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Guilherme Mazieiro

Brasileiro em Gaza filma bombardeiro ao lado de casa e diz: 'As crianças choram o dia inteiro'

Palestino naturalizado brasileiro, Hasan Rabee, conta como é viver na Faixa de Gaza sob intensos bombardeios de Israel

19 out 2023 - 09h34
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Vídeo de brasileiro mostra bombardeio em Khan Younis, na Faixa de Gaza, nesta quinta, 19
Vídeo de brasileiro mostra bombardeio em Khan Younis, na Faixa de Gaza, nesta quinta, 19
Foto: Reprodução/Hasan Rabee

Vivendo sob bombardeios na Faixa de Gaza há 12 dias, o palestino naturalizado brasileiro Hasan Rabee conversou com a coluna sobre a situação que enfrenta com a família. Ele viajou para a região visitar familiares antes da escalada do conflito entre Israel e o Hamas. Junto da mulher e duas filhas, Rabee é um dos cerca de 30 brasileiros que aguardam a abertura da fronteira com o Egito para ser repatriado pelo governo. Rabee relatou a dificuldade para conseguir alimentos, o medo de estar na zona de guerra e registrou imagens de um bombardeio nesta quinta, 19, há poucos metros da casa em que está.

“Ainda não há chance para gente sair hoje, não tem informação da abertura de fronteira. Mesmo que o voo presidencial já esteja no Egito, infelizmente não há nenhuma notícia ou aviso de que a gente vai sair, nem hoje nem amanhã. À noite [teve] bastante ataque na cidade de Khan Younis e Rafah, bastante gente morta, feridos”, disse Rabee em vídeo.

Brasileiro que vive em Gaza registra explosão ao lado de casa: 'Não existe lugar seguro':

Ele está na cidade de Khan Younis, mais ao sul de Gaza, próximo à fronteira do Egito. É nesta região em que a população de Gaza tenta se abrigar dos ataques, depois de Israel anunciar que intensificaria os bombardeios na região Norte de Gaza. Em cidades como Khan Younis e Rafah estão os cerca de 30 brasileiros que tentam deixar a área palestina.

No início da tarde desta quinta em Israel, Rabee registrou e narrou cenas que mostra fumaça de um bombardeio. "Agora, agora, bombardeio ao lado da casa. Não existe lugar seguro na Faixa de Gaza", relatou.

“O que me deixa muito triste, as crianças choram o dia inteiro, mais de 12 dias estão em casa fechadas, não pode sair, não pode entrar. Elas ficam chorando [e pedindo] ‘papai vamos ao shopping, queremos passear’. E a gente está tentando fazer atividade aqui, mas o barulho das bombas e o ataque que eles ouviram não ajuda muito. As coisas estão bem complicadas mesmo”, disse Rabee.

Desde que Israel iniciou uma contra-ofensiva a Gaza, em resposta aos ataques do Hamas que mataram cerca de 1 mil civis em 7 de outubro, há dificuldade para palestinos buscarem comida, água, remédio e terem energia. As conversas que a coluna teve com Hasan Rabee, por exemplo, acontecem por WhatsApp quando ele consegue sinal de internet e tem bateria no celular para responder.

“Continuamos sem água, sem luz, comida limitada, as padarias bem lotadas para comprar pão, alimentação muito difícil. A gente [está] com bastante esperança de sairmos da Faixa de Gaza, mas, infelizmente, até esse momento, nada”, contou.

Em um outro vídeo enviado por Rabee é possível ver uma escola que é usada como abrigo por palestinos. 

“Escolas da ONU continuam lotadas, cidadãos usam como abrigo. O que mais chama atenção é esse lixo que está na rua, parece um terror. Bastante mosquito e bactérias, não sei como vai ficar”, relatou Rabee.

Repatriação

Desde a escalada do conflito entre o Hamas e Israel, o governo Lula (PT) trabalha para repatriar brasileiros que estão na região. Segundo o Itamraty informou, a Força Aérea Brasileira (FAB) realizou seis voos, até esta quinta-feira, 19, e repatriou 1.135 brasileiros retirados de Israel. O último voo chegou em São Paulo nesta madrugada, com 219 passageiros.

A maior dificuldade na operação está na retirada dos cerca de 30 brasileiros e familiares que estão na Faixa de Gaza. A diplomacia busca entendimento junto a países vizinhos como Líbano e Egito para conseguir a abertura da fronteira e dar sequência à retirada.

Uma aeronave da Presidência posou hoje no Egito para entregar uma carga de doação humanitária com 40 purificadores de água e dois kits de medicamentos para atender até 3 mil pessoas ao mês. 

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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