brazão. O caso mais citado é o da deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ). Ao longo dos últimos dias, a parlamentar levava aos colegas argumentos jurídicos e apelos dizendo que o conhece desde os 6 anos de idade e que acredita na inocência dele. A parlamentar é filha do ex-presidente da Câmara que patrocinou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), Eduardo Cunha, e que é aliado de longa data da família Brazão.

Enquanto políticos se preparavam para votar e enchiam o plenário, um parlamentar ligou para Kim perguntando, aos risos, como justificar que mudaria do voto ‘não’ pelo ‘sim’ da soltura de Brazão. Kim riu de volta e disse: “Não sou eu que vou saber te convencer, você que prometeu para o Elmar que ia votar pela soltura”. O nome do parlamentar que ligou não foi revelado.

Elmar é Elmar Nascimento (União Brasil-BA), homem forte do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) e cotado para sucedê-lo na função em 2025.

Líder do União Brasil, o baiano pediu internamente que sua bancada de 58 deputados voltasse pela soltura de Brazão. Não conseguiu converter todos os votos, e, no partido, 16 votaram "sim". Chamou atenção que ele não fez a mesma defesa no microfone, quando poderia orientar o voto para todos ouvirem, preferiu a discrição e votou pela soltura de Brazão.

Pouco antes das 19h, quando a votação estava prestes a começar, o líder do governo, José Guimarães (PT-CE), estimava que seriam 10 votos a mais do que o necessário para manter Brazão preso. O burburinho tomava conta do plenário conforme os parlamentares chegavam. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), com acordo das lideranças partidárias, fez uma sessão rápida, sem discursos e falas ou tentativas de manobras regimentais.

Se desvencilhando das cadeiras no fundo da Câmara em direção ao centro do plenário, o relator do pedido para manter a prisão de Brazão, Darci de Matos (PSD-SC), passou por Freixo e o deputado Kim Kataguiri, dizendo que, nos seus cálculos, havia uma “gordura” de 10 votos para manter a prisão de Brazão.

“É muito pouco, não dá para cravar resultado nenhum hoje”, respondeu Kim, que votou pela manutenção da prisão de Brazão. Freixo emendou dizendo que é difícil cravar resultados em votações assim. Ele mesmo tinha falado com lideranças parlamentares ao longo do dia para medir o termômetro da votação, mas não sabia o que esperar do placar.

Darci subiu ao púlpito para dar o posicionamento pela prisão. Na sequência, o advogado de Brazão, Cleber Lopes, defendeu o cliente pedindo a soltura dele.

No momento da revelação do resultado, o silêncio era absoluto. Dos 475 presentes, 435 votaram. Desses, 277 carimbaram a permanência do parlamentar no presídio. Outros 129 foram pela soltura, 28 se abstiveram. O placar agitou o plenario, e a tensão se esvaziou nos gritos dos deputados e deputadas da esquerda invocando o mantra repetido há 6 anos: “Marielle, presente!” e “Anderson, presente!”.

Enquanto os deputados gritavam “Justiça”, Lira pediu silêncio para proclamar oficialmente o resultado.

“O sentimento é de Justiça. O parlamento não se rebaixou. [Essa votação] significa que o Parlamento não pode misturar os papéis. Não cabia ao Parlamento atropelar uma investigação tão séria da Polícia Federal e a decisão de uma turma do STF de 5 a 0 [pela prisão]. Sentimento de alívio importantíssimo”, disse Freixo enquanto Lira finalizava a leitura do protocolo para fechar a sessão.

“Quem votou contra, perdeu. A gente tá falando de um duplo homicídio. Que bom que a maioria deste Parlamento teve a consciência do que lhe cabe. Muito bom”, disse o ex-deputado deixando o plenário.

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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