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Enclave hippie em Copenhague se revolta contra narcotráfico

7 abr 2024 - 18h36
(atualizado em 8/4/2024 às 04h57)
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Fartos da violência do crime organizado, moradores da comunidade de Christiania se juntam à polícia para remover pavimentação de rua onde drogas eram vendidas livremente. Bairro passará por extenso projeto de renovação.O famoso enclave hippie de Christiania, no coração de Copenhague, é considerado há décadas um refúgio da contracultura e um paraíso libertário. A Pusher Street, rua central da comunidade conhecida pelo mercado de drogas, é particularmente popular entre os turistas.

Munidos de pás e pés-de-cabra, residentes arrancaram paralelepípedos para abrir caminho para um projeto de restauração
Munidos de pás e pés-de-cabra, residentes arrancaram paralelepípedos para abrir caminho para um projeto de restauração
Foto: DW / Deutsche Welle

Nos últimos anos, porém, o crime organizado vem assumindo cada vez mais o controle, e Christiania passou a ser atormentada pela violência do narcotráfico.

Os moradores da comunidade se cansaram da situação. Neste sábado (06/04), eles se juntaram à polícia, à prefeita de Copenhague e ao ministro da Justiça da Dinamarca para recuperar a Pusher Street da mão dos traficantes.

Munidos de pás e pés-de-cabra, os locais arrancaram os paralelepípedos da rua para abrir caminho para um projeto de restauração. Enquanto pegavam pedras pesadas e as jogavam em carrinhos de mão, uma por uma, houve aplausos comemorativos e gritos de "Christiania!".

Conhecidos como Christianites, os moradores já haviam tomado a decisão drástica de fechar a rua em agosto passado, depois que o enclave registrou seu quarto assassinato em três anos.

A porta-voz local, Hulda Mader, disse à agência de notícias AFP que a Pusher Street havia "se deteriorado" e "realmente não era um lugar muito agradável".

Ela mencionou a violência entre os traficantes, que sempre davam um jeito de reerguer as barracas de haxixe depois que elas eram removidas. "Eles brigam entre si, brigam com as pessoas e são violentos", contou Mader.

A prefeita de Copenhague, Sophie Haestrop Andersen, disse que o compromisso dos cerca de mil moradores de Christiania foi crucial para os planos de renovação. "É a primeira vez que eles se unem e concordam em tomar uma posição contra o aumento da criminalidade e da insegurança em seu bairro."

A remoção dos paralelepípedos é o primeiro passo para integrar a comunidade à capital dinamarquesa. Em seguida, a cidade instalará uma nova infraestrutura de água e saneamento e repavimentará a rua.

O governo dinamarquês fez uma oferta de 14,3 milhões de coroas dinamarquesas (cerca de R$ 10,6 milhões) em financiamento de renovação, condicionado à remoção e ao banimento da venda organizada de haxixe.

Coletivo antiautoritário e ímã turístico

Fundada em 1971, a "Cidade Livre de Christiania" surgiu como um lugar que "pertence a todos e a ninguém", com as decisões sobre a organização da vida na então abandonada base naval sendo tomadas coletivamente.

O enclave se tornou um ícone de vida coletiva de espírito livre, onde carros e policiais não eram permitidos, o governo tinha influência limitada - os residentes desrespeitavam os códigos de construção e frequentemente se recusavam a pagar as contas de serviços públicos - e a maconha era ilegal, mas, mesmo assim, tolerada.

A droga era cada vez mais vista como um espinho por parte dos sucessivos governos, muitas vezes colocando os residentes e as autoridades em conflito. Ainda assim, o bairro foi a atração turística mais popular da capital durante décadas.

"Cerca de cinco ou dez anos atrás, eram principalmente locais - mas agora vemos que são principalmente as gangues e as gangues de motoqueiros que movimentam esse mercado de drogas", afirmou o chefe de polícia de Copenhague, Simon Hansen. Cada vez mais, essas gangues entram em conflito violento com as forças de segurança.

A polícia da capital disse que fez cerca de 900 prisões relacionadas a drogas em 2023.

Moradores prontos para um "novo capítulo"

Os residentes mais velhos de Christiania - um quarto tem mais de 60 anos - dizem esperar que, ao se livrarem do flagelo das gangues de drogas, possam começar um "novo capítulo" e retornar aos ideais que um dia moldaram a idílica comunidade.

"Vamos pintar os prédios, reconstruí-los e todo tipo de coisa", disse Hulda Mader. "Queremos ser associados ao que éramos antes... arte, cultura e peças de teatro tornando esse um lugar agradável para as pessoas virem e relaxarem."

Os moradores afirmam ainda que esperam capitalizar a tradição do enclave e seu belo ambiente de vegetação, água e fachadas coloridas.

Outro elemento do plano de renovação é a construção de moradias para cerca de 300 novos residentes, com início previsto para 2027. Os moradores dizem que esperam atrair famílias jovens com crianças.

ek/md (DW, AFP, AP, ots)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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